Cunha recebe o apoio de 12 partidos

 

ISABEL BRAGA, CHICO GÓIS, DE MARIA LIMA LETÍCIA FERNANDES 

O globo, n. 30047, 12//11/2015. País, p. 6

 

A decisão do PSDB de pedir o afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, levou a um racha na oposição. Ontem, líderes de 12 partidos, entre eles cinco da base governista, deram “total apoio” a Cunha. -BRASÍLIA- Depois do abandono dos principais partidos da oposição, os aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se mobilizaram ontem para dar uma demonstração de força em plenário. Conseguiram o apoio de 12 partidos, mas que não representam metade da Casa. Em fevereiro deste ano, Cunha foi eleito presidente da Câmara, logo no primeiro turno, com a maioria absoluta dos votos da Câmara.

ANDRÉ COELHOSolidariedade. Cunha ouve cochicho do deputado Elmar Nascimento (DEM-BA): Presidente da Câmara recebeu apoio de Rodrigo Maia, também do DEM

O manifesto em apoio à Cunha foi proposto pelo líder do PSC, André Moura (SE), um dos aliados mais próximos do presidente, e apoiado por líderes de partidos da base aliada que costumam frequentar os almoços na residência oficial, como PMDB, PSD, PP, PR e PTB. Da oposição, mantém-se fiel a Cunha apenas o Solidariedade. A principal incógnita do apoio a Cunha continua sendo o PT, que não assinou o manifesto e tampouco saiu a público criticando o presidente.

— Aqui são mais de 230 deputados representados por seus líderes que ratificam a confiança na condução de Cunha — disse Moura.

Assim que ele acabou de falar, Rodrigo Maia (DEM-RJ) o corrigiu, dizendo que eram 231, dando seu apoio ao documento

No Conselho de Ética, o PT tem três deputados e poderá ser decisivo para dar continuidade ao processo contra o presidente da Câmara por quebra de decoro parlamentar. Aliados de Cunha avaliavam ontem que o PSDB, ao romper com o presidente da Câmara o jogou “no colo” do PT, e que o jogo se inverteu: o PT poderá ajudar Cunha no conselho e, em troca, ele não dar andamento ao pedido de impeachment de Dilma Rousseff. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem defendido que mais importante que derrubar Cunha, é garantir a governabilidade de Dilma.

Os petistas do conselho, no entanto, garantem que não há pressão sobre o voto a ser dado no próximo dia 24, quando o relatório do deputado Fausto Pinato (PRB-SP) será apresentado aos deputados. Zé Geraldo (PTPA) mantém a disposição de votar para continuar o processo e Valmir Prascidelli (PT-SP), quer esperar o relatório, mas diz que entende que há elementos para aprofundar as investigações.

— Não houve gestão sobre o voto. Vamos avaliar o processo — afirmou Prascidelli.

O líder do PT, Sibá Machado (AC) insiste que os conselheiros terão liberdade para votar:

— Acho errado pressionar os membros do Conselho de Ética. Eles vão agir conforme suas convicções.

Além de ratificar o apoio a Cunha, o manifesto defendeu a continuidade das votações na Câmara, o que é a principal preocupação do governo. Segundo o texto, mais importante que “eventuais disputas políticas” neste momento de crise econômica, é a Câmara votar.

— A oposição mudou de posição porque Cunha mudou o posicionamento em relação ao impeachment. O PR assina a nota, mas dará a seus membros no conselho toda autonomia — garantiu o líder do PR, Maurício Quintella Lessa (AL).

— Respeito o posicionamento do PSDB, mas se todo mundo romper com ele, o que será dessa Casa? Vamos tirar do presidente o direito de se defender? — justificou Rogério Rosso (DF), líder do PSD.

A decisão do PSDB de romper com Cunha foi tomada em reunião na noite da última segunda-feira, na qual a maioria foi a favor do afastamento de Cunha.

— Não elegemos o Eduardo Cunha. Ele nos ofereceu, às claras, um espaço legítimo que cabia à oposição, relatorias da reforma política e nas comissões. Veio a denúncia, demos o tempo para que viessem as provas e que ele se defendesse. Mas a defesa foi absolutamente insatisfatória e nós não seremos sócios desses delitos — disse o presidente do PSDB, Aécio Neves (MG).

Na Câmara, de forma meio envergonhada, sem citar enfaticamente a defesa do afastamento de Cunha da presidência da Câmara, o PSDB focou suas críticas ao peemedebista nas explicações apresentadas por ele para os recursos que mantém no exterior.

 

Aberto processo contra Chico Alencar, crítico de peemedebista

 

CHICO DE GOIS

 

O Conselho de Ética da Câmara instaurou ontem processo por suposta quebra de decoro parlamentar contra o deputado Chico Alencar (PSOLRJ). A representação foi proposta pelo presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SD-SP), aliado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que assumiu a vaga de titular da comissão na vaga de Wladimir Costa (SDPA), que deixou a função por problemas de saúde. Foi o PSOL que fez a representação contra Cunha no Conselho de Ética por quebra de decoro.

MICHEL FILHOLado a lado. Chico Alencar (à direita), cujo partido representou contra Cunha, acusa Paulinho de “vingança baixíssima”

O presidente do conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA) sorteou três nomes para relator do processo de Chico. Ele escolherá entre Sérgio Brito (PSD-BA), Zé Geraldo (PT-PA) e Sandro Alex (PPS-PR) quem ficará responsável pelo caso.

Sem citar o nome de Paulinho, Chico criticou duramente a iniciativa do colega, qualificando a ação de retaliação e tentativa de intimidação pelo fato de o PSOL, do qual ele é líder, ter representado contra Cunha no mesmo conselho. Paulinho também foi alvo de denúncia do PSOL no mesmo Conselho de Ética ,em 2008.

— O que estamos recebendo não é uma representação, mas uma retaliação, uma tentativa de intimidação. É fazer revanche política no espaço sagrado do conselho. Isso tem tudo a ver com Cunha — atacou Chico.

Paulinho acusa o deputado do PSOL de ter recebido doações na campanha do ano passado de servidores do gabinete dele, cujo valor teria sido superior ao teto de 10% da renda bruta fixado pela Justiça Eleitoral. Além disso, Paulinho afirma que Chico utilizou recursos da verba indenizatória para pagar por serviços de uma empresa que seria fantasma.

Chico nega as acusações, diz que suas contas eleitorais foram aprovadas. Sobre a empresa, ele afirma que ressarciu a Câmara quando foi informado de que ela não tinha CNPJ.

— Se todos os deputados que receberam recursos de servidores fossem representados no Conselho de Ética, 125 estariam nessa situação, inclusive o acusador. Santa hipocrisia — afirmou Chico. — Essa peça é politiqueira e de vingança baixíssima.

Paulinho negou que a representação se trate de retaliação.

— Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Não adianta querer fazer comparação com Eduardo Cunha. É uma oportunidade de esclarecer — afirmou. — Não pode ficar sobre você essa série de irregularidades que aconteceram.

O deputado Paulo Azi (DEMBA) levantou uma questão de ordem. Ele quis saber se Paulinho, por ser o autor da representação, poderia participar e votar nas decisões do conselho envolvendo Chico. O presidente ficou de responder outro dia.