Ação alcança grupo controlador da JBS

 
02/07/2016
Alexa Salomão
Josette Goulart

 

Uma parte foi arrastada pela crise financeira, a outra vem sucumbindo na Operação Lava Jato. O fato é que o grupo de empresas que ascenderam meteoricamente durante a gestão do governo PT – popularmente chamadas de campeões nacionais – foram, uma a uma, sucumbindo. Na Lava Jato, a maior representante dessa leva vinha sendo o grupo Odebrecht. A Operação Sépsis, que teve como alvo a empresa de papel e celulose Eldorado, coloca a investigação dentro do grupo J&F. Entre seus tantos negócios, o mais conhecido está a JBS, a maior empresa de carnes do mundo, dona da marca Friboi e último campeão nacional ainda ileso a crises e denúncias.

Houve busca e apreensão nas instalações do grupo em São Paulo e na casa de Joesley Batista, presidente da holding, um dos seis filhos do fundador do conglomerado.

As investigações se baseiam na delação do ex-vicepresidente da Caixa Econômica Federal Fábio Cleto. Segundo ele, o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDBRJ), teria ficado com 1% de um repasse de R$ 940 milhões que a Eldorado recebeu do FI-FGTS, um fundo mantido com recursos do FGTS e gerido pela Caixa.

A transação teria sido feita por Cleto com o próprio Joesley. Segundo Cleto, quem lhe apresentou o empresário, em meados de 2011, foi o corretor Lúcio Funaro, num jantar em sua casa.

Funaro e Joesley se aproximaram nos últimos anos. O corretor, inclusive, foi um dos convidados da festa de inauguração da mesma Eldorado, em Três Lagoas (MS). Funaro foi ao evento de carona no jatinho de João Alves Queiroz Filho, conhecido como Júnior, o empresário dono da Hypermarcas – empresa cujo um ex-executivo nesta semana assumiu pagar propinas a políticos.

Os laços entre os dois foram se estreitando. No ano passado, Joesley, por meio de sua empresa JJMB, vendeu uma casa à mulher de Funaro, Raquel Pitta, no bairro dos Jardins, região nobre de São Paulo. A casa tinha sido comprada em 2014, por R$ 13,5 milhões, mas foi vendida à Raquel com um desconto de 30%, por R$ 9 milhões, um ano depois.

Desse total, R$ 5,7 milhões ficaram como garantia de um empréstimo concedido à empresa de titularidade de Raquel.

É dessa aproximação que podem resultar bastidores até agora pouco conhecidos do grupo.

Em conversas reservadas, Funaro já contava, com desenvoltura, detalhes da ascensão do grupo, particularmente da JBS.

Salto. Apesar de ter sido fundada nos anos 1950, foi na última década que a JBS se transformou na maior empresa privada do Brasil, com faturamento de R$ 173 bilhões, a maior processadora de carnes do mundo, e fez de sua marca, a Friboi, em sinônimo de churrasco.

Mais recentemente, passou a diversificar os negócios. Além da Eldorado, sob sua holding estão a empresa de laticínios Vigor, a Flora, de higiene e limpeza, o Canal Rural e até um banco, o Original, que foi idealizado por Henrique Meirelles, o atual ministro da Fazenda. Meirelles foi presidente do conselho consultivo da J&F por quatro anos. Ontem, durante entrevista à Radio Estadão, Meirelles declarou que se desvinculou da J&F e de todas as funções consultivas que exercia em outras empresas.

A aquisição mais recente, no final de 2015, foi a Alpargatas, do grupo Camargo Corrêa, uma operação de R$ 2,6 bilhões totalmente financiada pela Caixa Econômica Federal – benefício que chamou a atenção.

O apoio de bancos públicos, aliás, foi constante na ascensão do grupo. No final de 2009, num movimento simultâneo, comprou a Pilgrim’s Pride – a segunda maior produtora de frango dos EUA – e fez uma fusão com o grupo rival Bertin, se transformando na maior processadora e carnes do mundo.

A operação até hoje gera questionamentos.

O mais recente foi feito pela Receita Federal.

Uma fiscalização feita no grupo Bertin apontou indícios de fraude na fusão que envolvem também o JBS, gerando uma multa de R$ 3 bilhões ao Bertin.

Também são questionados os empréstimos do BNDES dados à empresa. O banco já detinha uma participação na empresa de cerca de 17% e comprou US$ 2 bilhões em debêntures do grupo na época da fusão com o Bertin e compra da Pilgrim’s nos Estados Unidos. Essa dívida acabou virando participação de 30%. Hoje essa participação é dividida com a Caixa.

Em nota, a Eldorado declarou que a companhia desconhece as razões e o objetivo da ação policial e que prestou as informações solicitadas: “A Eldorado sempre atuou de forma transparente e todas as suas atividades são realizadas dentro da legalidade.

A companhia se mantém à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos adicionais”, destacou o texto.

 

O Estado de São Paulo, n. 44818, 02/07/2016. Política, p. A6