O globo, n. 30425, 24/11/2016. País, p. 5

O disputado Maranhão

O polêmico ex-presidente da Câmara recebe convites para se transferir para PT e PTdoB

Por: LETICIA FERNANDES

 

-BRASÍLIA- O polêmico e controverso vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PPMA), já tem o apoio do expresidente Lula e do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), para concorrer a uma vaga no Senado, em 2018. Do baixo clero, Maranhão ficou famoso pelas trapalhadas no comando da Câmara, entre elas a anulação do processo de impeachment da então presidente, Dilma Rousseff.

Maranhão, que está insatisfeito em seu partido, o PP, chegou a receber convite para se transferir para o PT, mas considerou que não tinha perfil tão de esquerda e agora está em negociação com o PTdoB, partido do deputado Sílvio Costa (PE), um dos parlamentares mais aguerridos na crítica ao processo de impeachment.

 

CANETADA CONTRA O IMPEACHMENT

Receber o apoio de Lula e Flávio Dino foi a condição imposta por Maranhão para protagonizar a desastrada tentativa de anular o impeachment, em maio deste ano. Numa canetada, enquanto exercia a interinidade na presidência da Câmara, ele anulou a aprovação do impeachment e pediu ao Senado que devolvesse o processo.

Segundo relatos, a articulação contra o impeachment foi feita com o aval do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Mas Renan acabou não acatando o pedido de Maranhão, e o processo prosseguiu normalmente no Senado, culminando com o afastamento da presidente.

Mesmo assim, as legendas de esquerda mantiveram o pacto de apoiar Maranhão, independentemente do partido no qual esteja alojado o vicepresidente na Câmara. Um aliado envolvido nas tratativas para a saída do PP ironiza a candidatura ao Senado, chamando as pretensões de “piada”:

— Ele já tem até um slogan: “Maranhão endoidou, Waldir senador”. É uma piada, mas ele diz que é candidato. Fazer o quê?

O convite a Maranhão foi feito pelo presidente do PTdoB, deputado Luis Tibé (MG), há cerca de um mês, e, desde então, os dois já se reuniram em diversas ocasiões para discutir a possibilidade. No PP, o problema é que o presidente da legenda, senador Ciro Nogueira (PI), investigado na Operação Lava-Jato, tirou o comando regional do partido das mãos de Maranhão e o repassou a seu correligionário André Fufuca.

Maranhão dá como certa a prisão de Nogueira na Lava-Jato e avalia que, caso isso não demore a acontecer, poderá até ficar no PP e retomar a direção maranhense da legenda, garantindo sua vaga para disputar o Senado.

Maranhão também foi convidado a se transferir para o PT, mas admite que a legenda está “bem mais à esquerda” que ele. Há ainda quem defenda que ele vá para um partido que ainda nem foi criado, chamado Partido da Igualdade, centrado na defesa dos direitos dos portadores de deficiência. Maranhão tem uma filha autista e simpatiza com o partido, caso a sigla consiga se viabilizar.

O vice-presidente da Câmara ficou conhecido por suas posições nos meses que ficou à frente da Casa e confundiu os deputados, ora a beneficiar Eduardo Cunha, ex-presidente da Casa, ora a agir em benefício do PT, ora ao se aproximar de Rodrigo Maia. Com coleção de histórias bizarras, Maranhão chegou a pedir alguns minutos para “falar com Deus” antes de tomar uma decisão durante uma reunião com parlamentares.

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Senado aprova reforma política em 2º turno

Proposta de emenda constitucional será agora apreciada na Câmara

Por: JÚNIA GAMA

 

-BRASÍLIA- O Senado aprovou ontem, em segundo turno, a análise da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que estabelece o fim das coligações nas eleições proporcionais a partir de 2020 e cria cláusula de desempenho para acesso ao Fundo Partidário e ao tempo de propaganda gratuita de rádio e TV. O texto, aprovado com 63 votos favoráveis e 9 contrários, agora será enviado à Câmara, onde sua aprovação deverá ser mais difícil.

De autoria dos senadores tucanos Ricardo Ferraço (ES) e Aécio Neves (MG), a emenda quer conter a proliferação de partidos. Ferraço disse que a medida servirá para moralizar a política no país:

— Esse é o melhor caminho, e nós estamos dando um passo seguro, não apenas na direção de melhor organizar o sistema político-partidário brasileiro, mas também na direção de moralizarmos ou darmos o primeiro passo para moralizarmos a vida política e partidária em nosso país.

Contra a medida votaram senadores de PT, PCdoB e outras legendas de pequeno porte. O líder da Minoria, senador Lindbergh Farias (PT-RJ), encaminhou voto contrário ao texto, dizendo acreditar que a cláusula de desempenho ficou muito restritiva e pode prejudicar os chamados partidos ideológicos, como PSOL e Rede.

— Nós achávamos que dava para ter avançado no acordo, porque a cláusula de desempenho ficou muito restritiva. Em solidariedade a partidos ideológicos, como o PCdoB, o PSOL e a Rede, nós vamos votar “não”, porque não dá para aceitar uma cláusula de desempenho que começa afastando partidos muito importantes, partidos ideológicos — justificou Lindbergh.

Aécio Neves negou que o projeto vá afetar essas legendas, já que o texto prevê a criação de federações de partidos.

— Compreendemos a trajetória de inúmeros partidos políticos que, historicamente, vêm defendendo as suas ideias, o modelo de país no qual acreditam. Mas, se eventualmente alguma dessas respeitáveis siglas não obtiver esse percentual mínimo, esses partidos não estarão inaptos a participar do processo político, sequer perderão o tempo de televisão e o acesso ao fundo partidário, desde que funcionem através de uma federação de partidos, obviamente com os quais encontrem convergência doutrinária ou ideológica por toda a legislatura — defendeu.

Segundo levantamento feito pelo GLOBO, a aprovação da cláusula de desempenho pode acabar com 26 dos 35 partidos existentes. Segundo a PEC, para superar a cláusula de barreira, os partidos precisam atingir 2% dos votos válidos em todo o território nacional, além de obter 2% dos votos válidos em, pelo menos, 14 unidades da federação. O cumprimento de apenas um desses requisitos não é suficiente para que o partido ultrapasse a cláusula de barreira.