O globo, n. 30.186, 30/03/2016. País, p. 5

Governo prepara nova reforma ministerial para garantir votos

Mudanças, que devem ocorrer até sexta, visam a recompor base

Por: Catarina Alencastro, Eduardo Barreto, Letícia Fernandes, Júnia Gama e Cristiane Jungblut)

 

- BRASÍLIA- Após o já esperado rompimento formal do PMDB com o governo, a presidente Dilma Rousseff começou a preparar uma reforma ministerial, que deverá ser anunciada até sexta- feira. Escalado para falar em nome do governo, o ministro da Chefia de Gabinete da presidente, Jaques Wagner, chegou a falar em “governo novo” e a dizer que a saída do principal aliado abre uma “boa” oportunidade para que Dilma inicie uma nova fase, com outros aliados nos espaços deixados pelo PMDB. O governo conta com um mapa dos cerca de 580 cargos da máquina federal hoje ocupados por indicação de peemedebistas.

— A decisão dele ( PMDB) chega numa boa hora. Numa boa hora porque oferece à presidenta Dilma uma ótima oportunidade de repactuar o seu governo. Eu poderia até falar de um novo governo, no sentido de que sai um parceiro importante e, portanto, abre espaço político para uma repactuação de governo. Política é assim. É vivida da realidade — disse Wagner. — Estou muito confiante de que esta oportunidade será uma boa caminhada da presidente Dilma.

Ontem, Dilma deixou o Palácio do Planalto no início da noite rumo ao Palácio da Alvorada, residência oficial, para decidir com seus principais ministros quem poderá substituir os peemedebistas no governo. O Planalto espera que o desembarque do PMDB possa facilitar a batalha por votos contra o impeachment de Dilma.

O raciocínio é matemático: o PMDB “bloqueava” sete ministérios e só entregava de 25 a 30 votos na Câmara. Com a liberação desses ministérios, outros partidos aliados poderão ocupálos e entregar, em troca, no mínimo o dobro dos votos. Segundo um auxiliar da presidente, o cálculo é chegar a 80 votos — como o governo tem pelo menos cem votos já garantidos, isso seria suficiente para chegar aos 172 necessários para barrar o impeachment.

Outra aposta do governo é redistribuir cargos nos diversos escalões da República, além de atender demandas específicas de parlamentares. Segundo interlocutores do Planalto, Lula está à frente desse trabalho. O governo pretende redistribuir os cargos para garantir votos contra o impeachment. O expresidente tem dito a pessoas próximas que pretende fazer uma “higienização” no quadro de apadrinhados políticos para assegurar que cada cargo ou demanda atendida corresponda a ao menos um voto contrário ao afastamento de Dilma no Congresso.

 

PT QUER COLAR TEMER A CUNHA

O PT, por sua vez, intensificou o discurso de fortes críticas a Temer e ao que chama de “conspiração” para tomar o lugar da presidente. O vice foi escolhido como alvo prioritário do partido; uma das estratégias nesse sentido será a de colar sua imagem à do presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDBRJ), na tentativa de enfraquecê- lo.

Os petistas creem que os manifestantes a favor do impeachment de Dilma não defendem a entrada de um governo do PMDB. A ideia, portanto, é mostrar que Temer, Cunha e os demais peemedebistas estão aproveitando o momento político para “assaltar” o poder.

— O Temer, infelizmente, está tendo uma postura lamentável. Ele virou um conspirador e, para mim, chefia o golpe com o Eduardo Cunha, os dois estão à frente do golpe — disse o senador Lindbergh Farias ( PT- RJ).

O PT ainda atacará o programa que o PMDB defende, caso chegue ao poder, chamado “Ponte para o futuro”. Esse programa sugere a redução de gastos públicos, a necessidade de um rigoroso ajuste fiscal e a desvinculação orçamentária na Saúde e na Educação. Os petistas dirão que essas medidas ceifariam os direitos dos trabalhadores. ( Catarina Alencastro, Eduardo Barreto, Letícia Fernandes, Júnia Gama e Cristiane Jungblut).

 

“A decisão dele ( PMDB) chega numa boa hora porque oferece à presidente Dilma uma ótima oportunidade de repactuar o seu governo. Eu poderia até falar de um novo governo”

Jaques Wagner

Ministro da Chefia de Gabinete

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Dilma evita viajar para Temer não assumir

Por: CATARINA ALENCASTRO E EDUARDO BARRETTO

 

- BRASÍLIA- A presidente Dilma Rousseff cancelou a viagem que faria amanhã a Washington, onde participaria da Cúpula de Energia Nuclear e seria recebida para um jantar com o presidente americano Barack Obama. Embora até a noite de ontem a desistência ainda não tivesse sido oficializada, auxiliares de Dilma informavam que, diante do rompimento do PMDB com o governo, não seria possível manter a viagem, o que faria Temer exercer interinamente a Presidência.

A cúpula de energia nuclear costumava contar com a participação do vice- presidente, mas, este ano, Dilma viajaria devido justamente ao seu afastamento de Temer. Um auxiliar dela avalia que seria uma boa oportunidade para aparecer em uma agenda positiva.

Porém, o agravamento da crise política levou- a a ficar no Brasil para acompanhar os desdobramentos da saída do principal partido aliado do governo e promover uma reforma ministerial, cujo objetivo é segurar aliados.

Após ter ficado até as 22h de anteontem com o ex- presidente Lula e seus ministros mais próximos no Palácio da Alvorada, Dilma acordou cedo ontem e saiu para pedalar antes das 6h, quando o sol mal havia nascido. Voltou para o Alvorada às 6h35 e teve seu primeiro compromisso oficial às 9h30 no Palácio do Planalto com o diretor- geral da Organização Mundial do Comércio ( OMC), Roberto Azevedo, no qual apareceu animada e sorridente.

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