Título: América Latina tem de fazer dever de casa
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Fonte: Correio Braziliense, 23/09/2011, Economia, p. 11

Para afastar risco de contágio, região precisa empreender reformas internas, diz Banco Mundial. A receita também vale para os Brics Publicação: 23/09/2011 02:00

Não tomem decisões estúpidas, não deixem que o mundo caia no protecionismo e mantenham a concentração nos motores de crescimento de longo prazo" Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial

Washington ¿ Para se afastar do atoleiro econômico em que se afundou os países da Zona do Euro e os Estados Unidos, a América Latina deve persistir em reformas internas e diversificar a atividade, recomendou, ontem, Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial (Bird), uma das autoridades mais ouvidas durante a crise mundial. A região crescerá, de acordo com os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), "robustos" 4,5% em 2011, um dos melhores desempenhos globais. Mas não há garantias de que, sem os ajustes, os latino-americanos sigam nessa regularidade nos próximos anos.

"Um dos desafios que estamos discutindo com a América Latina é o de que eles possam garantir que suas reformas estruturais diversifiquem ainda mais suas economias", afirmou Zoellick, na capital dos Estados Unidos. A seu ver, a boa notícia é que a América Latina vem de uma "revolução silenciosa" na última década, com adoção de medidas políticas macroeconômicas e monetárias prudentes e taxas de câmbio flexíveis. Outra vantagem é a demanda agrícola em alta. Mas nem tudo são flores. A dependência da exportação de minério, principal produto de exportação da região, traz incertezas no momento em que a produção das fábricas mundiais, sobretudo na China, indica desaceleração.

Nervosismo Zoellick pediu também aos países ricos mais compromisso com reformas, sobretudo aquelas que venham a diminuir o nervosismo dos mercados ¿ um risco para a economia global e até para regiões hoje mais fortes, como a América Latina ou para os países que formam os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). "Ninguém vai ficar imune a esse tipo de turbulência. Queremos trabalhar com nossos sócios latino-americanos para que eles continuem beneficiando-se dos passos que foram tomados, mas creio que eles também estão preocupados pelos acontecimentos na Europa e Estados Unidos", disse. Ao menos no discurso, os Brics garantiram que vão fazer o dever de casa.

Em uma declaração conjunta em Washington, os cinco países do grupo disseram que estão "determinados a acelerar as reformas estruturais para sustentar um crescimento forte" nos próximos anos. Os Brics voltaram ainda a oferecer ajuda ao FMI ou a outras instituições financeiras internacionais, a fim de enfrentar os desafios à estabilidade financeira mundial.

FMI prolonga empréstimos O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou que seus Estados membros prolongaram em seis meses o acesso a recursos excepcionais que podem ser emprestados por um total de 36 países. O conselho de administração do organismo concedeu, em 1º de abril, autorização para a utilização, durante um semestre, do fundo denominado Novos Acordos de Empréstimo (NAE). Ontem, o colegiado decidiu ampliar a duração até 31 de março. Lançados na crise asiática em 1997, os NAEs estabeleceram que o FMI pode pedir emprestado aos Estados membros até US$ 571 bilhões ¿ volume que hoje completa os recursos permanentes do Fundo, ou seja, as cotas partes pagas pelos 187 Estados membros.