O globo, n. 30423, 22/11/2016. Economia, p. 23

Banco do Brasil quer reduzir folha de pagamento em R$ 3 bi

Fechamento de unidades vai cancelar 9.300 postos; BB incentivará aposentadoria

Por: GABRIELA VALENTE

 

-BRASÍLIA- O presidente do Banco do Brasil, Paulo Rogério Caffarelli, afirmou ontem que a redução de custos anunciada no último domingo pela instituição é necessária para que o BB não continue a ter um lucro menor que os demais grandes bancos de varejo. O desejo da diretoria é diminuir a folha de pagamento em mais de R$ 3 bilhões por ano para adequar esse custo com o resto do mercado. Com o fechamento de agências e outras medidas, a economia será de outros R$ 750 milhões anuais.

— Temos resultado bastante aquém que os pares de mercado — disse o presidente do banco.

Ontem, as ações ON (ordinária, com direito a voto) do Banco do Brasil subiram 7,84%, a R$ 28,33. Caffarelli explicou que a migração do cliente da agência física para o aplicativo no celular diminui a necessidade de locais e ainda aumenta a rentabilidade de cada cliente em até 40%. Por isso, o banco resolveu diminuir o número de agências em todo o país.

Segundo ele, os funcionários saberiam ainda ontem de manhã se a agência em que trabalham será fechada ou não. Caso seja fechada, o trabalhador poderá aderir ao programa de aposentadoria incentivada. Ou receberá salário por quatro meses enquanto aguarda a transferência, não necessariamente para outra cidade.

 

INCENTIVO MAIOR: DE 12 A 15 SALÁRIOS

Serão fechadas 402 agências e outras 379 serão transformadas em postos de atendimento. Além disso, 31 superintendências fecharão as portas. Toda essa mudança deve cancelar 9.300 vagas. O presidente garantiu que ninguém será demitido.

— O Banco do Brasil não está demitindo ninguém. Talvez a gente consiga acomodar essa situação da melhor maneira possível — afirmou.

Para compensar o fechamento desses postos de trabalho, o BB abriu a possibilidade de aposentar 18 mil funcionários. Isso economizaria mais de R$ 3 bilhões por ano. No entanto, não é comum que a adesão seja de 100% das vagas. No último programa de aposentadoria, apenas cinco mil funcionários aderiram. Isso representa apenas 28% das vagas.

Caffarelli disse que a sua expectativa é que o programa atual tenha mais sucesso, porque o incentivo é maior. No ano passado, foram ofertados sete salários para os funcionários que decidissem pela aposentadoria. Agora, são 12 salários, podendo chegar a 15, de acordo com o tempo de serviço.

Para se aposentar, é preciso ter no mínimo 50 anos de idade e 15 de carreira na instituição. Se a capacidade de 18 mil do programa fosse atingida, o custo seria de R$ 2,3 bilhões.

— Não se trata de demissão. Estamos fazendo um convite ao funcionário — insistiu o presidente.

O BB também quer diminuir o custo com o salário dos funcionários. Para isso, lançou um programa de redução de carga horária. Seis mil pessoas podem pedir para trabalhar apenas seis horas. Para ter uma jornada menor, tem de aceitar receber 83,75% ao ano.

— Só vamos saber isso (a economia com a medida) com o número de adesões. Novos funcionários já entram com seis horas.

Atualmente, o BB tem 108 mil funcionários. No dia 9 de dezembro, a instituição deve ter noção de quantos aderiram às mudanças.

Questionado sobre o possível impacto das decisões do BB na economia e um possível agravamento da recessão, Caffarelli disse que as medidas não pioram o quadro. Segundo ele, elas aumentam a saúde do banco, que é um agente social.

Caffarelli lembrou ainda que o BB tem de aumentar o capital para estar adequado a uma nova regra prudencial internacional (Acordo de Basileia) até janeiro de 2019. O percentual dele deve passar dos atuais 9,07% para 9,5%. Segundo o presidente, isso deve ser feito com essas medidas e não com o auxílio da União.

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Caixa Econômica terá plano para aposentar 11 mil

Instituição estuda fechar cem agências. Mas reestruturação só deve ocorrer no ano que vem

Por: GABRIELA VALENTE, MARTHA BECK E EDUARDO BARRETTO

 

 

-BRASÍLIA- A Caixa Econômica Federal deve seguir o exemplo do Banco do Brasil e planeja medidas de aumento de eficiência para 2017. O banco público deve fazer um novo programa de aposentadoria incentivada no ano que vem que pode atingir cerca de 11 mil funcionários. No entanto, o programa não pode ser feito agora, porque a Caixa precisa de R$ 1,2 bilhão para pagar incentivos e direitos. A instituição também estuda a possibilidade de fechar cem agências que não dão lucro.

— Tem de ter capital para resolver a questão de eficiência. Por isso ainda não fizemos, mas está quase pronto — disse o presidente do banco, Gilberto Occhi, ontem, após reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

Segundo Occhi, esses 11 mil funcionários já têm condições de estarem aposentados, mas continuam na ativa. A saída deles da planilha de custos deve ajudar a Caixa a se adequar às regras de Basileia 3, que entra em vigor em janeiro de 2019, mas os bancos já devem estar enquadrados 18 meses antes, ou seja, em junho do ano que vem.

Para não depender de um aporte de capital da União, a Caixa pretende buscar eficiência e abrir o capital de duas empresas: a Lotex e a CaixaSeguridade. Occhi disse que o contrato com o BNDES para que comece o tramitar o lançamento inicial de ações (IPO, sigla em inglês) da área de loterias será assinado na sexta-feira. O banco de desenvolvimento será o responsável por dar o real valor do ativo, montar road shows para atrair investimentos e chamar os demais bancos para participarem da operação.

— A ideia é que a operação seja feita no primeiro semestre do ano que vem — frisou Occhi, que justificou que o processo tem demorado mais do que o estipulado pela diretoria porque os órgãos de controle, como o Tribunal de Contas da União (TCU), foram procurados antes. — É uma questão de negociação. Estamos fazendo com todo cuidado.

Questionado sobre o comportamento do crédito durante a crise, ele disse que a Caixa aumentou o volume de empréstimos neste ano e que manterá o ritmo em 2017:

— A previsão de crédito é igual à deste ano. Nada vai fugir do que estamos fazendo hoje.

 

FEIRÃO DE AUTOMÓVEL E CONSTRUCARD

Occhi informou ainda que o banco fará um feirão de veículo em parceria com a Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores). Isso, segundo ele, deve aquecer o mercado. Ele também informou que lançará na quinta-feira o novo Construcard. O banco destinará R$ 7 bilhões para a compra não só de materiais de construção, mas de instalações para eficiência energética, hídrica (como reuso da água) e sistemas de segurança.

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Medidas são insuficientes para alcançar concorrentes

Rentabilidade do BB é de 9,9%, bem abaixo dos 17,6% d Bradesco e dos 19,9% do Itaú

Por: ANA PAULA RIBEIRO

 

-SÃO PAULO- Os cortes de agências e pessoal anunciados pelo Banco do Brasil devem ajudar a melhorar os resultados da instituição, mas, segundo especialistas, são insuficientes para lhe assegurar os índices de rentabilidade dos grandes concorrentes privados: a rentabilidade do BB (medida pelo retorno sobre o patrimônio líquido) é de 9,9%, bem abaixo dos 17,6% do Bradesco e dos 19,9% do Itaú Unibanco. Os analistas, no entanto, reconhecem que as medidas darão um “respiro” para que o banco consiga reforçar sua estrutura de capital e, assim, enquadrar-se nas novas exigências do Banco Central, que entram em vigor em janeiro de 2019.

— Uma economia de R$ 750 milhões ao ano é significativa. Mas, além da rentabilidade, o mais imediato é dar uma injeção de capital no banco, já que o acionista principal, a União, não tem como fazer um aporte. Isso é só para apagar um incêndio — diz João Augusto Salles, analista da Lopes & Filho Consultoria.

Os bancos precisam de níveis mínimos de capital para poder ofertar crédito. Essas bases são definidas pelos chamados índices de Basileia. O índice mínimo de “core capital” (dinheiro de acionistas e retenção de lucros no caixa do banco), segundo regras que entram em vigor em 2019, deve ser de 9,5%. Mas no BB está em 9,07%, abaixo dos 11,1% do Bradesco e dos 15,7%, do Itaú Unibanco.

 

SINDICATO DOS BANCÁRIOS CRITICA DECISÃO DO BB

A situação do BB só não é pior porque a demanda por crédito está baixa. Em boa parte, o baixo nível atual de capital do BB deve-se à política agressiva de crescimento das operações de crédito a que o banco foi induzido pelo governo na gestão da expresidente Dilma Rousseff.

A rentabilidade do BB, lembra Lenon Borges, analista da Ativa Investimentos, sempre foi mais baixa que a dos rivais privados, mas piorou no último ano. Com os ajustes, uma melhora deve ser alcançada, mas, ainda assim, o BB não deve se aproximar dos níveis das instituições privadas:

— A rentabilidade do BB sempre foi mais baixa pelo apelo popular do banco, com tarifas mais baixas e margem financeira menor. E só agora o banco vai começar a atacar essa questão das despesas.

Além da expansão forte do crédito, acima dos pares privados, uma vez que a economia já dava sinais de enfraquecimento, o BB acabou tendo despesas elevadas para cobrir risco de perdas em grandes operações, especialmente nas áreas de construção, óleo e gás. O desafio agora é reverter esse quadro.

“Uma das nossas principais preocupações é sobre a habilidade do BB, como um banco público, de cortar custos em um cenário de crescimento moderado. E com o aumento da competição no canal digital, as margens devem se comprimir, por isso essa redução de custos será importante para manter a rentabilidade”, avaliaram os analistas Eduardo Nishio e Marcelo Atallah, do Banco Brasil Plural.

O Sindicato dos Bancários de São Paulo e a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf ) cobraram, em nota de repúdio, uma negociação com a direção da instituição para tratar da redução do número de vagas e do que eles chamam de desmonte dos bancos públicos.