Título: Brasil não é imune
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 09/11/2011, Economia, p. 10

O Brasil está numa situação privilegiada em meio ao turbilhão da economia global, segundo o economista francês Robert Boyer. "O Brasil está em ótima posição, mas não vai se recuperar tão rápido como ocorreu logo após a recessão de 2009. As exportações deverão cair, principalmente, as de matérias-primas. Mas o país tem um mercado interno gigante que ajudará novamente a compensar as perdas externas", comentou. No entanto, fez um alerta: "É preciso ficar atento com a apreciação do real e usar todas as ferramentas possíveis para barrar a entrada do capital especulativo".

Apesar da crise na Zona do Euro, Boyer não aposta na falência da moeda europeia. Tampouco acredita na quebra do sistema financeiro, que deverá se reinventar, nem na perda da hegemonia dos Estados Unidos nos mercados. "A China pode ter uma hegemonia no comércio global, mas o papel dos EUA deverá continuar. Os mercados continuarão atrás dos papéis do Tesouro norte-americano sempre que houver insegurança", afirmou. "E não existe substituto para o dólar como moeda global", completou.

Sem respaldo Para Boyer, a essência do vendaval financeiro está em uma crise política: os governos não conseguem conter gastos com respaldo da opinião pública. "A crise é agravada, principalmente, porque os governos da Europa têm interesses conflitantes. Por isso, o encontro do G-20 não deu em nada", comentou. "O Papandreou (George, primeiro-ministro grego demissionário), ao anunciar que ia submeter as reformas a um plebiscito, fez o que a Alemanha queria para não ser a responsável pela quebradeira na União Europeia. Agora, não sabemos para onde essa crise vai."