Valor econômico, v. 17, n. 4137, 23/11/2016. Política, p. A6

Geddel chora e recebe o apoio de líderes da base aliada na Câmara

Geddel: em tom emocional, ministro justificou sua conduta em encontro com cúpula da base governista na Câmara e ganhou apoio para ficar no cargo

Por: Andrea Jubé, Raphael Di Cunto, Bruno Peres e Fábio Murakawa

 

O ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, investigado pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República, recebeu ontem o "irrestrito apoio" dos líderes da base aliada na Câmara, além de manifestações de solidariedade dos presidentes das duas Casas legislativas. Ele tentou demonstrar confiança: "O Congresso nos espera, vamos trabalhar", disse Geddel.

O ex-ministro da Cultura nas gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, Juca Ferreira, contudo, cobrou o afastamento de Geddel. "O conveniente para o país, para não desmoralizar o Estado brasileiro e o governo, era que ele [Geddel] fosse afastado".

Geddel - que acumula cinco mandatos de deputado federal - recebeu ontem o apoio formal de 27 líderes e vice-líderes da Câmara, que assinaram uma carta de apoio, entregue pelo líder do governo, deputado André Moura (PSC-SE).

O ministro, que evitou a imprensa durante o dia, saiu do gabinete para agradecer o apoio dos líderes, mas sem abrir brecha para perguntas. "Recebo essa manifestação com muita humildade, muita responsabilidade, e que só aumenta nossa vontade de trabalhar", declarou.

Pela manhã, na reunião com os líderes para discutir a agenda de votações, Geddel emocionou-se e chorou ao relatar a sua versão sobre o ocorrido com Calero. Ele atribuiu o seu jeito "despachado" - que Calero qualificou como "truculência" - ao seu pai, morto no início do ano, o ex-deputado Afrísio Vieira Lima. "Ele disse que herdou o jeito de ser do pai", relatou o líder do PSL, deputado Alfredo Kaefer (PR).

Um dos participantes da reunião ponderou que Geddel fez o desabafo ao se sentir amparado entre velhos amigos, como o líder do governo na Câmara, André Moura, o líder do PTB, Jovair Arantes, o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), e o deputado Darcísio Perondi, do PMDB do Rio Grande do Sul.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também saíram em defesa do ministro. "Vamos virar essa página. O ministro Geddel tem exercido papel fundamental para o governo na articulação política. Esse papel foi fundamental na vitória da PEC do Teto e será fundamental na PEC da Reforma da Previdência", disse Maia, após palestra em evento fechado do banco JP Morgan em São Paulo.

"Eu acho que esse é um fato superado. Parece que houve uma interpretação indevida. O bom é que isso fique para trás e que a convergência seja novamente construída", emendou Renan.

O líder do PTB, Jovair Arantes (GO) - que busca o apoio do Planalto para sua candidatura à presidência da Câmara -, disse que o apoio dos líderes a Geddel será incondicional se a Comissão de Ética Pública não trouxer fatos novos. "Vale o que hoje está sobre a mesa", afirmou aos jornalistas.

Jovair reafirmou que Geddel, ao questionar a decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) na Bahia, estava preocupado com a "segurança jurídica" dos investidores. Segundo Calero, Geddel tentou interferir no Iphan, que embargou a obra de um edifício na Ladeira da Barra, em Salvador, onde ele possui um apartamento.

Juca Ferreira cobrou o afastamento de Geddel, durante depoimento na CPI da Lei Rouanet. "Houve uma evidente intervenção dele em benefício próprio e isso tem nome na Constituição, na legislação brasileira, e pode ter desdobramentos", afirmou.

Ferreira - que é baiano como Geddel e está familiarizado com o projeto imobiliário pivô do escândalo - relatou que ao assumir o Ministério da Cultura em 2014, recebeu denúncias contra o superintendente do Iphan na Bahia, Carlos Amorim.

"Mobilizei o Iphan nacional no sentido de rever todas as decisões dele, fui lá ouvir a população e fiquei estarrecido com o grau de compromisso, com a privatização do patrimônio público", afirmou. Ferreira acabaria demitindo Amorim. No sábado, Ferreira soltou uma nota em que acusa o ex-superintendente de "graves desmandos".