Correio braziliense, n. 19348, 16/05/2016. Economia, p. 6

Desemprego em alta desafia governo de Temer

Presidente em exercício precisará apresentar, rapidamente, medidas para reverter o pessimismo e encorajar a retomada do investimento. Caso contrário, a deterioração do mercado de trabalho tende a se a agravar e há risco de manifestações

Por: Rodolfo Costa

 

O desemprego será a maior ameaça à estabilidade da administração de Michel Temer. Economistas admitem que, mesmo com a mudança de governo, as demissões ainda vão continuar, aumentando o descontentamento da população com a economia. As estimativas mais conservadoras indicam que pelo menos 2 milhões de pessoas vão se juntar, até o fim do ano, ao recorde de 11,1 milhões de desocupados identificados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) até março. Os mais pessimistas falam em 3 milhões de demissões neste ano, independentemente da troca de governo.
O acelerado corte de vagas tende a elevar a pressão sobre Temer, que assumiu a Presidência interinamente na semana passada, diante da decisão do Senado de abrir processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, que foi afastada do poder por até 180 dias. No entender dos economistas, não há disposição entre os eleitores de dar tempo ao peemedebista. Portanto, se quiser evitar manifestações mais fortes nas ruas, ele terá que agir rápido para reverter o pessimismo e encorajar os agentes econômicos a retomarem os investimentos o mais rapidamente possível.
Na avaliação do economista Alexandre Espírito Santo, da Órama Investimentos, os próximos 60 dias serão cruciais para que o presidente em exercício dê uma direção à economia, indicando a retomada do crescimento, mesmo que num prazo mais longo que o desejado. Caso não consiga pôr em prática medidas que levem à queda mais forte da inflação e à retomada da confiança, Temer terá que lidar com cobranças muito fortes, inclusive do empresariado que o está apoiando. Em média, três pessoas orbitam em torno de um desempregado. Ou seja, 44,4 milhões de brasileiros estão sofrendo com a forte retração da economia, que pode encolher até 4% neste ano.

Pessimismo
Para tentar reverter o pessimismo, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deve anunciar hoje um pacote de medidas a fim de conter o deficit público, abrir espaço para a queda da inflação e reconstruir a credibilidade junto aos agentes econômicos. Não será tarefa fácil. “A economia não aceita mais paliativos”, frisa o economista-chefe da MacroAgro, Carlos Thadeu Filho. Para ele, o estrago foi tão grande, que o país precisa de um plano consistente de recuperação da atividade. Caso o governo Temer seja capaz de pavimentar as pontes, será possível falar em crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017. Tudo, porém, são expectativas até agora.
Segundo Thadeu Filho, há disposição do empresariado em cooperar com o novo governo. O problema é que a população não está disposta a esperar muito tempo para ver resultados práticos do afastamento de Dilma Rousseff. Desde o fim de dezembro de 2014, a taxa de desemprego quase dobrou. Passou de 6,8% para 10,9% e pode ir a 13% ou 14% ao longo deste ano, dependendo da capacidade de Temer de reconstruir a confiança. “A urgência é grande”, assinala. “Mas o novo presidente pode tirar proveito do desejo reprimido do empresariado em investir para reverter a grave recessão na qual o país está mergulhado”, afirma.
Para Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama Investimentos, assim que os empresários tiverem certeza de que não haverá sobressaltos mais à frente, poderão desengavetar projetos que tendem a reanimar o PIB. No entender dele, a retração dos investimentos foi provocada pela forte intervenção do Estado na economia durante a gestão de Dilma Rousseff. Regras foram alteradas sem qualquer critério técnico, como no setor elétrico, e o governo acreditou que poderia limitar os ganhos da iniciativa privada em projetos de concessões. A reação do capital foi sair de cena.
“Portanto, esta é a hora de voltarmos aos trilhos do progresso”, diz Espírito Santo. Ele acredita que outro pleito do empresariado para a retomada do investimento está prestes a se tornar realidade: a queda dos juros. Para isso, porém, a equipe de Meirelles terá que apresentar um programa fiscal consistente. Segundo o economista da Órama, ninguém acredita que o país conseguirá apresentar superavits primários a curto e a médio prazos.

 

Famílias estão céticas
O presidente em exercício, Michel Temer, vem tentando, em seu discurso, passar otimismo. Tem recomendado a todos que deixem de falar em crise e passem a trabalhar. O problema é atender a essa recomendação num país afundando em um atoleiro que consumiu quase 10 anos da riqueza acumulada. Muitas famílias já não conseguem pagar sequer coisas básicas porque pelo menos um de seus integrantes está desempregado. A cada mês, meio milhão de pessoas entram na lista de caloteiros.

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