Valor econômico, v. 15, n. 3727, 01/04/2015. Empresas, p. B2

Bovespa fica entre as piores bolsas mundiais

Por Téo Takar | De São Paulo

A Bovespa ficou entre os mercados com pior desempenho no mundo no primeiro trimestre entre os 38 principais índices de ações - ajustados pelo dólar - monitorados pelo Valor Data. O Ibovespa caiu 15,3% no período, superado apenas pelas bolsas da Grécia (-17,0%) e do Peru (-18,5%).

A Grécia revive neste ano a crise de sua dívida, iniciada três anos atrás e que quase tirou o país da zona do euro. A troca de governo reacendeu as preocupações dos investidores sobre o cumprimento das metas de austeridade fiscal. Já o Peru sofreu com o recuo no preços das commodities - tanto de metais quanto do petróleo - e, mais recentemente, com a crise política que culminou na saída da primeira-ministra Ana Jara devido a um escândalo de espionagem.

 

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Aqui, o ajuste pelo câmbio - o dólar subiu 20% ante o real - explica a maior parte das perdas do Ibovespa no período. É desta forma que o investidor estrangeiro enxerga o mercado brasileiro.

Em reais, o Ibovespa não chegou a ficar negativo, mas o desempenho no trimestre foi modesto, de 2,29%, perdendo tanto para o CDI (2,81%) como para a inflação (3,91%) projetada para o período. O trimestre foi marcado por grande volatilidade do índice. Chegou a cair mais de 6% em janeiro e a subir quase 10% em fevereiro, terminando março em queda de 0,89%. Ontem, o Ibovespa fechou em baixa de 0,18%, aos 51.150 pontos.

"Se você considerar todos os aspectos negativos, até que o desempenho da Bovespa não foi tão ruim em reais", aponta o analista da Clear Corretora, Fernando Góes. "Em dólar, a história foi outra. No fim das contas, o câmbio amorteceu os problemas no período. Por isso, quando você olha a bolsa em dólar, o cenário é mais negativo."

Analistas enumeram alguns motivos para o fraco rendimento da Bovespa neste início de ano: a crise política, a necessidade de ajustes nas contas do governo e a crise na Petrobras. Ações ligadas a commodities, como a Vale, sofreram com a queda dos preços. O minério de ferro fechou ontem cotado a US$ 51 por tonelada na China, no menor valor desde 2008.

 

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Os fundamentos macroeconômicos são os fatores que ainda mais preocupam os especialistas. "Os déficits gêmeos, que vinham piorando, ainda não deram sinal de melhora. Os indicadores de confiança estão péssimos. Os dados de emprego também são horríveis, com destruição de vagas nos últimos meses", afirma o estrategista da Fator Administração de Recursos, Paulo Gala.

"O retrato da atividade econômica ainda é bastante preocupante. A manutenção do grau de investimento depende do sucesso na implementação das medidas de ajuste fiscal", lembra Gala.

O superintendente de Private Banking do Santander Brasil, José Mauro Delella, lembra que a política monetária também "não dá trégua" à Bovespa. "Os juros já estão elevados e continuam em trajetória de alta. Você não vê alívio pelo lado da política monetária por enquanto", afirma. "Além disso, as projeções de crescimento são cada vez mais pessimistas. Começamos o ano com expectativas de expansão em torno de 0,5%. Agora, as projeções já sugerem contração de 1% da economia neste ano."

Do outro lado do globo, a história foi outra. Bolsas europeias e asiáticas foram destaque de alta no trimestre. "A Europa teve um desempenho excepcional, em resposta ao afrouxamento quantitativo ['quantitative easing' ou QE, em inglês], como já havia ocorrido anteriormente com Estados Unidos e Japão", explica Delella. "Dados mais fracos na China alimentam as apostas de que o país também adotará um QE", aponta Gala.

 

Dólar encerra o mês a R$ 3,19, em alta de 11,8%

Por José de Castro e Silvia Rosa | De São Paulo

O fraco resultado fiscal do setor público divulgado ontem acrescentou uma dose de desconfiança quanto às ações do governo para recuperar a credibilidade na política econômica. Os números reforçam a preocupação do mercado em meio a escalada da crise política, que aumentou as dúvidas sobre a implementação do ajuste fiscal.

O mercado de juros futuros é o melhor termômetro para se medir o desconforto dos investidores. Os elevados patamares das taxas projetadas na curva a termo e a redução na inclinação negativa da curva são dois dos principais elementos que comprovam esse ambiente de cautela.

 

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A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2017, que concentra as apostas para a política monetária daqui até o fim de 2016, fechou o mês 0,6 ponto percentual acima do encerramento de fevereiro. Ontem, as taxas de juros futuros mostraram recuo na BM&F, acompanhando o dólar. Analistas afirmam ainda ter verificado um fluxo mais positivo por parte de investidores estrangeiros, que buscam aproveitar os altos prêmios embutidos na curva de juros. O DI para janeiro de 2016 caiu de 13,59% para 13,5%, enquanto o DI para janeiro de 2017 desceu de 13,47% para 13,38%.

O alívio dos últimos dias ocorreu mais por um ajuste técnico do que por melhora nas expectativas, prejudicadas pelo ceticismo sobre a capacidade de o Banco Central entregar a inflação no centro da meta no próximo ano.

Outra evidência de desconfiança do mercado vem da chamada inclinação da curva a termo. A diferença mais utilizada atualmente para medir essa curva se baseia nas taxas de DI com vencimento em janeiro de 2021 e janeiro de 2017. Apesar de seguir negativa, o que mostra a expectativa de que as ações de política agora abrirão espaço para juros mais baixos à frente, essa diferença aumentou de -0,65 ponto percentual em 9 de março para -0,44 ponto ontem.

O alívio, contudo, é visto como momentâneo, diante das constantes incertezas com a implementação dos ajustes fiscais.

Ontem o Tesouro divulgou o resultado fiscal do governo central, que mostrou déficit primário de R$ 7,357 bilhões em fevereiro, pior resultado desde fevereiro de 1997.

Para o gestor de renda fixa e derivativos da Brasif Gestão, Henrique de la Rocque, o mercado ainda confia na implementação do ajuste fiscal, mas com um "pé atrás". "Se o mercado tivesse confiança plena, se fosse óbvio pensar na aprovação do ajuste, o mercado certamente estaria melhor, não teria esse prêmio de risco embutido na curva de juros."

A incerteza em relação ao ajuste fiscal tem colaborado para o aumento da volatilidade da taxa de câmbio. Ontem, o dólar fechou em queda de 1,18%, a R$ 3,1922, diante de um fluxo positivo de recursos e da disputa para a formação da taxa Ptax do fim do mês, que serve de referência para a correção da dívida externa das empresas no fechamento do balanço do primeiro trimestre. Com isso, a moeda americana encerra o mês em alta de 11,80%, acumulando valorização de 20,02% no ano.

A oferta de até US$ 2,5 bilhões em linha de dólar com compromisso de recompra também contribuiu com o movimento. Hoje o BC inicia a rolagem do lote de US$ 10,115 bilhões em contratos de swap cambial que venceria em maio. Serão renovados até 10.600 contratos, cuja operação poderá somar até US$ 530 milhões. Se mantiver o mesmo ritmo, o BC deve concluir a rolagem integral do lote que vence em maio.