DEBANDADA PSB VIRA OPOSIÇÃO E QUER RENÚNCIA

Catarina Alencastro

Manoel Ventura

21/05/2017

 

 

Sigla, sexta maior bancada da Câmara, decide apoiar proposta de antecipar eleições diretas

Em reunião da Executiva do partido, o PSB — sexta maior bancada da Câmara — decidiu partir para a oposição e pedir a renúncia do presidente Michel Temer. Para a cúpula da sigla, Temer perdeu as condições de governar e deve abrir mão do cargo. O PSB também resolveu que irá fechar questão em favor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do deputado Miro Teixeira (Rede-RJ) que antecipa as eleições diretas para presidente da República, que já vem sendo apelidada de “emenda das Diretas já”. Pela Constituição, em caso de vacância da cadeira de presidente a menos de dois anos do fim do mandato, tem de ser feita uma eleição indireta na qual apenas deputados e senadores votam. O presidente do partido, Carlos Siqueira, disse que, se o ministro Fernando Coelho Filho (Minas e Energia) quiser continuar na pasta, terá de abandonar o PSB.

— A decisão de hoje é de primeiro sugerir ao presidente que, para facilitar a solução para o nosso país, que ele renuncie o mais rápido possível. Segundo, assinamos o impeachment contra o presidente Temer com outros partidos. Terceiro, nós também somos favoráveis a que a solução pósvacância do cargo seja estritamente dentro da Constituição, nos termos atuais ou nos que venham a ser modificados pelo Congresso Nacional para viabilizar uma eleição direta para a Presidência da República, que seria o ideal. O povo precisa entrar em cena. A crise é muito grande, e é de todo o sistema político — disse Siqueira.

— (O presidente) perdeu as condições de governar o país — emendou o secretário-geral do PSB, Renato Casagrande.

O PSB já ensaiava sair do governo desde o fim do mês passado, quando resolveu fechar questão contra as reformas trabalhista e da Previdência. A orientação do partido, no entanto, não foi cumprida por todos, e, no dia da votação da reforma trabalhista no plenário da Câmara, o partido rachou: dos 35 deputados, 14 desobedeceram à sigla e votaram a favor do projeto. Na quinta-feira passada, o partido também se juntou a um grupo de cinco siglas da oposição em um pedido coletivo de impeachment.

Numa reunião que durou quase quatro horas, o PSB ficou em dúvida sobre a determinação para Coelho Filho pedir demissão, mas acabou decidindo que sua saída do governo é fundamental.

— Se o partido pediu o impeachment do presidente a quem ele serve, se o partido pede a renúncia, o que ele está fazendo lá? Já deveria ter saído. Politicamente é um equívoco continuar em um governo moribundo como esse — disse Siqueira.

A decisão foi tomada por unanimidade. Na nota que o partido divulgou para justificar esse passo, Siqueira diz que Temer perdeu de forma “irremediável” as rédeas da governabilidade. E que uma solução para a crise é urgente: “É inevitável, nestas circunstâncias, que o sistema político e a sociedade civil, até mesmo para preservar níveis mínimos de coesão, se ponham em busca de soluções, emergindo neste contexto o que seria a alternativa mais simples e natural, ou seja, a grandeza da renúncia, quando se caracteriza o esgotamento da governabilidade”.

 

PTN E PPS NO MESMO CAMINHO

Desde a revelação pelo GLOBO da delação do dono da JBS, que gravou Temer, outros partidos decidiram abandonar o Palácio do Planalto. O PTN já se declarou como oposição, e o PHS se reunirá para cravar uma posição que tende a ser nesse sentido. O PPS, que tinha dois ministérios, chegou a se manifestar pela renúncia de Temer e entregou um dos ministérios, o da Cultura, até quinta-feira comandado por Roberto Freire.

Principal pilar de sustentação do governo depois do PMDB (partido de Temer), o PSDB adotou postura cautelosa, diante do novo pronunciamento do presidente. O partido vai ser reunir hoje para avaliar a situação do governo.

— O partido vai se reunir ainda. Temos reunião da bancada hoje (ontem) em São Paulo, e amanhã (hoje) teremos uma reunião do diretório nacional, para fazer uma avaliação — disse o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP).

Para parlamentares tucanos, o presidente adotou acertadamente a estratégia de atacar o dono da JBS, Joesley Batista, que teria cometido crimes e escapou da Justiça. A sigla quer dar o direito de defesa ao presidente, e mantém a avaliação de que as acusações sobre Temer são muito graves. No fim do dia, o ministro Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores) divulgou uma nota criticando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, avaliando que o ministro não tinha competência jurídica para homologar a delação do dono da JBS e que caberia ao pleno do tribunal “pôr ordem na casa”.

Já o DEM, outro aliado vital do Palácio do Planalto, seguiu linha semelhante à dos tucanos, optando por aguardar as repercussões jurídicas do pedido de suspensão do inquérito feito por Temer.

— O presidente da República exerceu o seu direito de defesa. E tomou uma atitude que a defesa dele agasalha, de questionar no STF a legitimidade e a legalidade dos áudios. É um direito dele. Ele fez um pronunciamento enérgico. Vamos agora aguardar a manifestação do STF — disse o presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN).

No DEM, a orientação é conversar com outros partidos importantes da base , para evitar tomar qualquer decisão sem apoio dos aliados.

— A avaliação é que o momento é de cautela. Não é hora nem de botar o pé no acelerador, nem de puxar o freio — disse o senador.

O globo, n.30603 , 21/05/2017. PAÍS , p. 6B