O globo, n. 30073, 08/12/2015. País, p. 4

Cunha, oposição e ala do PMDB adiam instalação de comissão

 
ISABEL BRAGA, JÚNIA GAMA, EVANDRO EDUARDO BRESCIANI LETÍCIA FERNANDES

Grupo apresenta chapa alternativa para tentar mudar perfil pró-governo.

-BRASÍLIA- Uma articulação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com partidos de oposição e dissidentes do PMDB resultou na apresentação de uma chapa alternativa à Comissão Especial que vai examinar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff e ao adiamento da eleição de seus membros, que estava marcada para ontem.

A composição da comissão será definida no voto, em plenário, e o governo terá que ter número suficiente para garantir que a chapa indicada pelos líderes aliados seja vitoriosa contra a chapa alternativa, com nomes favoráveis ao impeachment. As chapas podem ser apresentadas até 14h de hoje.

A estratégia de tirar o poder dos líderes na indicação dos nomes foi recebida com irritação por partidos da base, como PT, PMDB e PCdoB, e também de parte da oposição, como PSOL e Rede. Juntos, os líderes José Guimarães (governo), Leonardo Picciani (PMDB) e Jandira Feghali (PC do B) deixaram o gabinete de Cunha criticando o que consideraram uma manobra do presidente e seguiram para uma reunião com o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), no Planalto.

O líder do PT, Sibá Machado (AC), deixou a reunião com Cunha, antes de ser finalizada.

— Isso arrebenta qualquer relação, não é razoável dentro do campo democrático, contamina o processo. Ele (Cunha) está mudando prazos, a chapa alternativa fomenta a briga interna nas bancadas — protestou Sibá.

O líder do governo, José Guimarães (PT-CE), engrossou o coro das críticas:

— Isso fere o acordo político com os líderes, fere a lei. Nós, líderes de vários partidos, não aceitamos esse tipo de manobra. É uma oposição que não tem voto para fazer o que quer e faz esse conluio com o presidente da Casa, alterando a regra do jogo para evitar a eleição da comissão.

Insatisfeitos por terem sido excluídos das listas feitas pelos líderes de seus partidos, deputados do PMDB, PP e PSD que defendem o impeachment lideram a construção da chapa alternativa. O argumento usado pelos dissidentes foi a decisão dos líderes de, sem consulta às bancadas, indicar só nomes alinhados ao Planalto.

— Ele escolheu os nomes sem consultar a bancada, tem medo de falar com a gente. Com a chapa branca, vamos para a guerra. Ele, se quiser, que nos ligue — avisou o deputado Osmar Terra (PMDB-RS), um dos articuladores da chapa alternativa ao lado do baiano Lúcio Vieira Lima, referindo-se ao líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani.

— O governo quis usar seu rolo compressor para estuprar a democracia e só colocar na comissão deputados afinados com o Planalto. No meu partido, nem reunião de bancada teve — queixou-se o deputado Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ), que conseguiu a adesão de outros três deputados da legenda.

Líderes de PSDB e DEM vão protelar ao máximo a escolha dos nomes para a comissão, pois avaliam que se o processo andar muito rápido, “o governo leva”.

— Estamos enrolando para embolar essa nomeação. Queremos garantir que a análise fique para depois do carnaval — disse um dirigente tucano.