Com receita menor, sindicatos cortam gastos e demitem

06/08/2015

Por Camilla Veras Mota | De São Paulo

 

 O Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo demitiu neste ano 80 dos 370 funcionários, vendeu 46 dos 96 carros que possuía e tenta como pode cortar gastos de energia e telefone. O "ajuste" no orçamento, segundo Antônio de Souza Ramalho, presidente da entidade, é reflexo da queda contabilizada em diversas fontes de receita do SintraconSP, entre elas o imposto sindical. Com o aumento forte das demissões no setor, que só na região metropolitana perdeu 33,8 mil vagas nos 12 meses encerrados em junho, o repasse dessa contribuição caiu 31,5% em 2015, para aproximadamente R$ 5,2 milhões.

O recolhimento do imposto sindical em todo o país vem crescendo menos há pelo menos quatro anos. Dados do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) mostram que, entre o primeiro semestre de 2012 e o mesmo período deste ano, a variação do volume arrecadado sobre o mesmo período do ano anterior caiu, em termos nominais, de 14,4% para 8,21% - percentual já inferior ao da inflação acumulada no período, de 8,89% nos 12 meses até junho.

Diante da perspectiva de aumento do desemprego, a situação tende a se agravar em 2016, avalia José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O imposto, que corresponde a um dia de trabalho por ano, é descontado da folha de pagamento geralmente no mês de março. "E as demissões só aumentaram depois desse período", diz o coordenador. No ano passado, 90,5% dos R$ 3,5 bilhões arrecadados entraram nos relatórios financeiros do FAT até junho.

Indústria e construção, que contabilizam perdas maiores no emprego em 2015 do que serviços e comércio, por exemplo, são os setores que mais relatam alguma perda de receita. O Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, por exemplo, conta neste ano com orçamento mais curto em R$ 200 mil, segundo Bartolomeu Citelli, diretor de comunicação. A restrição não chegou a comprometer a estrutura da entidade, que conta com 60 funcionários, incluindo 10 advogados, e está presente nas cidades de Volta Redonda, Barra Mansa e Resende. Alguns projetos, entretanto, foram "para a geladeira", entre eles o novo centro de formação e os cursos de qualificação.

O Sindicato da Construção Civil do Rio (Sintraconst-Rio), fundado em 1931, tem porte de "média empresa", na definição de seu presidente, Carlos Antônio Souza. São 250 funcionários - que cumprem jornada de 40 horas semanais e têm benefícios como plano de saúde -, frota com mais de 20 carros e três subsedes. Por isso, a redução de aproximadamente 10% na receita em 2015 não deverá provocar grandes reestruturações orçamentárias. A preocupação é com os próximos dois anos. Sem uma recuperação do setor e com a conclusão das obras para a Olimpíada, diz Souza, o sindicato teme ver a arrecadação cair pela metade.

Mesmo quem não depende do imposto sindical tem visto a receita cair em 2015. O Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas, por exemplo, que se financia especialmente através da chamada contribuição associativa, anuidade paga pelos trabalhadores que são sócios da entidade, viu sua base encolher em 10,4 mil metalúrgicos de janeiro a maio. "Com essas demissões, acabamos perdendo também trabalhadores sindicalizados", diz o presidente, Cidalino Orsi Junior. Ligada à Intersindical, a entidade é contrária à cobrança do imposto, o qual devolve à sua base.

No Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, que conta 200 mil trabalhadores, as perdas com a contribuição foram de 12% em 2015, conta Miguel Torres, à frente da entidade. Na Força Sindical, também presidida por ele, a arrecadação recuou entre 15% e 16%. Diante do novo cenário, o sindicato tem reforçado as campanhas de sindicalização, para tentar incrementar as receitas que vêm da contribuição associativa. A central, por sua vez, tem procurado reduzir gastos, por exemplo, com viagens para reuniões em Brasília. "Estamos mandando menos gente", conta Torres.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) diz ainda não ter sentido impacto da desaceleração das receitas com o imposto. Quintino Severo, da secretaria de administração e finanças, frisa que a entidade "presta conta com seus associados" e não divulga seus números de forma pública. A lei que incluiu as centrais na partilha da contribuição sindical, em 2008, excluiu o artigo que previa a prestação de contas das entidades com o Tribunal de Contas da União (TCU). Severo ressalta, contudo, que o imposto é uma complementação do orçamento da CUT, sustentado pelo que é pago pelos quase 3,8 mil sindicatos filiados, a chamada receita estatutária.

No primeiro semestre, dos R$ 3,5 bilhões arrecadados com o imposto sindical, o FAT repassou 55,4% aos mais de 10,8 mil sindicatos com registro ativo no Ministério do Trabalho, 15,7% às federações, 5,9%, às confederações e 5,7% às seis centrais sindicais reconhecidas pelo governo.

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Crise se aprofunda e construção amplia previsão de queda

 

Por Chiara Quintão | De São Paulo

A projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil deste ano foi, novamente, revisada para baixo. O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), que estimava queda de 5,5% no PIB do setor, projeta agora retração de 7%. Os dados do setor abrangem os segmentos de edificações - residenciais e não residenciais -, infraestrutura - obras viárias, energia, telecomunicações e saneamento -, serviços especializados em construção - obras de acabamento, instalações e preparação de terrenos - e demanda das famílias.

"A queda maior será no segmento de infraestrutura", diz o presidente do Sinduscon-SP, José Romeu Ferraz Neto, que avalia o desempenho do setor, no primeiro semestre, como "péssimo". "As obras de infraestrutura estão paradas. O governo não está contratando e tem atrasado pagamentos", ressalta Ferraz Neto.

A estimativa para o setor leva em conta a projeção do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV) de queda de 2% para o PIB do Brasil em 2015. Se houver uma "deterioração muito rápida" do cenário, o Sinduscon-SP pode rever, outra vez, o que espera para o ano, segundo Ferraz Neto. Entre as mudanças que afetariam, negativamente, a projeção da entidade estão eventual alteração na remuneração do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a terceira fase do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida não ser anunciada ainda neste ano.

Conforme a coordenadora de projetos do setor da construção da FGV, Ana Maria Castelo, a piora da projeção setorial se deve, principalmente, aos investimentos públicos e privados adiados, neste ano, "ou mesmo cancelados". "Investimentos privados das empresas foram postergados, e houve redução das obras dos governos federal, estaduais e municipais", diz Ana Castelo.

No mercado imobiliário, acrescenta a representante da FGV, a crise maior do que a inicialmente esperada faz com que o começo de um novo ciclo seja adiado e que lançamentos e vendas continuem a ter retração. "O consumo das famílias também registra queda. A renda real está caindo, e as restrições de crédito afetam a compra de materiais de construção", diz Ana Castelo.

O PIB do setor de construção não inclui a produção física de materiais, mas o desempenho da indústria e do varejo apontam menos gastos das famílias com reforma e autoconstrução. Nesta semana, a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) divulgou que as vendas dos fabricantes de materiais caíram 9,1% até julho. A projeção da Abramat para o ano é de queda de 7%, com retração das vendas para a infraestrutura, seguida da comercialização para o setor imobiliário e varejo, de acordo com o presidente da entidade, Walter Cover.

Já as vendas do varejo de materiais de construção estão estáveis o acumulado até julho, segundo o presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Materiais de Construção (Anamaco), Claudio Conz. A entidade mantém a projeção de crescimento de 3% no ano. "A base de comparação do segundo semestre de 2014 é muito ruim", diz Conz.

Dados da pesquisa de emprego com carteira assinada realizada pelo Sinduscon-SP em parceria com a FGV, a partir do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) demonstram que, no primeiro semestre, o número de pessoas empregadas no setor teve queda de 10,8% em relação a dezembro, com o corte de 157,2 mil empregos. A maior redução foi no segmento de infraestrutura (13,18%), seguida pelo de edificações (10,17%). No segmento de obras de acabamento, a redução foi menor, de 1,94%, devido ao elevado volume de entregas de empreendimentos.

O Sinduscon-SP estima que a construção encerrará 2015 com redução de 480 mil empregos ante dezembro de 2014, com queda de 14,3%. Se a estimativa se confirmar, haverá perda de 750 mil empregos no biênio 2014/2015.

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Erros na condução da política econômica reduziram produtividade, afirma Bonelli

 

Por Tainara Machado | De São Paulo

Na tentativa de enxergar um horizonte para a economia brasileira para além da "bruma" que envolve 2015, Regis Bonelli, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), analisou os fatores que determinam o crescimento econômico nos últimos 15 anos "para entender como o desempenho econômico no passado pode afetar nossas perspectivas de longo prazo".

Para Bonelli, que fará apresentação no seminário "A agenda de crescimento do Brasil", do qual também é organizador, a conjuntura econômica está carregada de pessimismo, mas é preciso "olhar além dessa bruma de curto prazo".

Segundo Bonelli, até 2010 o Brasil conseguiu aumentar o estoque de capital (máquinas, por exemplo) por trabalhador e a eficiência da economia. Nos quatro anos encerrados em 2014, porém, esse quadro se alterou. A produtividade do trabalho cresceu menos do que no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto a produtividade do capital teve forte queda. O resultado foi uma queda significativa da produtividade total dos fatores. "E essa redução aconteceu bruscamente a partir de 2011, o que leva a crer que não está associada nem à crise econômica internacional e nem às mudanças de composição da economia doméstica".

Para Bonelli, embora essa seja apenas uma hipótese, há evidências de que erros na condução da política econômica distorceram a alocação de recursos na economia. "Todo gasto com investimento que não gera valor adicionado implica redução da produtividade", diz. Um exemplo óbvio, afirma, é a construção de usinas de energia sem linhas de transmissão. "O capital foi alocado para aquela obra, mas os benefícios não foram obtidos."

Para Bonelli, a boa notícia é que a condução mais acertada da política econômica nos próximos anos poderia garantir novos aumentos da produtividade total dos fatores, da ordem de até 1% ao ano. Caso o governo também consiga destravar o investimento em infraestrutura, por exemplo, o potencial de crescimento da economia brasileira poderia saltar para até 3,5%.

O cenário pessimista, em que essas condições não se materializem e o potencial fique mais dependente do crescimento da oferta de trabalho, a taxa média de avanço do PIB do país ficaria mais próxima de 1,5% ao ano, diz.

Os pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Ronaldo Souza e Paulo Levy, que vão dividir a mesa sobre crescimento e demografia com Bonelli, devem ampliar o debate sobre essa questão. Segundo os autores, embora as mudanças demográficas possam afetar significativamente a economia, só recentemente a questão ganhou relevância.

Segundo os autores, o crescimento da força de trabalho em ritmo superior ao da população total deu contribuição importante para crescimento do PIB per capita a partir da década de 1970, mesmo com lenta expansão da produtividade do trabalho. Nos próximos anos, porém, o crescimento projetado da força de trabalho com o envelhecimento da população aponta taxas de crescimento ao redor de 2% ao ano até 2050. Elevar esse potencial depende de investimentos, o que esbarra nas baixas taxas de poupança domésticas.

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Desemprego só recua no fim de 2017, prevê pesquisador

 

Por Alessandra Saraiva | Do Rio

Com a intensificação de corte de vagas nos setores de comércio e serviços, a taxa de desemprego só deve voltar a recuar no fim de 2017. O alerta é de Rodrigo Leandro de Moura, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). "O desemprego, de maneira geral, vai continuar a subir e só estabilizar, e talvez diminuir, no fim de 2017 e início de 2018", afirmou.

O pesquisador fez a afirmação ao comentar o Indicador Coincidente de Desemprego (ICD), anunciado ontem pela FGV, e que subiu 1,2% entre junho e julho, para 90,8 pontos - o maior nível desde novembro de 2007 (93,9 pontos).

Para Moura, os fatores que conduziram ao atual cenário, com empresas de comércio e de serviços mais propensas ao corte de vagas, são de difícil resolução, no curto e médio prazos. Segundo ele, esses setores são afetados pela demanda menor, causada principalmente pela redução de renda do trabalhador.

Moura lembra que o consumidor ainda tem que lidar com outros fatores desfavoráveis ao consumo desde meados do ano passado, como crédito mais caro e juros elevados. Essas influências acabam por reduzir ainda mais o poder aquisitivo, em ambiente de inflação já pressionada. Isso, na prática, diminui a demanda por comércio e serviços e as empresas acabam por demitir.

A FGV também anunciou leve aumento de 0,3% no Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp), entre junho e julho, impulsionada principalmente por expectativa de discreta melhora na atividade industrial nos próximos meses. No entanto, disse Moura, a indústria não é tão empregadora quanto os segmentos de comércio e de serviços, que mostram, atualmente, tendência maior para cortar vagas do que para efetuar contratações.

"Existe, ainda, uma incerteza de como a economia deve evoluir [nos próximos meses]", disse, não descartando continuidade no atual cenário de demanda interna enfraquecida. "Nesse contexto, creio que o desemprego deve continuar a crescer", afirmou Moura.

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Preços de commodities sobem 2,8%

 

Por Eduardo Campos | De Brasília

As matérias-primas que têm influência sobre a inflação brasileira voltaram a ter valorização em julho. Pelos cálculos do BC, o Índice de Commodities Brasil (IC-Br) subiu 2,77% no mês passado, vindo de queda marginal de 0,01% em junho. No ano, o indicador tem alta de 8,85% e sobe 15,93% no acumulado em 12 meses. O índice capta a desvalorização do dólar, de quase 10% no mês passado.

O indicador é construído partindo dos preços das commodities agrícolas, metálicas e energéticas convertido para reais. O equivalente internacional, o Commodity Research Bureau (CRB), mostrou variação positiva de 1,58% em julho, 13,92% no ano e 22,79% em 12 meses, segundo contas feitas pelo BC.

O grupo de commodities agropecuárias mostrou alta de 4,73%. Em 12 meses, esses subiram 24,09%. No ano, a alta é de 10,69%. As commodities energéticas tiveram queda de 3,91% em julho. As metálicas recuaram 0,90%.