O globo, n. 30.127, 31/01/2016. País, p. 4

Alckmin: 'Lula é o retrato do PT, sem compromisso com a ética'

Ex-presidente rebate e cita denúncias sobre metrô de SP e merenda

 

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que Lula é o retrato do PT, “sem ética, sem limites”. O ex-presidente rebateu. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou ontem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é “o retrato do PT”, partido “sem compromisso com as questões de natureza ética”, segundo ele. A declaração foi feita quando o tucano comentava as investigações do Ministério Público sobre o apartamento tríplex no Guarujá, construído e reformado pela empreiteira OAS, que teve dirigentes condenados na Operação Lava-Jato, e sobre o sítio em Atibaia que seria frequentado pelo petista.

— O Lula é PT, o Lula é o retrato do PT, partido envolvido em corrupção, sem compromisso com as questões de natureza ética, sem limites. É muito triste o que estamos vendo, e o que a sociedade espera é que seja apurado com rigor e que se faça justiça — disse Alckmin, que comentou a investigação num evento de entrega de carros para as polícias Militar e Civil.

— O Brasil sempre teve, lamentavelmente, impunidade com o crime do colarinho branco. O Brasil está dando um salto importante, é doloroso, mas é necessário — acrescentou o governador.

Poucas horas após tomar conhecimento das declarações do tucano, o ex-presidente rebateu Alckmin por escrito. A assessoria do Instituto Lula divulgou nota e disse que o governador deveria explicar os escândalos em São Paulo.

“Seria mais proveitoso para a população de São Paulo se o governador explicasse os desvios nas obras do metrô e na merenda escolar, a violência contra os estudantes e os números maquiados de homicídios no estado, ao invés de tentar desviar a atenção para um apartamento que não é e nunca foi de Lula”, diz a nota.

O presidente do PT, Rui Falcão, também citou o escândalo da merenda em seu perfil no Twitter: “Em vez de atacar Lula, o Alckmin deveria cuidar do governo dele, que tira comida da boca das crianças”.

 

LULA DEVE DEPOR NO DIA 17

O ex-presidente e a mulher dele, Marisa Letícia, deverão depor no próximo dia 17 sobre o caso do tríplex no Guarujá, segundo informou o promotor do caso, Cássio Conserino. O promotor já tomou depoimentos de testemunhas que revelaram a presença de Marisa supervisionando a obra. Todo o apartamento foi reformado pela OAS em obra que teria custado R$ 777 mil, segundo um sócio da Talento Engenharia, contratada pela construtora. A OAS teria pagado até mesmo eletrodomésticos da cozinha do tríplex.

Na investigação do Ministério Público de São Paulo sobre as irregularidades no fornecimento de alimentos para merenda, o secretário de Transportes de Alckmin, Duarte Nogueira, e o ex-chefe de gabinete da Secretaria da Casa Civil Luiz Roberto dos Santos, conhecido como Moita, foram acusados de envolvimento.

Outros petistas reagiram às críticas de Alckmin. O vice-líder do governo na Câmara, Paulo Teixeira (PT-SP), afirmou:

— Essa posição do Alckmin revela a hipocrisia tucana neste momento em que o governo dele está envolvido no profundo escândalo da merenda escolar. Ele não tomou nenhuma providência para apurar seus escândalos e afastar os envolvidos, e atira pedra no adversário. Na verdade, ele tenta mudar o foco. Realmente, a impunidade tem que acabar, e os que estão envolvidos com a merenda escolar em São Paulo devem ser punidos.

Para Teixeira, Lula está sofrendo ataques de agentes do Estado e da mídia sem que haja acusação formal contra ele.

Órgãos relacionados:

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Mulher de Lula comprou barco para sítio em Atibaia

Nota fiscal mostra que embarcação custou R$ 4 mil e foi entregue na propriedade

 

A ex-primeiradama Marisa Letícia, mulher do ex-presidente Lula, comprou um barco de pesca em 2013 e mandou entregá-lo no sítio que é frequentado pela família no município de Atibaia, no interior de São Paulo. A nota fiscal da compra, obtida pelo jornal “Folha de S.Paulo”, reforça o elo de Lula com o sítio. A Operação Lava-Jato vai investigar a informação de que a propriedade foi reformada pela empreiteira Odebrecht.

Na nota fiscal, consta como local de entrega da mercadoria o endereço do sítio Santa Bárbara. O barco custou R$ 4.126 e tem capacidade para transportar cinco pessoas. O equipamento é do modelo Squalus 600, da marca Levefrot, e não tem motor. O ex- presidente tem a pesca como hobby.

O sítio, comprado em 2010, é dividido em duas propriedades, que estão em nome de Jonas Suassuna Filho e Fernando Bittar, sócios de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do ex-presidente. Bittar é filho do ex-prefeito de Campinas Jacó Bittar, fundador do PT e amigo de Lula desde os anos 1970.

A empresa que fabricou o barco, a Alumax, e a loja Miami Náutica, que teria vendido o equipamento para a ex- primeira- dama, foram procuradas pelo GLOBO ontem. Na Alumax, que passou a nota fiscal para a “Folha de S.Paulo”, o segurança atendeu o telefone e disse que só amanhã haverá alguém para dar informações. Na Miami, localizada no Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo, ninguém atendeu a ligação.

Patricia Fabiana Melo Nunes, ex- dona de uma loja de material de construção de Atibaia, disse que o sítio de 173 mil quadrados foi reformado pela Odebrecht. Os responsáveis pela obra gastaram, segundo ela, cerca de R$ 500 mil em sua loja. O Ministério Público de São Paulo e os integrantes da Lava-Jato investigam as obras na propriedade.

A reforma realizada no local foi ampla. O sítio ganhou novas suítes e churrasqueira. Os investigadores da Lava-Jato suspeitam que, além da Odebrecht, a reforma do Santa Bárbara também tenha sido bancada pela OAS, a mesma empresa que construiu o prédio no Guarujá onde Lula tinha um apartamento tríplex. O pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente, também aparece como suspeito de ter colaborado com a reforma.

Procurado, o Instituto Lula não se manifestou sobre o barco. Na véspera, a entidade havia divulgado nota admitindo que Lula frequenta o sítio desde que deixou a Presidência. Fábio Luís compartilhou ontem, no Facebook, uma série de reportagens, textos e comentários contestando investigações contra seu pai, como a suspeita de ocultação de patrimônio referente ao apartamento tríplex.

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Empreiteiro dirá que ex-presidente pressionou por ajuda a Lulinha

Segundo ‘Veja’, a informação estará em delação de executivo da Andrade Gutierrez

Segundo reportagem da revista “Veja”, o presidente licenciado da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, decidiu contar em delação premiada informações sobre a sociedade entre a antiga Telemar e a Gamecorp, que tem entre seus sócios Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do ex-presidente Lula. Segundo a revista, Azevedo dirá que a antiga Telemar, que tinha a Andrade Gutierrez entre os controladores, comprou 30% da Gamecorp “a pedido de Lula”. O negócio foi fechado em 2005 por R$ 5 milhões.

Segundo “Veja”, o executivo dirá que, três anos depois, Lula alterou a legislação para permitir que a Telemar/Oi se fundisse com a Brasil Telecom. Azevedo confidenciou a advogados que, em seguida à mudança na lei, os sócios da Gamecorp e integrantes do governo passaram a exigir mais ajuda financeira da empreiteira.

A Andrade Gutierrez, por meio da Oi, teria passado a contratar serviços desnecessários da Gamecorp, e foi estabelecido “um canal permanente de repasse de dinheiro” para Fábio Luís e seus sócios, entre eles Fernando Bittar e Jonas Suassuna. Os dois são os donos formais do sítio de Atibaia usado por Lula, que teve parte da reforma paga por empreiteiras.

Segundo “Veja”, Azevedo dirá que em 2014 houve pressão de Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff, e Giles Azevedo, assessor especial da presidente, para repasse de dinheiro. Em nota, Edinho afirmou que todas as doações estão declaradas ao TSE. Giles disse que, como coordenador geral da campanha, esteve uma única vez com Azevedo. Procurados, o Instituto Lula e a Andrade Gutierrez não se manifestaram.