Título: 10 anos de dificuldades
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 09/11/2011, Economia, p. 10

O economista francês Robert Boyer integra o time dos pessimistas em relação à atual crise financeira global e alerta que o pior ainda está por vir. Os países desenvolvidos deverão demorar mais de uma década para se recuperarem do tombo da recessão para a qual caminham, na avaliação do integrante do renomado centro de pesquisas da França, o Cepremap. Para ele, 2012 será um ano bastante ruim, com retração da economia mundial e agravamento da situação econômica para níveis comparáveis ao da Grande Depressão dos anos 1930. "Estamos atravessando uma crise sem precedentes e ela é muito mais severa do que a de 2009", disse Boyer em entrevista ao Correio. "Ela vai durar, no mínimo, 10 anos", sentenciou.

Na opinião do especialista, a globalização ajuda a agravar a turbulência, uma vez que o excesso de informação em tempo real faz com que qualquer medida tomada por um governo tenha um reflexo imediato nos mercados. "Agora, tudo está conectado e qualquer decisão tem impacto global. Há muito mais interdependência entre Estados Unidos, Europa e América Latina. E, por isso, essa crise é muito mais severa até do que a Grande Depressão", explicou o economista, referindo-se ao período, iniciado com o crash da Bolsa de Nova York, em 1929, que levou os salários nos Estados Unidos a encolher cerca de 30% logo no início da década seguinte.

China preocupa Para piorar, Boyer acredita que a China não conseguirá socorrer o resto do mundo, como apostam muitos governantes europeus endividados, que veem no país asiático um grande comprador para seus títulos. "Eles (os chineses) estão enfrentando inflação e desaceleração na economia e também estão preocupados. É provável que procurem se voltar mais para o mercado interno", completou. A recessão baterá à porta das maiores economias do planeta no próximo ano, disse o economista, concordando com o alerta sombrio feito anteontem pela diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, em sua primeira visita à Rússia. "Nuvens negras estão claramente no horizonte", sentenciou a dirigente. Para Boyer, a Ásia será a exceção. "Os asiáticos deverão continuar crescendo em ritmo forte", afirmou.