Título: Aids recua na capital federal
Autor: Sakkis, Ariadne
Fonte: Correio Braziliense, 30/11/2011, Cidades, p. 23

Segundo boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde, 255 pessoas tiveram diagnóstico positivo para o HIV de janeiro a outubro, uma redução de 12% na média mensal em comparação a 2010. Mas a incidência cresceu entre jovens de 13 a 24 anos

A média mensal de casos de Aids no Distrito Federal teve queda de 12% em relação ao ano passado. Entre janeiro e outubro deste ano, 255 pessoas descobriram ser soropositivas para o vírus HIV, ou 25 por mês. A série histórica registra, desde 1985, um número aproximado de 400 novos casos por ano — cerca de 33 mensais. Os homens continuam mais vulneráveis à doença do que as mulheres: representam mais de 72% do total de novas ocorrências. No recorte masculino afetado pelo vírus, quase 60% se contaminaram em exposição homo ou bissexual. Um dos dados mais preocupantes do boletim epidemiológico divulgado ontem pela Gerência de Doenças Sexualmente Transmissíveis/Aids e Hepatites Virais da Secretaria de Saúde é o crescimento da incidência de casos entre jovens na faixa de 13 a 24 anos.

Os resultados posicionam Brasília na 26ª colocação no ranking de capitais com mais casos no Brasil. O entendimento da GDST/Aids é de que a capital está em processo de estabilização do número de ocorrências, mas precisa ainda baixar a incidência. "É um desafio nacional. Estamos observando tendência de queda no Sudeste do país, por exemplo. No DF, justamente por estarmos conseguindo estabilizar a disseminação dos vírus, podemos considerar isso um avanço", explica a assessora técnica da gerência, a enfermeira Leidijany Paz.

Apesar de o número de homens infectados ter diminuído, aumentou a proporção de soropositivos enquadrados na categoria homens que fazem sexo com homens (HSH). Em 2010, 50,4% do grupo masculino contaminado disse ter contraído o vírus em exposição homo ou bissexual. Em um ano, o índice cresceu em quase 9%. Em relação à disseminação do HIV entre mulheres, em 85% dos casos, elas foram expostas ao vírus em relações heterossexuais.

Para representantes de grupos de defesa dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros (LGBTs), o aumento de episódios se deve à falta de políticas públicas específicas. Michel Platini, presidente do grupo Estruturação, afirma que hoje há uma epidemia de Aids no DF e que sucessivos governos deixaram de acompanhar a sociedade civil na luta contra a doença. "Há o preconceito institucionalizado e o descaso com os recursos destinados a isso. A Secretaria de Saúde não executa todo o orçamento para educação sexual e campanhas. E é preciso fazer campanhas específicas para esse público. A linguagem é diferente", critica.

Juventude ameaçada Um dos dados mais preocupantes revelados pela Secretaria de Saúde ontem diz respeito à expansão da disseminação do vírus entre adolescentes e jovens adultos com idades entre 13 e 24 anos. Desde o início da série história, em 1985, até outubro deste ano, o DF registrou 682 notificações de Aids nessa faixa etária, sendo 431 homens e 251 mulheres. Desde 1997, a incidência média era de seis casos por 100 mil habitantes. Em 2010, no entanto, a notificação de novas 34 contaminações entre jovens elevou esse índice para 6,7 episódios a cada 100 mil habitantes.

Jovens homens expostos a relações homo ou bissexuais são, novamente, o grupo mais suscetível. Em 2010, 76% das pessoas do sexo masculino de 13 a 24 anos ficaram enquadradas na categoria de "exposição a homo/bissexual" e 20% a heterossexual. "No DF, a categoria de exposição homossexual caracteriza de forma mais importante a dinâmica da epidemia entre os homens, com expressão relevante em todas as faixas etárias, em especial entre os adolescentes", descreve o boletim epidemiológico.

O gerente da GDST/Aids, Luiz Fernando Marques, reconhece que há deficiências e problemas na rede de amparo e prevenção, mas acredita que apenas o trabalho em conjunto de sociedade, governo e escola pode reverter a situação. "Falta prevenção individual e também programas de prevenção. Não apenas do governo, mas também nas escolas. Sentimos muita dificuldade de professores e profissionais de saúde para trabalhar com temas como esse, de alta complexidade", avalia. Entre as 640 instituições de ensino no Distrito Federal, apenas 120 estão preparadas para lidar com educação sexual e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.

A infectologista Ana Izabel Costa de Menezes, médica do Instituto Acreditar e do Hospital das Forças Armadas, acredita que não houve educação continuada quanto à Aids. "O perfil do adolescente é de assumir riscos. Falta trabalho nessa faixa etária. Na França, há escolas que têm máquinas de camisinha. É um público que precisa ser bombardeado com propaganda para entender que a contaminação existe e que a Aids, apesar de ter mudado de cara e ter tratamento, é uma doença muito grave", diz. O GDF lança em 1º de dezembro, em comemoração ao Dia Mundial de Combate à Aids, o vídeo da campanha Seja Qual For o Seu Parceiro, Use Camisinha.

Centro de tratamento O Distrito Federal tem nove centros de referência de tratamento a pacientes com Aids. Os mais procurados são as unidades mistas do Plano Piloto e de Taguatinga, o Centro de Saúde nº 11 de Brasília e o ambulatório do Hospital Universitário de Brasília. O Hospital-Dia, na Asa Sul, é a referência para toda a rede. O governo federal subsidia os retrovirais e as campanhas educativas.