Sonhos de ressurreição de um califado e de impor uma força distorcida de islamismo levam milhares de jovens a formarem uma espécie de terrorismo fragmentado que se denomina Estado Islâmico. Esses terroristas semeiam pânico, independentemente da quantidade de mortos que uma ação possa ocasionar. O flagelo da radicalização na Síria, no Iraque, no Iêmen e na Tunísia nos remete a Beirute, no século passado, quando aconteceu uma das mais longas e cruéis guerras civis da história.

Naquela época, não se tentou um sério diálogo entre cristãos e muçulmanos. Um acordo religioso poderia ter servido de base para uma solução política justa e razoável. Só assim se poderia mitigar o fanatismo religioso que sempre dá origem à violência, homicídio e destruição.

Por que as pessoas se dispõem a matar e morrer por suas crenças? A natureza de sua íntima convicção não se caracteriza pelo conteúdo de sua fé, mas pela natureza de suas afirmações. Seu convencimento reivindica certeza absoluta, exige lealdade e oferece resposta: uma razão para viver, matar e morrer. Sua crença oferece uma causa e substitui o vazio existencial pela plenitude. Dissuadir pessoas dispostas a morrer é difícil. Extinguir ideias é também difícil. Matar ideias religiosas é quase impossível.

Quando a religião e o nacionalismo se reforçam mutuamente, a realidade fica incontrolável. Estou seguro de que o Estado de Israel e a cidade de Jerusalém só poderão conseguir a paz e a segurança através do diálogo religioso e político entre judeus e muçulmanos, israelitas e palestinos, e não por meio da violência. É urgente começar por uma teologia da paz, não só para evitar o terrorismo que sacrifica vidas e destrói parte da herança cultural da humanidade, mas para acabar com todo argumento de autojustificação, intolerância e competitividade. As religiões de origem semítica — o judaísmo, o cristianismo e o islamismo — coincidem em seu caráter profético e partem de um cara a cara entre Deus e o homem. Mas, ainda hoje, os radicais adversos evidenciam uma destrutiva confrontação religiosa.

Lutas sangrentas aconteceram por motivos religiosos, não só no Oriente Médio entre cristãos maronitas e muçulmanos sunitas e xiitas, entre sírios, palestinos, drusos e israelitas, mas também entre budistas singulares e hinduístas, monges budistas e governantes católicos do Vietnã, entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte. Qual a lógica? Em nome de Deus será preciso agredir, incendiar, destruir e matar? As religiões podem contribuir e atuar a favor da paz, da justiça social, da não violência e do amor ao próximo. Podem propagar e ativar atitudes fundamentais como o pacifismo, a tolerância e a exclusão da força.

Carlos Alberto Rabaça é sociólogo e professor