Título: Ele está no centro do horror
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 02/08/2011, Mundo, p. 16

Por volta das 20h (14h em Brasília), assim que encerramos o iftar, os tanques do presidente Bashar Al-Assad começaram a atacar de todas as direções, a partir dos pontos onde estavam ontem (domingo). Eles dispararam mísseis de artilharia pesada diretamente contra as pessoas nas ruas. Também acertaram cinco mesquitas e prédios residenciais. Os hospitais Al-Horani, o maior da cidade e conhecido por socorrer os manifestantes, e Al-Rayes foram atingidos. Os militares queriam impedir que contássemos os mortos e ajudássemos os feridos. A situação é muito horrível. Estamos em casa, e minha mulher e minha filha choram a todo momento. Estamos com medo e não sabemos o que ocorrerá nas próximas horas. Nosso povo nem sequer pode sair para rezar. Lá fora, tudo o que escutamos são tiros, gritos e o Takbir (a expressão "Allaku Akbar", "Deus é grande"), pronunciado de forma constante.

Quero deixar uma mensagem aos brasileiros. O que mais sabemos sobre vocês diz respeito ao futebol. A maior parte dos sírios apoia a Seleção do Brasil. Desejamos que vocês nos apoiem, enquanto somos mortos. Nosso povo é mais corajoso do que qualquer um possa imaginar. Saímos às ruas e desafiamos as balas de peito nu. Al-Assad está desafiando a comunidade internacional. Ele continuará alvejando os civis e não vai parar de nos matar.

Mas os ataques começaram já às 5h de hoje (23h de domingo em Brasília). Apoiados pelas forças de segurança, tropas do Exército e tanques invadiram o bairro de Al-Hameediah, no norte. Essa operação durou cerca de duas horas e meia. Eles atiraram contra as casas e destruíram uma mesquita. Estou com muito do medo do que virá. Todos aqueles que se silenciam são cúmplices desse crime.

Saleh Al-Hamwi (nome fictício), morador de Hama