Impeachment eleva tensão em Brasília

08/07/2015

Paulo de Tarso Lyra

André Shalders

Líderes da base aliada saem em defesa do Planalto e divulgam nota de apoio contra o afastamento de Dilma e Temer, que recebeu críticas da oposição. Para o senador Aécio Neves, “tudo o que contraria o PT é golpe”

A tática da presidente Dilma Rousseff para sair das cordas só aprofundou o nível da crise política e o bate-boca entre governo e os adversários. Depois de viver um fim de semana apocalíptico, no qual a oposição pregou um Brasil pós-Dilma, a presidente reuniu o Conselho Político para pedir apoio no julgamento das pedaladas, lançou um projeto para tentar manter o nível de emprego do país e deu uma entrevista na qual chamou parte dos oposicionistas de golpistas e jurou que não cai. Ontem, os líderes da base aliada divulgaram um nota ácida em defesa de Dilma e Temer, que acabou rebatida pelo presidente do PSDB, Aécio Neves (MG). “Tudo o que contraria o PT e os interesses do PT é golpe”, atacou o tucano. 

Foi um mais um dia tenso, iniciado com a divulgação da entrevista da presidente Dilma Rousseff à Folha de S.Paulo, na qual disse: “Não vou cair, isso é moleza. Não tem base para eu cair e venha tentar. Se tem uma coisa de que não tenho medo, é disso”, alegou. Dilma também defendeu as chamadas pedaladas fiscais – retardo no envio de recursos do Tesouro para os bancos públicos para aparentar estabilidade nas contas da União. “As pedaladas foram adotadas antes de nós”, reforçou a petista. 

Pela manhã, os líderes da base aliada divulgaram uma nota de apoio a Dilma e ao vice-presidente, Michel Temer. “Os líderes e dirigentes partidários reafirmam seu profundo respeito à Constituição Federal e seu inarredável compromisso com a vontade popular expressa nas urnas e com a legalidade democrática”, destacou a nota assinada pelos líderes da Câmara e do Senado. 

“Nós exorcizamos os arautos do golpe e daquelas saídas que não se coadunam com a democracia e nem com o Estado Democrático de Direito”, atacou o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmando que o porta-voz do golpe é o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG).

 

Contra-ataque

O presidente reeleito do PSDB contra-atacou ainda pela manhã. “O discurso do golpe é parte de uma estratégia planejada para inibir a ação das instituições e da imprensa brasileira no momento em que pesam sobre a presidente da República e sobre seu partido denúncias da maior gravidade”, rebateu Aécio.   

O presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministro Augusto Nardes, também rebateu as palavras da presidente Dilma, garantindo não ser golpe o julgamento das pedaladas fiscais praticadas pelo governo em 2014 e que podem, em última instância, levar ao impeachment da presidente por crime de responsabilidade fiscal. “O TCU cumpre a legislação. As instituições têm de funcionar e ser fortes”, defendeu, lembrando que o julgamento no Tribunal será técnico, não político.

A estratégia do ataque adotado pela presidente dividiu aliados do governo. Embora todos reconheçam ser difícil manter o sangue-frio diante do fogo cruzado, há quem acredite que o tom agressivo pode resultar em mais danos. “O governo está extremamente fragilizado. Não sei se é prudente comprar uma briga deste tamanho, abertamente, com a oposição”, disse um integrante da base aliada. “Pareceu o discurso de alguém que está na linha de tiro, no front, prestes a ser atingido, e não a conclamação de um general para rearrumar as tropas no momento da batalha”, ponderou outro interlocutor governista. 

Para outros, no entanto, a presidente quis mandar uma mensagem clara: queda nos índices de popularidade, dificuldades na economia e problemas políticos na relação com a base aliada no Congresso não podem ser considerados suficientes para defender o afastamento de um governante eleito. “Para se ter impeachment é preciso fato concreto, algo que não existe até o momento”, expressou um petista. 

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), amenizou o tom em relação às dificuldades do governo. “Nós temos uma crise econômica, e uma crise política continuada, que hora arrefece, hora esquenta. Ela (a crise política) não ficou pior do que já esteve”, disse. 

Ele também minimizou a possibilidade de o TCU rejeitar as contas de Dilma. “O TCU encaminha apenas um parecer. Caberá ao Congresso decidir. Deixa o tribunal se pronunciar para a gente ver o caso concreto”, disse. “Não é o TCU que dá a decisão”, lembrou ele. Segundo Cunha, Dilma disse apenas a “verdade” ao negar sofrer pressões do PMDB, apesar do partido e do próprio Cunha terem imposto numerosas derrotas ao Planalto nos últimos meses.

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Transações suspeitas

08/07/2015
JOÂO VALADARES
 
Em depoimento prestado ontem na CPI da Petrobras, o presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Antonio Gustavo Rodrigues, informou que o órgão identificou, no âmbito da Lava-Jato, movimentações atípicas que somam R$ 51,9 bilhões. Essas transações suspeitas geraram 267 relatórios e se referem a 27.579 pessoas físicas e jurídicas. Todos os dados, colhidos desde 2011, três anos antes da deflagração da operação, foram encaminhados à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal.

Ele explicou que a cada comunicação feita é atribuído um valor pelo comunicante. “Das comunicações envolvidas nos 267 relatórios, há 8.918 operações financeiras, relacionando 27.579 pessoas, num valor de R$ 51,9 bilhões”, relatou.

Mais cedo, a CPI ouviu o ex-ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU) Jorge Hage. Ele declarou que o órgão abriu, em outubro do ano passado, processos sancionadores para investigar seis ex-dirigentes da Petrobras que teriam recebido propina da empresa holandesa SBM Offshore para direcionar contratos da petroleira.

Cancelamento
O Supremo Tribunal Federal (STF), por meio de despacho do ministro Celso de Mello, acatou o pedido feito pelos advogados do ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco para não comparecer às acareações que ocorreriam hoje e amanhã na CPI da Petrobras. A defesa alegou que ele sofre de câncer ósseo. Barusco ficaria frente a frente com o ex-diretor de Serviços da estatal Renato Duque e com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, presos na Operação Lava-Jato.