O lucro das companhias abertas não financeiras no Brasil caiu pela metade no quarto trimestre do ano passado, na comparação com igual período de 2013, como reflexo do forte impacto da desaceleração da economia sobre a atividade e do avanço do dólar sobre as despesas financeiras.

Assim, o trimestre encerrou um ano atípico e fraco para as companhias no país, com interferência direta nos resultados de eventos como a Copa do Mundo de futebol, eleições presidenciais acirradas e instabilidade política.

De acordo com levantamento do Valor Data, a receita líquida de 251 empresas de capital aberto somou R$ 312,62 bilhões entre outubro e dezembro do ano passado, com melhora de 13,3% na comparação anual. Entretanto, os custos subiram no mesmo patamar, 13,4%, para R$ 221,95 bilhões, o que mostra que as empresas não conseguiram fazer ajustes suficientes para aumentar a eficiência no período.

A despesa financeira líquida do trimestre aumentou 43%, para R$ 17,26 bilhões, com a influência da variação cambial. Dessa forma, o lucro líquido das 251 empresas analisadas caiu 52%, de R$ 20 bilhões para R$ 9,66 bilhões.

O levantamento exclui Vale e Eletrobras, uma vez que os resultados das duas empresas, que destoam radicalmente dos das demais, distorcem os dados. Petrobras também seria excluída pelo mesmo critério, mas ainda não divulgou os números, em meio a operação Lava-Jato da Polícia Federal, que investiga denúncias de corrupção.

No acumulado de 2014, a tendência é parecida, mas os números mais suaves. Excluindo-se Vale e Eletrobras, a receita líquida subiu 12,2%, para R$ 1,15 trilhão. Os custos subiram mais - 13,4%, para R$ 827,50 bilhões. A despesa financeira líquida não cresceu tanto quanto no quarto trimestre, com avanço de 24%. Diante disso, o lucro líquido diminuiu 10%, totalizando R$ 52,40 bilhões.

"O quarto trimestre foi mais fraco, com crescimento menor das vendas mesmas lojas no varejo, volume estável ou em queda e empresas com dificuldades para repassar a inflação. Companhias ligadas a commodities sofreram com preços menores e o cenário de demanda enfraquecida", afirma Karina Freitas, analista da corretora Concórdia.

O dólar fechou a R$ 2,66 em 30 de dezembro, alta de 13,4% na comparação anual e avanço de 8,4% ante setembro. Isso fez com que a linha das despesas financeiras subisse muito, por conta dos custos com a dívida denominada em dólar das grandes exportadoras.

A produtora de celulose e papel Suzano, por exemplo, ampliou os gastos financeiros e, com isso, mais que triplicou o prejuízo líquido nos três últimos meses de 2014, atingindo R$ 197 milhões. O resultado final piorou mesmo diante de uma melhora de 31% na receita líquida.

A Klabin, outra produtora de papel, saiu de lucro para prejuízo no quarto trimestre, com o aumento de 81% na despesa financeira líquida. Por outro lado, a empresa ganha com exportação, uma vez que um quarto da receita é gerada no mercado externo.

 

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"O câmbio avançou além de nossas perspectivas e deve se transformar em um fator positivo", disse o presidente Fabio Schvartsman, na teleconferência de resultados, falando sobre o horizonte para 2015.

Os frigoríficos brasileiros também tiveram aumento nas despesas financeiras líquidas com a variação cambial, mas as vendas externas garantiram bons resultados operacionais.

Marfrig e Minerva continuaram com prejuízo no quarto trimestre, enquanto a JBS teve alta no lucro com os resultados de várias aquisições feitas no ano passado.

"A JBS é uma empresa que tem, hoje, 80% das receitas em dólar. À medida que o real se enfraquece, tem uma contribuição expressiva na receita", afirmou o presidente da companhia, Wesley Batista, ao Valor na divulgação dos resultados.

Entre as grandes exportadoras, as companhias de materiais básicos não conseguiram se beneficiar plenamente das vendas em dólar, pois enfrentaram um cenário de preço negativo para seus produtos.

A Vale e as siderúrgicas foram prejudicadas pela queda drástica nas cotações do minério de ferro e a tendência de baixa no preço do aço, além do impacto do dólar sobre a dívida.

O ano foi muito difícil para a mineradora, devido ao acentuado recuo nos preços das commodities. O preço médio do minério de ferro recuou cerca de 30% em 2014. No quarto trimestre a companhia teve recordes de produção de minério, ouro e níquel, o que compensou, em partes, o recuo dos preços dos produtos, disse Luciano Siani, diretor-executivo de finanças e relações com investidores.

A Gerdau anunciou redução de quase 20% nos investimentos para este ano, na comparação anual, refletindo a situação global do setor siderúrgico e o excesso de capacidade instalada no mundo. "Continuamos avaliando o cenário e, se for necessário, vamos adequar os montantes", afirmou André Gerdau Johannpeter, após a divulgação do balanço.

As siderúrgicas sofreram ainda com o desaquecimento da economia e o recuo no volume das vendas. A Usiminas e a CSN, por exemplo, mostraram queda expressiva nas vendas de aço de outubro a dezembro, pela demanda interna menor, especialmente voltada ao setor automotivo.

As operações fora do Brasil trouxeram benefícios para as produtoras de aço, como é o caso da própria Gerdau, a siderúrgica mais exposta ao mercado externo. A Iochpe-Maxion, fabricante de rodas e equipamentos rodoviários, é outro exemplo de empresa que teve números fracos no Brasil, mas que os resultados externos ajudaram a compensar.