Título: Dilma rejeita queda do PIB
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 12/08/2011, Economia, p. 10

Pelo quarto dia seguido, presidente afirma que a turbulência global não fará a economia brasileira voltar a andar para trás

A presidente Dilma Rousseff voltou a dizer ontem que o Brasil não vai passar por uma nova recessão, caracterizada como uma retração na atividade econômica por dois trimestres consecutivos. Foi a quarta vez, nesta semana, em que ela negou um eventual encolhimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas geradas) e tentou injetar otimismo em empresários e economistas. A frequência com que Dilma e seus ministros da área econômica rejeitam a ideia mostra o grau de tensão com que o governo enfrenta o agravamento da crise internacional, que deve afetar o país, afirmam analistas.

"Estamos mais fortes. Não vamos enfrentar a crise com recessão. Vamos enfrentar a crise com mais projetos", disse a presidente em visita às obras de terraplanagem da Companhia Siderúrgica do Pecém, em São Gonçalo do Amarante (CE). Dilma mencionou os empreendimentos no porto cearense como um exemplo da atitude que quer ver nas ações governamentais: investimentos públicos para estimular o crescimento da economia e a criação de postos de trabalho. "Vamos nos defender da crise gerando emprego, assegurando renda e defendendo nosso mercado interno." Em 2009, o PIB do país recuou 0,6% em virtude da derrocada global iniciada no ano anterior.

Numa outra cerimônia, também no Ceará, a presidente repetiu o assunto. "Eu queria deixar claro que o Brasil está forte o suficiente para enfrentar essa crise. Está forte porque não vamos parar de trabalhar. Vamos continuar com todos os programas, como o Minha Casa, Minha Vida dois", disse em discurso de inauguração da Policlínica Regional de Pacajus. Ela citou também as reservas internacionais, que chegaram ontem a US$ 350 bilhões, como uma garantia de tranquilidade contra as turbulências nos mercados. "É uma fala de otimismo não porque quero aqui chegar e criar uma impressão que não seja verdadeira. É um recado de otimismo porque é verdade."

Mais cedo, em entrevista a emissoras de rádio em Fortaleza, Dilma assegurou que sua equipe está alerta para os sinais da economia. "Eu estou muito preocupada e atenta. O governo federal inteiro está atento a essa crise internacional que a gente tem visto", disse. Segundo ela, a raiz dos problemas é o fato de os bancos terem sido "completamente desregulamentados", o que resultou no baque financeiro de 2008. Ela garantiu estar tranquila diante da queda de popularidade apontada em levantamento do Ibope, segundo o qual a avaliação boa ou ótima da sua administração caiu de 56% em março para 48%.

Unasul O ministro da Fazenda, Guido Mantega, viajou ontem para Buenos Aires, onde vai se reunir com seus colegas da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), para discutir ações que reduzam o impacto da crise mundial na região. "Vamos conversar sobre as consequências na América Latina e as medidas que podemos tomar para nos fortalecer e impedir que sejamos contagiados. Temos um desempenho melhor que os países avançados da Europa e dos Estados Unidos e queremos preservar isso", afirmou. Ele defendeu o estreitamento maior nas relações entre os países do bloco e garantiu que o governo vai controlar os gastos públicos para evitar uma escalada da dívida.

Cuidado O economista Demetrius Borel Lucindo, da corretora Prosper, minimiza os efeitos de encontros como o da Unasul. "Não vejo muita relevância nessas reuniões. Hoje, o mais importante é acompanhar a situação da Europa e dos Estados Unidos", disse. Ele lembrou que, embora o governo tenha tomado medidas corretas para enfrentar a crise, ainda peca pelo grau de endividamento. "Nossa dívida cresce mais de 12% ao ano por causa dos altos juros. Isso significa que ela dobra a cada seis anos, ao contrário de outros países com juros abaixo de 0,5% anuais. Temos que tomar muito cuidado."