Clima quente na volta de Gleisi

Cristiane Jungblut

28/06/2016

 

 

Senadora ataca operação da PF que prendeu seu marido e suscita bate-boca com Janaina Paschoal

 

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) cumpriu ontem a promessa e voltou ao Senado e à comissão do impeachment depois da prisão do seu marido, o ex-ministro Paulo Bernado, na última quinta-feira, na Operação Custo Brasil, um desdobramento da Lava-Jato. Gleisi utilizou a tribuna para criticar a ação em seu apartamento funcional do Senado e defender o marido. A petista chamou a ação de “show midiático” com o objetivo de “constranger” e “humilhar” um ex-ministro dos governos Lula e Dilma e de desgastá-la como defensora da presidente afastada. Ao GLOBO, Gleisi contou que conversou rapidamente com Paulo Bernardo na sexta-feira, por telefone, mas que hoje ou amanhã pretende ir a São Paulo.

— O Paulo está firme, mas abatido com tudo que está ocorrendo — disse a senadora.

Ao chegar ao Senado, Gleisi ganhou um buquê de rosas de um grupo chamado de Rosas pela Democracia, que gritavam palavras de apoio à senadora. Em plenário, Gleisi condenou o excesso de uso da força pela Polícia Federal.

— A operação montada foi surreal, até helicópteros foram usados. Para quê isso? Demonstração de força? Humilhação? Foi uma clara tentativa de humilhar o ex-ministro dos governos Lula e Dilma. E de abalar emocionalmente o trabalho de um grupo crescente de senadores e senadoras que discordam dos argumentos que vêm sendo usados para afastar a presidente legitimamente eleita — disse Gleisi.

— O cerco por terra e ar e a ação judicial para entrar em nossa casa tiveram a clara intenção de constranger. Não só a mim, mas todos os moradores (senadores) — afirmou.

A senadora chegou a ficar com olhos marejados em um momento do discurso, mas, no restante, se manteve firme. Ela disse que foi vítima de uma “tortura moderna”, assistindo ao vivo pela mídia a prisão de seu marido. — Chorei, chorei muito sim — contou. Na volta de Gleisi à comissão do impeachment houve bate-boca entre senadores e a advogada da acusação, Janaina Paschoal, sobre o juiz Paulo Bueno de Azevedo, que determinou a prisão de Paulo Bernardo. Azevedo é orientado por Janaina em seu doutorado na Universidade de São Paulo.

— Não me constrange vir aqui, nem com comentários soltos de professora orientadora de tese de juiz de 1º grau — disse Gleisi, suscitando a polêmica.

Janaina exigiu o direito de falar para defender sua honra. O presidente da comissão, Raimundo Lira (PMDB-PB), permitiu que a advogada se manifestasse.

— As pessoas medem as outras pela própria régua. Como petistas tem vassalos, não orientandos, eles acreditam que os outros professores se ajoelhem — disse a advogada. Lindbergh Farias (PT-RJ) rebateu Janaina: — Ela faz todas as ilações, acusa sem provas o tempo todo. É orientando dela. A senhora não está aqui por idealismo, começou nesse processo por R$ 45 mil, contratada pelo PSDB.

Janaina não se conteve e citou inquérito que Lindbergh responde na Lava-Jato:

— E os R$ 2 milhões da Petrobras que o Paulo Roberto Costa deu para o senhor?

 

 

O globo, n. 30276, 28/06/2016. País, p. 3.