O globo, n. 29803, 13/03/2015. Sociedade, p. 30

ANTONELLA ZUGLIANI, EVANDRO ÉBOLI E RAPHAEL KAPA

Alerta para a dengue

Número de casos aumentou 162% em um ano, mas mortes tiveram redução de 32%

O número de casos de dengue este ano cresceu 162% em comparação com o mesmo período de 2014. Houve, porém, queda de 32% nas mortes causadas pela doença. O número de casos de dengue cresceu 162% em um ano no país. Foram 224,1 mil de 1º de janeiro a 7 de março deste ano, contra 85,4 mil no mesmo período de 2014, de acordo com o mapa da doença divulgado ontem pelo Ministério

da Saúde. Segundo o ministro Arthur Chioro, a combinação da alteração do período de chuvas, a mudança no perfil de armazenamento de água devido à crise hídrica e a introdução do vírus em comunidades antes não expostas estão entre os principais motivos para esse crescimento.

Mesmo com o avanço quantitativo nos diagnósticos de dengue, houve uma redução de 9,7% no total de casos graves. O recuo foi ainda mais significativo quando se observa o número de mortes, que caiu 31,5%, de 76 para 52 óbitos, de acordo com dados do Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa) e do balanço deste ano.

Dezoito capitais estão em estado de alerta. Entre elas, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Vitória. Apenas uma está em situação de risco: Cuiabá, no Mato Grosso. Dos 566 municípios visitados no Sudeste, 257 estão em estado satisfatório, 255 em alerta e 54 em risco.

O ministro da Saúde, Arthur Chioro, destacou também que mais cidades fizeram levantamento de casos neste ano.

Em número de casos confirmados, o estado de São Paulo teve o maior crescimento: os registros saltaram de 15.605 para 123.738. Mas a maior quantidade de diagnósticos por 100 mil habitantes foi observada no Acre, onde a incidência cresceu de 40 para 695 por 100 mil habitantes. Os registros em São Paulo passaram de 35 para 281 casos por 100 mil habitantes.

CRISE HÍDRICA PODE SER UMA DAS CAUSAS

Para o infectologista, o atual contexto climático e a crise hídrica podem ser dois fatores que impactaram no crescimento da doença.

No Estado do Rio, o número absoluto de casos mais que dobrou, de 2.678 para 5.693. A incidência por grupo de 100 mil habitantes saltou de 16,3 para 34,6. E o número de casos graves foi de 4 para  10,

entre os períodos comparados. Os óbitos no estado também caíram, de 4 para 3 mortes.

O município fluminense em pior situação é Resende, onde a incidência foi de 2.723 casos por 100 mil habitantes, o que deixa a cidade em estado de alerta. A vizinha Itatiaia, com 1.260 casos por 100 mil habitantes, e Porto Real, com 373, vêm logo atrás na lista. A cidade do Rio registrou 5,3 casos por 100 mil habitantes e também está em alerta, mas perto do índice considerado satisfatório.

O ministro disse que dois conjuntos de ações devem ser tomadas: a prevenção, onde todos participam “dedicando 15 minutos por semana para dar uma geral na casa e no ambiente de trabalho”Íž e a associação de esforços da população com as equipes de prefeitura e agentes de saúde.

Para Angerami, a iminência de uma epidemia traz a necessidade de os governos repensarem o combate a doença.

— A dengue deve ser encarada como um dos desafios da saúde pública. Não se pode pensar somente no período de epidemia. Agora, com ela já iminente, é necessário estruturar a rede de assistência para evitar casos graves e óbitos.