Correio braziliense, n. 19371, 08/06/2016. Economia, p. 9

Aprovado, Ilan quer levar inflação a 4,5%

Novo presidente do BC diz que quer o IPCA no centro da meta, mas não se compromete com prazo. Defesa de câmbio flutuante derruba dólar

Por: Antonio Temóteo

 

Aprovado ontem pelo Senado Federal para presidir o Banco Central (BC) por 56 votos favoráveis e 13 contrários, Ilan Goldfajn assumirá o posto em meio à crise política que pode atrapalhar a votação de medidas para reequilibrar as contas públicas.

Com o pedido de prisão de caciques do PMDB pela Procuradoria Geral da República, o risco é de que projetos de ajuste fiscal enfrentem dificuldade de aprovação e que o deficit seja maior do que o esperado, pressionando a inflação. Apesar do desafio, Goldfajn prometeu cumprir a meta de levar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a 4,5% ao ano, sem detalhar quando.

Desde 2009, a inflação não fica próxima ao centro da meta. Nos 12 meses encerrados em maio, a taxa ficou em 9,62%. Alexandre Tombini, atual presidente do BC, que preside hoje sua última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nunca entregou a inflação no centro da meta. Goldfajn ressaltou que, para cumprir a função primordial da autoridade monetária — garantir o poder de compra da moeda —, precisará da ajuda do Congresso para aprovar reformas que reduzam as despesas.

O novo presidente da autoridade monetária explicou que, com a aprovação do teto para o crescimento dos gastos públicos e de outras medidas, como a reforma da Previdência, haverá menos incertezas e das expectativas do mercado para a carestia. “Com isso, o custo da desinflação é menor e há condições para a redução dos juros”, disse.

 

Credibilidade

Na opinião de Goldfajn, o governo precisa resgatar a credibilidade com um regime de câmbio flutuante, com o equilíbrio fiscal e com metas críveis de inflação. Ele ressaltou que a política econômica dos governos petistas precisa ser abandonada para que o mercado volte a confiar no Executivo e para que o crescimento da dívida retorne a uma trajetória sustentável. “Temos que abandonar a nova matriz e voltar para o bom e velho tripé macroeconômico”, afirmou.

O economista comentou que a retomada do crescimento e a queda do desemprego passam pela reorganização das contas públicas e pelo encolhimento do IPCA. Ele ainda se mostrou contrário aos que defendem que a elevação dos gastos e da carestia contribuem para o crescimento do país. “Nossa história recente bem demonstra que níveis mais altos de inflação não favorecem o crescimento econômico, pelo contrário. A literatura econômica já refutou por diversas vezes o falacioso dilema entre a manutenção de inflação baixa e o crescimento”, alertou.

Durante sua sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Goldfajn também defendeu que as reservas internacionais, hoje em US$ 376 bilhões, são indispensáveis em momentos crise, mas depois o assunto precisa ser reavaliado. “Vale a pena manter esse seguro. Mas, assim que passar o período de incerteza, o debate deve ser feito”, detalhou.

O economista também se posicionou sobre a autonomia do BC. Para ele, uma autoridade monetária independente que fixe os próprios objetivos não é o melhor modelo. Goldfajn é favorável à autonomia formal à instituição, em que o governo define as metas e dá liberdade para que a autoridade monetária use os instrumentos que tem a sua disposição para levar a inflação à meta estabelecida.

Goldfajn defendeu a fixação de um mandato para presidente e diretores do BC. “Em quase todas as autoridades monetárias do mundo há mandato fixo. O avanço não deveria ser a independência e, sim, o mandato”, disse. Ele defendeu o regime de câmbio flutuante, o que levou à desvalorização de 1,2% do dólar em relação ao real, fechando a R$ 3,447.

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Diretor escolhido

 

Ainda pendente de aprovação do Senado para assumir a Presidência do Banco Central (BC), o economista Ilan Goldfajn já está montando sua equipe, conforme antecipado pelo Blog do Vicente. Goldfajn chamou Carlos Viana de Carvalho para a diretoria de Política Econômica da autoridade monetária, substituindo Altamir Lopes, que vai se aposentar; e Tiago Couto Berriel, para a área de assuntos internacionais.

Ambos são professores do departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), onde fizeram mestrado, e têm doutorado na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Ilan e o ex-presidente do BC Arminio Fraga foram, no mestrado da PUC-Rio orientadores de Berriel, que, em Princeton, esteve sob a responsabilidade do português Ricardo Reis, um dos maiores especialistas globais em política monetária.

Além do denso currículo acadêmico, os dois passaram pelo mercado financeiro. Viana tem uma carreira mais extensa: foi economista-chefe do Opportunity Asset Management entre 1995 e 1996; diretor e sócio da Radix Asset Management entre 1996 e 1998; economista-chefe e co-gestor dos fundos de renda fixa e multimercados da BBA-Capital/BBA-Capital Icatu entre 1998 e 2001; e sócio da Kyros Investimentos de junho de 2011 a novembro de 2015. Berriel foi responsável pela análise macroeconômica da Pacífico Gestão de Recursos.

Viana dispõe, ainda, de algo mais raro: experiência em regulação financeira nos Estados Unidos. Após o doutorado em Princeton, foi economista do Federal Reserve Bank of New York de agosto de 2007 até maio de 2011.