Título: China eleva críticas aos EUA
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 07/08/2011, Economia, p. 19

Principal investidor em títulos do Tesouro norte-americano, país reage duramente ao rebaixamento da nota da dívida da maior economia do mundo pela agência Standard & Poor"s e volta a cobrar do governo do presidente Barack Obama mais segurança para suas aplicações.

A China, país que mais aplica em títulos norte-americanos, acordou ontem de mau humor, preocupada com os riscos que corre com os papéis que tem na carteira depois que a agência Standard & Poor"s rebaixou a nota de crédito dos Estados Unidos, na noite de sexta-feira. A agência de notícias oficial da China classificou de "míopes" as disputas políticas nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que pediu uma supervisão internacional para a questão dos dólares e uma nova moeda de reserva mundial, estável e segura.

"A China, maior credora da única superpotência do mundo, tem todo o direito de exigir agora que os EUA discutam seus problemas de dívida e garantam a segurança dos ativos chineses em dólares", afirmou em editorial a agência de notícias oficial do país. Para a China, uma nova moeda pode ser uma opção para evitar uma catástrofe. A perda da nota máxima foi um duro revés para a economia norte-americana, ainda mais pelo fato de que ela vinha sendo mantida nos últimos 70 anos.

O pessimismo que tomou conta dos mercados do mundo inteiro obrigou o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) e outros órgãos reguladores do setor bancário a emitirem um comunicado. Eles garantiram que o rebaixamento da nota máxima de crédito norte-americano não afetará o tratamento dado a títulos do tesouro baseados em capital de risco nem aqueles sob regras de outras instituições.

Pouco risco "Para fins de capital de risco, as ponderações de risco dos títulos do Tesouro e outros títulos emitidos ou garantidos pelo governo dos EUA, agências e entidades governamentais não haverá mudança", afirmaram os órgãos reguladores em nota. O Brasil, quarto país do mundo em títulos norte-americanos, concorda com a avaliação do Fed. O governo brasileiro acompanha com atenção o desenrolar da crise no mundo, mas garante que está tranquilo quanto ao fato da maior parte (US$ 187 bilhões) da nossa gigantesca reserva, de US$ 348 bilhões, estar aplicada em títulos do Tesouro norte-americano.

Segundo a área econômica do governo, o rebaixamento da S&P não muda nada do ponto de vista de gestão de ativos. Os títulos do Tesouro americano continuam classificados pela nota máxima. Para ocorrer um rebaixamento nesses papéis é preciso que outra agência de risco também rebaixe a nota, o que ainda não ocorreu.

O rebaixamento, no entanto, aumentou a dimensão da crise global. Uma fonte diplomática da Europa contou que os ministros de Finanças e representantes de bancos centrais do grupo das setes maiores nações industrializadas do mundo (G7) participarão de uma teleconferência para discutir a situação financeira dos mercados neste fim de semana. Os vice-ministros de Finanças do G20, grupo das maiores economias do mundo, também trocariam informações sobre a crise.