Valor econômico, v. 3956, n. 16, 04/03/2016. Política, p. A6

Delcídio começou a negociar delação com PGR em dezembro

Por: Maíra Magro

Por Maíra Magro | De Brasília

 

O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) começou a negociar os termos de sua delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR) em dezembro, como antecipou o Valor, e passou as festas de fim de ano prestando depoimento a procuradores na sede do Batalhão de Trânsito em Brasília. Com revelações explosivas, Delcídio implicaria a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva noesquema de corrupção da Petrobras, segundo reportagem publicada ontem pela revista "IstoÉ".

De acordo com a revista, Delcídio teria afirmado que Dilma sabia de todo o processo de aquisição superfaturada da refinaria de Pasadena, na época em que presidia o Conselho de Administração da Petrobras. A presidente sempre negou ter conhecimento do negócio, que causou prejuízos milionários à estatal.

Delcídio também teria dito, segundo a "IstoÉ", que Dilma teria tentado interferir na Lava-Jato em três ocasiões, com o objetivo de soltar executivos presos na operação. Um desses momentos seria a nomeação dodesembargador Marcelo Navarro como ministro do Superior Tribunal de Justiça, com a suposta promessa de que ele trabalharia pela soltura dos empresários Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo.

Segundo a revista, Delcídio também teria declarado que o ex-presidente Lula foi o responsável por marcar encontro entre o senador e Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Foi a gravação da conversa entre Delcídio e Bernardo, em que o senador oferecia dinheiro à família de Cerveró e um plano de fuga para ele, que levou à prisão do senador. Segundo o documento citado pela reportagem, também teria partido de Lula a ideia de pagar uma mesada de R$ 50 mil para que Cerveró ficasse em silêncio. O dinheiro teria sido obtido junto ao pecuarista José Carlos Bumlai.

O senador publicou nota ontem dizendo que "não confirma o conteúdo" publicado pela IstoÉ - mas sem negar a reportagem diretamente. "À partida, nem o senador Delcídio nem sua defesa confirmam o conteúdo da matéria",diz a nota. "Não conhecemos a origem, tampouco reconhecemos a autenticidade dos documentos que vão acostados ao texto", acrescenta.

Valor apurou que um dos fatores que contribuíram para a decisão de Delcídio de fechar o acordo com a PGR foi a pressão dos familiares mais próximos, que temiam vê-lo atrás das grades por muito tempo. Pesou aindauma decisão desfavorável do ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), que negou um pedido de liberdade do senador antes do recesso de fim de ano.

Delcídio foi preso no dia 25 de novembro, quando veio à tona a gravação em que ele aparecia oferecendo dinheiro Bernardo Cerveró para comprar o silêncio do pai. Em meados de dezembro, a defesa estava confiante de que ele seria solto. As buscas e apreensões haviam se concretizado. A PGR já havia apresentado ao STF a denúncia acusando o senador de atrapalhar as investigações. A conclusão era de que os ministros concordariam que Delcídio não representava mais uma ameaça à Lava-Jato.

Na noite de 16 de dezembro, um ato do ministro Dias Toffoli, presidente da 2ª Turma, foi interpretado como sinal de que de fato Delcídio poderia ser solto antes do recesso de fim de ano. O ministro marcou uma sessãoextraordinária para a manhã seguinte - a última de 2015. Ao que tudo indicava, o caso de Delcídio seria julgado e a turma decidiria pela soltura. No último minuto, porém, o caso ficou fora da pauta sem maiores explicações.Toffoli fez um breve balanço das atividades da turma e desejou boas festas. Teori acabou tomando sozinho, naquela manhã mesmo, a decisão de manter o senador preso.

No dia seguinte, uma das condições exigidas pelo advogado Antonio Figueiredo Basto para que Delcídio falasse foi cumprida: o senador foi transferido da Superintendência da Polícia Federal em Brasília para o Batalhão da Polícia de Trânsito, um local mais ameno e discreto. Basto foi o responsável por negociar as conversas diretamente com a PGR. O advogado negou as tratativas durante todo esse tempo. Quando Delcídio foi solto no dia 19 de fevereiro, já estavam concluídos os termos da delação.