O globo, n. 30078, 13/12/2015. País, p. 10

Assessor de Romário é acusado de cometer quatro homicídios

 

MARCO GRILLO

Segundo ação na qual é réu, Musauer integrava quadrilha do bicheiro Maninho.

Assessor do senador Romário, Wilson Musauer Júnior responde a processo no Rio por homicídio de quatro homens, relata O assessor parlamentar Wilson Musauer Júnior, lotado no gabinete do senador Romário (PSB-RJ), é réu na 2ª Vara Criminal de Guapimirim, na Baixada Fluminense, sob a acusação de homicídio qualificado, ocultação de cadáver e formação de quadrilha.

De acordo com o processo, ao qual O GLOBO teve acesso, Musauer e um comparsa espancaram e usaram cordas para enforcar, até a morte, quatro homens que prestavam serviços para a quadrilha comandada pelo bicheiro Waldemar Paes Garcia, o Maninho, assassinado em setembro de 2004. Segundo o Ministério Público, os líderes do bando desconfiavam que as vítimas, que eram responsáveis por coletar o dinheiro das máquinas de caçaníquel do bicheiro em Pilares, Zona Norte do Rio, estavam desviando parte do montante.

Um dos assessores mais próximos do senador, Musauer — a quem Romário chama de Wilsinho — recebe um salário de R$ 18,9 mil no Senado e dá expediente no escritório mantido pelo senador na Barra da Tijuca, na Zona Oeste. O acusado também é o secretário de Finanças do PSB no Rio, indicado por Romário, presidente do diretório estadual do partido.

A convivência entre os dois vem de longa data. Musauer exerceu as funções de segurança e motorista de Romário quando ele era jogador. O acusado também trabalhou no Café do Gol, boate e restaurante que o senador manteve na Barra, entre o fim dos anos 1990 e o início dos anos 2000, e foi funcionário de Romário na Câmara dos Deputados. Na tarde do dia 4 de fevereiro de 2004, Elton Figueiredo, Adílson Motta e Paulo Cézar Gomes receberam uma ordem de Pedro Paulo Fernandes, o Pedro Fu, gerente da quadrilha de Maninho e outro réu do processo: deveriam ir ao haras Fazenda Modelo, propriedade do bicheiro em Guapimirim, buscar máquinas de caça-níquel e levá-las a Pilares. Os funcionários contrataram Maurício Alves, que tinha uma Kombi e já fizera serviços de frete para o grupo.

De acordo com a investigação, a ordem fazia parte de uma emboscada. Segundo o Ministério Público, Elton, Adílson e Paulo Cézar foram algemados assim que chegaram ao haras. Levaram socos e pontapés de Musauer, Pedro Fu e de José Luiz de Barros Lopes, o Zé Personal, figura importante na quadrilha até ser assassinado, em setembro de 2011. Ainda de acordo com a denúncia oferecida pelo MP à Justiça, Zé Personal ordenou que os quatro fossem mortos — inclusive Maurício, que assistia à cena e foi executado para que não servisse posteriormente como testemunha do crime.

A investigação aponta que Musauer e Leandro Henrique

do Espírito Santo, outro segurança da quadrilha, morto em 2010, foram os responsáveis pelos assassinatos: “As quatro vítimas foram enforcadas pelo denunciado Wilson e por Leandro mediante a utilização de corda para a constrição física da musculatura do pescoço, causa eficiente de suas mortes”, assinalou o MP.

Musauer e o comparsa são acusados ainda de terem ateado fogo aos quatro corpos em seguida. Uma perícia realizada em 2008, quatro anos após os supostos crimes, encontrou uma ossada no local. O GLOBO não encontrou no processo o resultado do exame de DNA referente ao caso.

No inquérito que serviu de base à denúncia do MP, o delegado Milton Olivier também não demonstrou dúvidas quanto aos participantes: “O que temos demonstrado nestes autos é que Pedro Paulo, Zé Personal, Júlio e Wilson Musauer, reunidos de forma estável e permanente para a prática dos crimes descritos, sequestraram, torturaram e participaram da morte das vítimas neste feito, tudo ocorrido no interior do haras de propriedade do então bicheiro Maninho, em Guapimirim”. O Júlio citado no inquérito é um então funcionário da propriedade, que chegou a ser denunciado pelo MP, mas foi retirado posteriormente da ação penal. Em depoimento à Justiça, em junho deste ano, uma testemunha contou que ligou para Pedro Fu no dia seguinte ao desaparecimento para saber o paradeiro das vítimas e ouviu um conselho irônico: “Procura um advogado”.

Musauer admitiu, para a Polícia Civil, que trabalhou como operador de máquinas caçaníquel por um período, depois de deixar o Café do Gol. O assessor de Romário conta que pediu o emprego a Maninho, que o orientou a procurar Pedro Fu. Os três se conheceram no Salgueiro, escola frequentada por Musauer e da qual Maninho foi patrono. Pedro Fu é irmão da atual presidente da escola de samba, Regina Celi, e, em 2008, sofreu um atentado na entrada da quadra. Questionado na ocasião sobre o sumiço das vítimas, Musauer afirmou que só “soubera do desaparecimento três dias após o ocorrido”.

Nos autos do processo, “um organograma da composição da organização criminosa” aponta Musauer como um integrante ligado diretamente a Pedro Fu. Este, por sua vez, seria chefiado por Zé Personal e Shana, filha de Maninho, o líder máximo da quadrilha.

A ficha criminal de Musauer traz ainda uma investigação por tráfico de drogas. Não há, nos autos, no entanto, a conclusão do inquérito, e nenhum processo referente ao assunto foi encontrado no Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) e em instâncias superiores.

Musauer ainda não foi ouvido pela Justiça. A última movimentação do processo aconteceu em junho deste ano, quando testemunhas foram ouvidas. Após a audiência, o Ministério Público solicitou que mais testemunhas sejam convocadas a depor.

___________________________________________________________________________________________________________________________________

Romário, o protagonista imprevisível

 

Senador ainda não expôs claramente o que deseja em 2016.

Osenador Romário (PSB-RJ) é, hoje, um dos protagonistas do processo eleitoral no Rio. Pré-candidato natural à prefeitura — em 2014, teve 4,6 milhões de votos ao Senado, a maior votação para o cargo na História do estado —, ainda não expôs com clareza o que espera das eleições em 2016. Ao mesmo tempo em que lidera as pesquisas internas dos partidos e conversa com aliados sobre a possibilidade de concorrer, hesita e incomoda o PSB por discutir alianças sem o consentimento de outros nomes importantes da legenda.

As conversas fazem parte de uma iniciativa particular. A Executiva Nacional do PSB decidiu que o partido terá candidaturas próprias em cidades como Rio e São Paulo. O presidente da sigla, Carlos Siqueira, rechaçou a aliança com o PMDB, desejo do prefeito Eduardo Paes, com quem Romário já tratou o assunto.

— Não estaremos em hipótese alguma com o PMDB. Nossa ideia é ter candidatura própria — disse Siqueira ao GLOBO, há uma semana.

CONVERSA COM CRIVELLA

A tese da candidatura própria foi referendada pelo diretório estadual, no início da semana, e pela seção do partido na capital, na quinta-feira. Romário é o candidato mais provável e, ao longo da semana, mostrou, segundo interlocutores, uma inclinação maior a concorrer à sucessão de Paes. Mas, por ter fama de “imprevisível” entre os aliados, a sigla já se prepara para o caso de ele optar por ficar em Brasília.

— Não podemos esperar para sempre uma decisão do Romário — alfineta um representante da direção da legenda.

Uma possibilidade que começa a surgir no cenário é a filiação do senador Marcelo Crivella (PRBRJ), o segundo colocado nas pesquisas internas dos partidos. O assunto é tratado com cautela, mas já foi tema de conversas entre Siqueira e Crivella.

— A relação deles é muito boa, e as conversas estão avançando — conta uma fonte do PSB.

O protagonismo de Romário resiste. Mas, daqui para frente, dependerá de um gesto que o torne menos individualista aos olhos do partido.