O avanço da microcefalia 

André de Souza,Gabriela Lapagesse,Renan Xavier

21/01/2016

BRASÍLIA E RIO- O número de casos de microcefalia no Rio continua em ascensão. De acordo com dados da Secretaria estadual de Saúde, divulgados ontem, foram 166 registros em todo o estado, de janeiro do ano passado até anteontem. No boletim anterior, lançado há uma semana, eram 139 notificações da malformação, o que representa um aumento de 19,4%. Em 2014, foram apenas dez.

Entre os 166 casos atuais, 133 são bebês que já nasceram, e os outros 33 ainda estão no útero. Do total de registros, 55 mulheres relataram manchas vermelhas (exantema) no corpo durante a gravidez. A notificação de gestantes com este sintoma — que é um dos relatados por pacientes com zika — tornou-se obrigatória no estado em novembro de 2015. Desde então, foram 2.516 casos de grávidas com exantema. Dessas, até o momento, 113 tiveram diagnóstico de zika, mas ainda não há confirmação se os bebês apresentam microcefalia.

A exemplo do que acontece no Rio, o número total de casos no país aumentou. Mas, segundo o Ministério da Saúde informou ontem, a quantidade de notificações nos últimos meses está caindo. Desde o ano passado, o Brasil já teve 3.893 casos suspeitos de microcefalia relacionados ao vírus zika, distribuídos por 764 municípios de 21 unidades da federação, de acordo com o governo federal. São 10,2% a mais, em relação ao boletim anterior, divulgado na terça-feira da semana passada: eram 3.530 casos suspeitos ao longo de 2015 e nos primeiros dias de 2016. Em todo o ano de 2014, tinham sido registrados 147 casos suspeitos de microcefalia.

Entram na conta do ministério tanto os casos confirmados como os descartados. Ao todo, segundo o boletim de ontem, são 3.381 notificações ainda em investigação, das quais 224 apresentam forte indicação de zika, seis têm comprovada a presença do vírus, e 282 casos já foram descartados. O último bebê a ter confirmada a relação com o vírus é de Minas Gerais. Os números foram atualizados no dia 16 deste mês.

O Ministério investiga ainda o caso de 44 bebês que morreram e apresentavam a malformação, para identificar se houve contaminação pelo vírus. Além desses, tinham sido confirmados na semana passada cinco casos ligados ao zika.

 

VÍRUS CIRCULA EM 21 ESTADOS

O estado de Pernambuco continua sendo o que tem o maior número de casos suspeitos: 1.306. No último boletim, eram 1.236. Em seguida vêm outros do Nordeste: Paraíba (665), Bahia (496), Ceará (216), Rio Grande do Norte (188), Sergipe (164) e Alagoas (158). Depois aparece o Mato Grosso, com 134 casos suspeitos. No Rio de Janeiro, que vem em seguida, o número do Ministério é diferente do apresentado pela Secretaria estadual de Saúde. São 122, de acordo com o órgão federal. Apenas seis estados não têm casos suspeitos: Acre, Amapá, Amazonas, Paraná, Rondônia e Santa Catarina.

A microcefalia é uma malformação na qual os bebês nascem com o crânio menor que o normal. De acordo com o ministério, cerca de 90% dos casos estão associados a retardo mental. O Ministério da Saúde comprovou a relação da epidemia de microcefalia, que atinge principalmente o Nordeste, com o vírus zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo vetor de outras duas doenças: dengue e chicungunha.

Segundo o ministério, a taxa de registro de novos casos diminuiu nas últimas semanas de 2015. Já em 2016, a quantidade de notificações começou a subir, mas caiu novamente. Para o diretor de Vigilância de Doenças Transmissíveis do órgão, Claudio Maierovitch, esses números não refletem necessariamente o que acontece no mundo real, mas podem expressar uma tendência:

— Essa grande queda nas semanas 51 e 52 (as duas últimas semanas do ano) é uma queda artificial de Natal e Ano Novo. Mas parece que já se observa uma tendência de declínio na Região Nordeste. Precisamos observar durante um tempo, para ver se ela será confirmada e mantida.

O vírus zika ocorre em 21 unidades da federação de forma autóctone. Isso significa que a doença é transmitida dentro do próprio estado, e não foi trazida por alguém que se contaminou em outro local. Apenas Acre, Amapá, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Sergipe não estão na lista. Isso não quer dizer que o vírus não tenha circulado nesses lugares, apenas não houve comprovação laboratorial. Como o zika provoca sintomas parecidos com os de dengue e chicungunha, e muitas vezes é assintomático, não é possível descartar esses estados com segurança.

O globo, n. 30117, 21/01/2016. Rio, p. 6