Na Hebraica do Rio, Bolsonaro ganha protestos e aplausos

Cristian Klein

04/04/2017

 

 

Com gritos de "O Brasil quer paz, tortura nunca mais!", "Vergonha!", "Não em meu nome!" e cartazes como "Fora fascista, racista, Boçal-naro", manifestantes da comunidade judaica do Rio protestam contra o deputado federal e pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSC-RJ), à frente da Hebraica, clube onde o parlamentar faz palestra ontem à noite para cerca de 500 pessoas.

Portando uma estrela de David amarela no peito, com a inscrição Gay, o músico Gian Fabra, 51, afirmava ter mulher e uma filha de 5 anos, e que a menção aos homossexuais e a identificação que os judeus receberam dos nazistas poderia simbolizar qualquer minoria. "Poderia ser preto, maconheiro, qualquer minoria que esse imbecil repudia, inclusive os judeus", disse.

Presidente do clube carioca, Luiz Mairovitch, 50, afirmou que Bolsonaro é um "ícone" e que várias palestras ainda serão organizadas. A segunda será com o ex-deputado federal e ex-secretário de Segurança Marcelo Itagiba. "O clube é apartidário, mas essas pessoas que protestam nem são sócios. A Hebraica tem 65 anos e já recebeu de Golda Meir e Shimon Peres ao Roberto Carlos."

Dentro do clube, Bolsonaro teve recepção calorosa e foi aplaudido pela plateia. Seu filho, o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSC-RJ), fez a introdução da palestra, iniciada com um vídeo de viagem a Israel, classificando-a como um divisor de águas para ele e o pai.

Antes da palestra, em entrevista ao Valor, Bolsonaro disse que pretende sair do PSC até março - por uma janela de troca de partido ou pela criação de uma nova legenda, para evitar perder o mandato por infidelidade partidária.

Durante a palestra, lembrou que já ouviu alguém lhe criticar por não saber economia. "O Brasil está cheio de economistas entendidos e olha como está a economia!", disse, para emendar em seguida que "um país sem segurança não faz a economia andar".

Bolsonaro negou informação de que o economista Delfim Netto seria seu nome preferido para o Ministério da Fazenda, caso eleito. Afirmou que escolher o ex-titular da pasta durante o regime militar "só se for no além". "Só falta enterrar, já está morto", disse.

O clima ficou quente quando uma ouvinte reagiu no momento em que Bolsonaro listava os adjetivos com que costuma ser chamado pelos críticos: xenófobo, misógeno, homofóbico. A mulher completou, gritando: "Fascista!". Sua oposição não foi tolerada pela plateia, que começou a hostilizá-la. "Quer ficar, fica calada!", "É petista!", diziam.

Sentindo-se dono da situação, Bolsonaro aumentou o tom virulento do discurso contra a "minoria que está ruminando aqui do lado", numa referência à mulher que o criticara. Durante o relato da viagem à Israel, Bolsonaro disse que tinha visitado o país com três dos seus cinco filhos, quando foi corrigido por Flávio, lembrando da meia-irmã que estava presente. "É verdade, eu tenho cinco filhos. Dei uma fraquejada e depois veio uma mulher."

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4228, 04/04/2017. Política, p. A10.