Título: Anonymous ataca no país
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 22/01/2012, Economia, p. 15

Entre os alvos do grupo de hackers, estão os sites do GDF e da cantora Paula Fernandes

Os protestos na internet contra o fechamento do Megaupload, um dos maiores sites de compartilhamento de conteúdo do mundo acusado de pirataria digital, chegaram ao Brasil. Mais precisamente ao Distrito Federal. Na madrugada de ontem, o grupo Anonymous, que nos últimos dias tem assumido a autoria de invasões às páginas do FBI (a Polícia Federal dos Estados Unidos), do Departamento de Justiça norte-americano e da Universal Music, anunciou ter derrubado sites do governo local. A assessoria do GDF afirmou que a equipe técnica identificou a presença dos hackers por volta de 1h40 e decidiu, antes que o sistema fosse invadido, retirá-lo do ar.

A página da cantora Paula Fernandes e o site da Presidência da França também foram alvo de invasores. Durante a madrugada, dados pessoais do diretor do FBI, Robert Mueller, e de sua família, como endereços e números de celular, foram publicados em redes sociais. Os ataques têm como pano de fundo dois projetos de lei que tramitam no Congresso dos Estados Unidos, mas podem influenciar a internet no mundo. Um deles, conhecido pela sigla Sopa (Parem a Pirataria On-line, na sigla em inglês) proíbe ferramentas de busca de exibir sites de download ilegal. O outro, chamado de Pipa (Protejam a Propriedade Intelectual), estabelece medidas judiciais contra provedores de internet, empresas de pagamento e redes de publicidade que façam operações com as páginas duvidosas. Os autores de ambos os projetos já recuaram em um item considerado abusivo: o bloqueio arbitrário de sites considerados infratores. Até a Casa Branca classificou as propostas originais como um possível atentado à liberdade de expressão. Depois do fechamento do Megaupload, na quinta-feira, e da prisão do fundador, o alemão Kim Schimtz, também conhecido como Kim Dotcom, e de outros executivos, os protestos se intensificaram, levando o Congresso dos EUA a suspender a apreciação dos projetos. Um dia antes da operação que prendeu Dotcom, grandes sites já haviam promovido um "apagão digital", liderado pela enciclopédia on-line Wikipédia.

Equívoco

Em defesa dos projetos, estão grandes conglomerados da música e do cinema, que consideram a falta de leis rígidas um estímulo ao crime. Na avaliação de Sérgio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC e membro do Comitê Gestor da Internet no Brasil, a avaliação de empresários e artistas não passa de um "equívoco". "No século 18, não fazia sentido falar de propriedade sobre a música, o que só ocorreu quando surgiu a possibilidade de gravação. Quando o meio técnico muda, mudam também as relações de propriedade", disse. A Associação Brasileira dos Produtores de Discos, que congrega gravadoras, e a Associação Antipirataria de Cinema e Música foram procuradas pelo Correio, mas não retornaram.

Amanhã, Kim Dotcom e os demais presos por integrarem o Megaupload participarão de uma audiência para discutir o valor da fiança. As acusações incluem conspiração para roubo de propriedade intelectual, extorsão e lavagem de dinheiro. A pena total pode chegar a 25 anos de prisão.