Governistas atuaram para encerrar CPI

 

EDUARDO BRESCIANI

O globo, n. 30027, 23//10/2015. País, p. 5

 

A aprovação do relatório da CPI da Petrobras sem o indiciamento de nenhum parlamentar ou integrante do Executivo e com ataques à Operação Lava- Jato contou com a atuação do líder do governo, José Guimarães ( PT- CE), do vicelíder Ricardo Barros ( PPPR) e do líder do PSD, Rogério Rosso ( DF). Eles acompanharam a votação que entrou pela madrugada de ontem e comemoraram a vitória.

Foram 17 votos a favor, 9 contrários e uma abstenção. O texto aprovado, do deputado Luiz Sérgio ( PT- RJ), relator da CPI, afirma que o escândalo se resumiu a um cartel de empreiteiras que teve a complacência de funcionários da Petrobras. O único político indiciado é o ex- tesoureiro do PT João Vaccari Neto, cuja acusação foi incluída de última hora.

A maioria que aprovou o relatório foi “silenciosa”. Dos 11 deputados da comissão que fizeram a discussão pública do trabalho de Luiz Sérgio, apenas Valmir Prascidelli ( PT- SP) fez elogios ao texto. Os três líderes que ajudaram na construção do acordo pela aprovação não acompanharam os trabalhos da comissão ao longo dos oito meses de duração da comissão. Até Barros, que era membro, raramente apareceu nos depoimentos e sessões de votação de requerimento.

A presença deles na sessão final irritou o deputado Delegado Waldir ( PSDB- GO), que acusou Guimarães de estar fazendo “troca- troca” na CPI e afirmou que o relatório estava recebendo a “bênção do Palácio do Planalto”. O líder governista não respondeu, mas deixou clara a atuação do governo, destacando a importância da vitória por larga margem de votos.

PRESSÃO DO PRESIDENTE DA CPI

O presidente da CPI, Hugo Motta ( PMDB- PB), também foi determinante para o resultado. Ao responder questionamento do vice- presidente da comissão, Antonio Imbassahy ( PSDB- BA), ele deixou claro que só havia dois caminhos: aprovar o texto de Luiz Sérgio ou ficar sem relatório. Usando argumentos da área técnica da Câmara, Motta frisou que, em CPIs, os votos em separado são “declarações de voto que acompanham o relatório” e não podem substituir o trabalho do petista como texto final. A resposta foi determinante e até parlamentares que tinham criticado o texto preferiram aprová- lo a deixar a CPI sem conclusão.

A atuação do governo foi ainda mais visível na votação dos destaques. Os parlamentares da base rejeitaram propostas da oposição para retirar ataques de Luiz Sérgio às delações premiadas da Lava- Jato, bem como a tentativa de pedir investigações ao Ministério Público sobre a atuação da presidente Dilma Rousseff e dos ex- presidentes da Petrobras José Sérgio Gabrielli e Graça Foster. Ficou mantida no relatório também a recomendação de que os delegados da Lava- Jato sejam investigados por vazamento de informações e escutas ilegais.

A deputada Eliziane Gama ( Rede- MA) lembrou que a comissão gastou R$ 1,1 milhão para contratar a empresa Kroll e recebeu dela só “recortes de jornais”. Destacou que esse trabalho mereceu apenas menção de duas páginas no trabalho final; que houve blindagem a políticos na CPI e que o relatório não reflete o tamanho do escândalo.

— É um relatório pífio, que subestima a capacidade de raciocínio do povo brasileiro — afirmou Eliziane.

 

Agora é só para olhar e lavar

 

CAROLINA BRÍGIDO

 

Oministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava- Jato no Supremo Tribunal Federal ( STF), autorizou que o próprio senador Fernando Collor ( PTB- AL) seja o fiel depositário dos carros de luxo apreendidos na casa do parlamentar. Estão na frota uma Ferrari, um Bentley, um Land Rover e uma Lamborghini. O Porshe Panamera não foi liberado, mas isso poderá ocorrer quando a empresa que é oficialmente dona do carro, a GM Comércio de Combustível, enviar uma autorização ao STF.

UESLEI MARCELINO/ REUTERS/ 14- 7- 2015De volta. A Ferrari é um dos carros que ficará sob a guarda de Collor. Mas ele não poderá dirigir os automóveis

Os carros serão restituídos a Collor, mas ele poderá ser obrigado a devolvê- lo, se for condenado ao fim do processo no STF. Portanto, ele não foi autorizado a vender os veículos. O parlamentar também ficará impedido de dirigir os carros. Teori Zavascki ordenou que a indisponibilidade para trafegar seja registrada no Departamento de Trânsito ( Detran).

De acordo com Teori, o custo de manutenção dos carros seria muito alto para o poder público e, caso ficassem sem cuidados, teriam seus valores depreciados. A decisão, que foi tomada, a pedido da defesa de Collor, ordena que o senador e ex- presidente arque com custos de manutenção e deixe os veículos em perfeito estado.

“Nomeio o requerente, em caráter provisório, fiel depositário dos bens apreendidos, exceto o veículo Porche, mediante a assinatura de termo próprio, cumprindo- lhe, além da observância da natural indisponibilidade desses bens, os ônus e deveres correspondentes à condição de depositário judicial, notadamente os de sua guarda e conservação e o de imediata restituição quando para tanto for intimado”, escreveu o ministro.

Collor é um dos políticos investigados na Lava- Jato. O senador já foi denunciado pelo Ministério Público ao Supremo, sob acusação de ter sido beneficiado com pagamento de propinas a partir de contratos de empresas com a Petrobras.