Antes de falir, ex-bilionário era a imagem do Brasil que decolava

Mariana Sallowicz e Fernanda Nunes

23/09/2016

 

 

Eike Batista, o delator de Guido Mantega na Operação Lava Jato, foi o sétimo homem mais rico do mundo, de acordo com a revista Forbes, e empresário símbolo da euforia internacional com a economia brasileira, materializada na famosa capa da revista britânica The Economist com o título O Brasil decola, de 2009.

No auge, Eike era retratado pelo governo petista como modelo a ser seguido e tinha acesso direto a Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Ele também esteve ao lado de políticos do PMDB do Rio de Janeiro, como o ex-governador Sérgio Cabral, a quem costumava emprestar seu jato particular.

Na fase áurea, o ex-bilionário chegou a apelidar a mineradora que fundou, a MMX, de “mini-Vale”. Foi apenas um dos diversos empreendimentos megalomaníacos do empresário, que teve uma fortuna estimada em US$ 30 bilhões. A Lula, em 2009, apresentou os detalhes do investimento no Porto do Açu (norte fluminense), que deveria ser um dos maiores complexos portuários da América Latina.

Conhecido à época como megaempresário, Eike, em abril de 2012, foi personagem de um artigo assinado pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), na revista americana Time. No texto, Paes chama Eike de “filho adotivo” do Rio e o classifica como um dos responsáveis pelo renascimento da capital fluminense.

Durante o governo petista, o empresário contratou R$ 10,4 bilhões junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas nem todo o dinheiro foi liberado.

Os desembolsos ocorreriam ao longo do período de execução dos projetos. Muitos deles, no entanto, foram interrompidos.

Derrocada. Apesar dos vínculos com a gestão federal do PT, o empresário não teve amparo quando seu “império de papel” desmoronou ainda no primeiro governo Dilma. A derrocada veio quando as promessas megalomaníacas a investidores sobre o desempenho das empresas do grupo EBX não foram cumpridas, o que causou uma crise de confiança. As ações das suas companhias derreteram e chegaram a ser negociadas a centavos.

Como resultado, quatro das seis empresas fundadas por Eike com ações na Bolsa entraram em recuperação judicial.

Nas negociações com credores, ele entregou participações nas companhias, perdeu poder nelas e viu três serem rebatizadas sem o X – forma de desvinculá- las de Eike, que, por superstição, sempre incluiu a letra nos nomes das empresas que controlava. A empresa de energia MPX virou Eneva; a de logística LLX se transformou em Prumo; e a petroleira OGX, a principal delas, passou a ser OGPar.

A 34.ª fase da Lava Jato, deflagrada ontem, foi, inclusive, batizada de Arquivo X, em referência ao nome das empresas do grupo empresarial de Eike.

Ele procurou o Ministério Público Federal no dia 20 de maio para prestar depoimento.

A fortuna do empresário evaporou a partir da crise de confiança dos investidores, donos de ações das suas seis companhias listadas na Bolsa, todas em estágios pré-operacionais.

Os problemas de Eike chegaram à esfera criminal em 2014.

O ex-bilionário responde na Justiça a diversas acusações, entre elas por crimes de uso de informação privilegiada e manipulação de mercado.

‘Desabafo’. Ainda em 2014, Eike convocou a imprensa para fazer um “desabafo” depois de passar por um período de um ano e meio calado. Mais do que confirmar o status de ex-bilionário, o empresário afirmou ter um patrimônio negativo de US$ 1 bilhão, lamentou a suposta volta à classe média e bateu na tecla da importância de seus projetos para a infraestrutura do País.

Eike voltou aos holofotes este ano, após ter participado de um culto na Assembleia de Deus, em Rocha Miranda, na zona norte do Rio. Em fotos e vídeos publicados nas redes sociais por fiéis, o ex-bilionário aparece de olhos fechados recebendo a bênção do pastor Daniel Silva.

Bolso cheio

US$ 30 bi era a fortuna do empresário Eike Batista em 2012, no auge de seu império, de acordo com a revista Forbes.