O Estado de São Paulo, n. 45003, 03/01/2017. Economia, p. B1

Balança comercial fecha ano com superávit recorde de US$ 47,7 bilhões

Saldo é o maior já registrado desde o início da série histórica, em 1989, mas foi conseguido basicamente graças a um forte recuo de 20,1% das importações, fruto da recessão econômica; para este ano, governo projeto um superávit parecido com o de 2016

Por: Anne Warth

 

A balança comercial brasileira teve um saldo positivo de US$ 47,7 bilhões no ano passado, o melhor resultado da série histórica iniciada em 1989. O recorde anterior era de 2006 e somava US$ 46,4 bilhões. O montante é resultado de exportações de US$ 185,2 bilhões e importações de US$ 137,5 bilhões, de acordo com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).

O saldo recorde, porém, foi conseguido principalmente graças a um forte recuo de 20,1% nas importações. A exportações também recuaram, mas bem menos: 3,5%. Na avaliação do economista Rafael Bistafa, da consultoria Rosenberg Associados, o saldo ficou positivo por causa da recessão, que se aprofundou, e do câmbio, que continuou depreciado em relação ao dólar. “Foi um aumento do saldo pela via dolorosa”, afirmou.

Para o secretário de Comércio Exterior e Serviços do MDIC, Abrão Neto, a balança comercial deve registrar neste ano um superávit semelhante ao de 2016. Mas, segundo ele, tanto as exportações quanto as importações devem aumentar neste ano. “Não vamos fechar uma base de comparação exata ainda. Pode ser acima de US$ 50 bilhões, mas prevemos um patamar semelhante, entre US$ 47 bilhões e US$ 48 bilhões”, disse.

A projeção leva em conta um câmbio médio de R$ 3,40. No ano passado, a taxa média do dólar foi de US$ 3,48, disse. Já Bistafa, da Rosenberg, projeta um superávit um pouco menor, em torno de US$ 40 bilhões, com alta de 7,5% nas importações e de 1% nas exportações.

Volume. Apesar da queda na receita com exportações, no ano passado o País bateu recorde na quantidade de mercadorias vendidas ao exterior, com 645 milhões de toneladas, alta de 2,9% em relação a 2015. Foi o sétimo aumento anual consecutivo. Diversos produtos registraram recorde no volume comercializado, como minério de ferro, óleos brutos de petróleo, açúcar de cana em bruto, celulose, carne de frango e suco de laranja não congelado.

Também foram destaques em quantidades exportadas produtos manufaturados como automóveis e aviões. Os automóveis tiveram alta de 44,3%, com 135 mil unidades a mais, e os aviões, aumento de 15,3%, com 34 unidades a mais. Esse desempenho contribuiu para reduzir o déficit comercial de produtos manufaturados, que caiu 40%, para US$ 43,7 bilhões, o menor resultado desde 2009. Em 2015, o saldo havia ficado negativo em US$ 71,9 bilhões.

O destaque negativo nas exportações foram os preços, que caíram 6,2% em média. Entre os principais produtos que compõem a pauta de exportações brasileiras, só houve aumento no preço do açúcar em bruto, de 12,3%. A soja teve o menor preço médio desde 2007; o minério de ferro teve o menor preço desde 2005; e o petróleo em bruto, o menor preço desde 2004.

Já as importações registraram recuo de 12,2% nas quantidades e de 9% nos preços ante o ano anterior. O maior destaque foi a queda de 43,1% nas importações de combustíveis e lubrificantes. Também caíram as compras de bens de capital (21,5%), bens de consumo (19,3%) e bens intermediários (14,9%).

As vendas de petróleo ao exterior superaram as importações pela primeira vez na história. As exportações de petróleo e gás somaram US$ 13,478 bilhões, e as importações, US$ 13,068 bilhões, o que resultou em um superávit de US$ 410 milhões no ano passado. Mas esse resultado não deve se repetir, de acordo com o secretário de Comércio Exterior do MDIC, Abrão Neto.