Alta da leptospirose

20/06/2015

Nos seis primeiros meses de 2015, o Distrito Federal registrou cinco mortes por leptospirose, o mesmo número de todo o ano passado. São 21 infecções constatadas, até agora, ante 17 de todo o ano passado, segundo a Secretaria de Saúde. Na última terça-feira, o órgão confirmou a morte de um triatleta. O relatório final da investigação do possível local de contaminação deve ficar pronto na próxima semana.


A leptospirose é causada pela bactéria Leptospira, transmitida por suínos, roedores e bovinos. No ambiente urbano, o maior risco de contaminação é o contato com água ou alimentos contaminados com a urina desses animais (veja Risco). Para controlar os casos, a Secretaria de Saúde informa que realiza inspeções de acordo com a demanda da população. Os técnicos verificam as caixas de esgoto em busca de vestígios de ratazanas, avaliam a área externa das residências e apontam os vestígios dos roedores, assim como as condições do local que favorecem a presença dos ratos, detalhou a pasta, em nota. Para os infectados, quanto mais cedo começa o tratamento, maiores as chances de cura.


Nesta semana, a morte de um triatleta por leptospirose levantou a suspeita de amigos e familiares de que o Lago Paranoá pode ter sido o meio de contaminação. Ele treinava sempre lá. Era o universo dele. Vez ou outra, fazia trilhas, mas nada que pudesse levantar a nossa desconfiança, afirmou uma colega da vítima, que preferiu não se identificar.


A hipótese de que o contato com a bactéria tenha acontecido no espelho dágua não é descartada por especialistas. Para o químico ambiental Elias Divino Saba, que realiza estudos na água do reservatório desde 2009, pontos do aquífero podem estar contaminados por micro-organismos. Segundo Elias, em alguns deles há níveis de impureza preocupantes. Vários podem ser os fatores de contaminação, desde a presença descontrolada de capivaras no local e o despejo de águas pluviais com esgoto clandestino até a infestação do espaço por ratos atraídos por lixo às margens do lago, advertiu o professor da Universidade de Brasília (UnB).


O infectologista da Associação de Medicina Intensiva Brasileira Fernando Dias explica que a infecção pela doença não necessita do contato direto com a urina de animais contaminados ou de mordedura. Na água, mesmo que em menor concentração, o risco é eminente. A Vigilância Sanitária, a Vigilância Epidemiológica e a saúde pública devem estar atentas ao controle e ao monitoramento de possíveis pontos onde há agentes contaminadores, ressaltou.


Alerta
Estudiosos da qualidade da água ouvidos pelo Correio elencaram dois riscos no Paranoá: o lançamento de água contaminada com esgoto clandestino na rede pluvial e a alta população de capivaras nas proximidades do espelho dágua. O jornal mostrou, em 2012, o crescimento da população desses animais. Na época, havia cerca de 100 capivaras no lago, segundo estimativa da Polícia Militar Ambiental. Hoje, não há números oficiais.


A Associação Amigos do Lago Paranoá chama a atenção para o risco. É essencial para a sociedade e para os frequentadores do lago o estudo e o controle dessa fauna e da flora. Precisamos saber o que elas podem causar e quais tipos de doenças elas podem transmitir para a nossa segurança. Essa é uma questão a que a saúde pública precisa estar atenta, pois temos o encontro de animais silvestres no meio de um centro urbano, alertou o coordenador da entidade e técnico em meio ambiente Guilherme Scartezini.


O professor Reuber Brandão do Departamento de Engenharia Florestal da UnB reforça que as áreas críticas devem ser monitoradas. Não sabemos se as capivaras são portadoras dessa bactéria. Também não sabemos o que essa água pluvial pode trazer. Vários fatores podem contribuir para a contaminação no local. O fundamental é entender o uso do lago, respeitar o meio ambiente e monitorar as alterações, defendeu.


A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) monitora o reservatório. A empresa informou que de um modo geral, a qualidade da água é boa e própria para o uso recreativo, mas ressalta que os usuários devem estar atentos a áreas impróprias para banho. Os pontos de lançamento de águas pluviais são, sim, mais sensíveis a contaminações. Porém, qualquer alteração é detectada pela nossa equipe. As análises de balneabilidade são fundamentadas na concentração de bactérias indicadoras de poluição biológica, afirma Fernando Starling, analista do sistema de saneamento ambiental da Caesb.


O Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e o Centro de Gerência de Zoonoses não acompanham as capivaras e não têm dados sobre esses bichos. Elas são um sério problema para o lago, pois não têm predadores naturais e estão em um ambiente confortável para sobrevivência e reprodução. É preciso estudar os locais onde elas estão instaladas, o estado de saúde e identificar o que pode ser feito para controlar essa população, reconhece Pedro Braga Netto, auditor de Atividades Urbanas do Ibram. Segundo ele, está em elaboração um programa de monitoramento das capivaras.

 

Diagnóstico
Na fase inicial, a leptospirose pode ser confundida com dengue, gripe, malária e hepatite. Como os sintomas são parecidos, é muito importante estabelecer o diagnóstico diferencial por meio de exames sorológicos ou pelo isolamento da bactéria em cultura. Quanto antes for instituído o tratamento, maior será a chance de evitar a evolução para quadros clínicos graves, que requerem internação hospitalar e podem levar à morte. O tratamento inclui cuidados com hidratação e uso de antibióticos e de medicamentos para aliviar as dores. A vacina só está disponível para ser aplicada em animais. Mesmo assim, embora evite que fiquem doentes, não impede que sejam infectados pela Leptospira nem que transmitam a bactéria pela urina.