CPI é arma de Temer e do PMDB depois de delação

Eduardo Barretto e Leticia Fernandes 

25/05/2017

 

 

Presidente articula reação contra a JBS na primeira reunião com a bancada no Senado pós-gravação

-BRASÍLIA- Acuado, o presidente Michel Temer chamou a bancada do PMDB no Senado e discutiu ontem no Palácio do Planalto uma reação do Congresso à delação da JBS. A mais importante é a instalação de uma investigação parlamentar contra a empresa. Ontem mesmo, foi protocolado na Câmara o pedido para instalar a CPI. Integrantes da bancada ruralista recolheram as assinaturas e contabilizavam o apoio de cerca de 200 parlamentares. Para prosperar, a comissão precisa do apoio de 171 deputados.

No encontro, houve duras críticas à atuação do Judiciário e à resistência do líder do partido no Senado, Renan Calheiros, em relação às reformas previdenciária e trabalhista. Temer voltou a se defender das acusações e reafirmou que “jamais” cogitou renunciar.

Um dos presentes no encontro resumiu o tom como “apoio ao governo e caça ao Renan”. Segundo um assessor, a linha de defesa do presidente, que consiste em atacar a “gravação clandestina”, foi interpretada por congressistas como um recado: com grande número de parlamentares investigados, eles também podem ser pegos de surpresa. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, foi criticado, e o Poder Judiciário foi chamado de “tirano”.

"ATÉ DEZEMBRO DE 2018”

A reunião teve a presença de 17 dos 22 senadores peemedebistas. Este é o primeiro encontro com uma bancada de parlamentares no Palácio do Planalto desde a divulgação da conversa de Temer com Joesley Batista. Ficou acertado que haverá uma reunião no próprio Senado para avaliar se Renan será sacado da liderança. O líder do governo na Casa, Romero Jucá, foi um dos que ressaltaram esse desconforto: ele teria dito que Renan é seu amigo, mas que a posição de Calheiros chegou a um nível prejudicial. Horas depois, Renan e Jucá tiveram um embate áspero na tribuna do Senado.

Ao fim de mais de quatro horas de reunião, Temer brincou com a bancada do PMDB no Senado:

— Até dezembro de 2018 — riu, citando o período do fim do seu mandato, mostrando que pretende cumpri-lo.

 

O globo, n. 30607, 25/05/2017. País, p. 9