Valor econômico, v. 16, n. 3749, 06/05/2015. Internacional, p. B9

 

Desaceleração leva investidores à caça de pechinchas imobiliárias no Brasil

 

Por Peter Grant | The Wall Street Journal

Investidores imobiliários globais como Blackstone Group LP, Brookfield Property Partners LP e Global Logistic Properties estão aproveitando as turbulências políticas e a piora da economia para sair à caça de pechinchas no Brasil.

A maioria dos investidores vem evitando o setor diante da queda nos aluguéis e nos níveis de ocupação. Em meio à desaceleração do crescimento e protestos crescentes contra o governo, as vendas de imóveis no Brasil alcançaram apenas US$ 584 milhões no ano passado, comparado com US$ 698,6 milhões em 2013 e US$ 1,92 bilhão em 2012, segundo a Real Capital Analytics Inc.

Mas a divisão imobiliária da Blackstone realizou duas aquisições no país nos últimos meses: uma participação numa construtora e uma carteira de quatro edifícios de escritórios no Rio de Janeiro. A divisão imobiliária da gestora americana também está, pela primeira vez, abrindo seu próprio escritório no Brasil. Ele será chefiado por Marcelo Fedak, que liderava a área imobiliária do banco BTG Pactual.

Enquanto isso, a Global Logistic, que tem sede em Cingapura e comprou um portfólio de 34 imóveis industriais no Brasil por US$ 1,36 bilhão no ano passado, está comprando áreas para construção de pequenos proprietários com "dificuldade para levantar capital", diz Mauro Dias, presidente da unidade brasileira da Global Logistic.

A Brookfield, por sua vez, concordou em comprar sete edifícios de escritório como parte de um plano do BTG Pactual de adquirir a fatia que ainda não detém na empresa de imóveis comerciais BR Properties SA.

"Entendemos que é um bom momento para comprar", diz Ric Clark, diretor-presidente da área imobiliária da Brookfield.

É certo que muitos investidores se arrependem de investimentos recentes em imóveis que fizeram no Brasil. Ações de empresas imobiliárias de capital aberto, como General Shopping Brasil, JHSF Participações SA e Sonae Sierra Brasil SA, despencaram. Muitas lojas, apartamentos e edifícios de escritórios novos chegando agora ao mercado estão encontrando uma demanda fraca.

Mas investidores que continuam otimistas ressaltam que ciclos de altas e baixas devem ser esperados em mercados emergentes como o Brasil. Eles também dizem ter confiança na força dos motores que até recentemente alimentaram o forte crescimento econômico do país - inclusive a abundância de recursos naturais e uma classe média em ascensão.

"O país tem uma força central que não mudou apesar dos desafios correntes", diz Rob Speyer, um dos diretores-presidentes da Tishman Speyer Properties, que por 20 anos vem construindo edifícios de apartamentos e escritórios no Brasil.

Speyer diz que a Tishman Speyer "dobrou" sua aposta no Brasil em 2002 em meio a um momento difícil de incerteza política e econômica, decisão que ajudou a firma a se tornar um participante de peso no mercado brasileiro. A Tishman Speyer está adotando uma estratégia semelhante agora: ela comprou recentemente seu primeiro terreno para desenvolvimento em Belo Horizonte, uma vasta área de mineração que dará lugar a um edifício de escritórios.

A firma também comprou um terreno em Porto Maravilha, no Rio de Janeiro, onde planeja construir 1 mil unidades residenciais.

Entre os investidores à caça de pechinchas estão alguns novos participantes, mas também vários nomes tradicionais. Sam Zell, que ajudou a liderar uma onda de investimentos internacionais em imóveis no Brasil iniciada há dez anos, está buscando negócios, do mesmo modo que seu ex-sócio, Gary Garrabrant, que montou sua própria firma, a Jaguar Growth Partners.

Empresas estrangeiras, é claro, vêm aproveitando a queda recente no real, que hoje vale cerca de US$ 0,32, comparado com mais de US$ 0,60 em 2011. Mas as grandes empresas de investimento nacionais, como o BTG Pactual, também estão à procura de oportunidades entre donos de imóveis em dificuldade. O BTG acabou de captar US$ 500 milhões num fundo direcionado para projetos altamente endividados, dizem pessoas a par do assunto.

A divisão imobiliária da Blackstone já estava de olho no Brasil há vários anos, principalmente depois de a gestora ter fincado raiz no país, em 2010, com a compra de 40% do Pátria Investimentos. A decisão do grupo de se estabelecer no Brasil se deve, em parte, à queda recente nos valores dos imóveis, diz Kenneth Caplan, diretor de investimento da divisão.

A divisão fez aquisições recentes em sociedade com o Pátria, e vai provavelmente continuar investindo em conjunto com a firma brasileira no futuro, diz Caplan. "Parece, de fato, que agora é um momento interessante", diz ele. "Estamos começando a ver algumas oportunidades que não víamos seis meses atrás."

Investidores otimistas com o Brasil reconhecem que há riscos em fazer incursões tão cedo. A inflação e os juros altos podem durar mais do que o esperado e, além disso, não há garantias que as turbulências políticas vão diminuir ou que as reformas financeiras vão funcionar.

Só que esperar demais também pode ser um problema.

"Uma vez que o sinal fica verde, às vezes parece que já é um pouco tarde", diz Caplan.