O principal programa de educação financeira da rede pública está longe de alcançar as mais de 27 mil escolas brasileiras. Das 3 mil selecionadas para participar do projeto em 2013 , apenas 28,6% estão prontas para começar as atividades em 2015. De acordo com o SPC Brasil, 81% dos brasileiros sabem pouco ou nada sobre finanças pessoais e um terço dos consumidores atrasou ou deixou de pagar alguma conta no último ano.

A fim de suprir essa lacuna na formação, a Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil), uma associação sem fins lucrativos, tem coordenado desde 2010 a implementação desse ensino. Entre 2010 e 2011, um projeto piloto começou em 891 escolas de ensino médio de seis unidades de federação, atingindo cerca de 26 mil alunos. A iniciativa é parte da Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef), instituída por decreto em 2010. De acordo com avaliação do Banco Mundial, o resultado foi um aumento de 5% a 7% da proficiência financeira dos jovens.

Em 2013, foram escolhidas 3 mil escolas, incluindo as unidades do projeto piloto. Dessas, 876 unidades estão aptas a iniciar as atividades, segundo a associação. De acordo com o Ministério da Educação, responsável pela produção dos livros, foram impressos 1.902.390 exemplares com o custo de R$ 2,83 milhões para 2.969 escolas e 47 secretarias de Educação, entre estaduais e municipais.

O MEC informou que “todos os livros foram entregues pela gráfica vencedora da licitação aos Correios para distribuição”, mas não soube determinar quando o programa será implementado nas demais unidades. Para Silvia Morais, superintendente da AEF-Brasil, a principal dificuldade é conseguir adesão por parte das secretarias de educação estaduais. “Dentro do sistema educacional ainda é preciso desmistificar o tema.”

Lições
Em Tocantins, estado em que o projeto está em estágio mais avançado, 304 professores de 76 escolas receberam uma capacitação de 16 horas presenciais em agosto e um treinamento on-line de 40 horas, entre setembro e novembro. Os livros chegaram em janeiro e cerca de 15 mil alunos terão aulas neste ano. Amapá, Ceará, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro também aderiram ao projeto. Maranhão e de Pernambuco devem fazer o mesmo em breve.

Para Álvaro Modernell, especialista em educação financeira, a formação dos educadores precisa ser aprimorada, já que o assunto não é visto na graduação. “É uma quebra de paradigma muito grande ensinar educação financeira nas escolas públicas. Mas não basta ir uma vez, fazer a capacitação e colocar o material on-line. Tem que ser complementado com outras abordagens e instrumentos”, afirma.

Na rede particular, o progresso é mais evidente. Nos últimos anos, diversas escolas incluíram a educação financeira no currículo, como o colégio Seriös, onde ocorrem aulas semanais da disciplina. De acordo com a professora Marília Cunha, o primeiro passo é mostrar como o dinheiro está em elementos do cotidiano. “Muitas crianças não sabem que a gente aperta um interruptor para acender a luz e roda um relógio que vai ter um custo”, exemplifica.

Eles aprendem também a definir necessidades básicas com ajuda de um aparelho chamado engenhoca, em que usa o fluxo de água é comparado ao fluxo de renda. Em uma bacia maior, entra o que seria o salário e, ao regular as torneiras, é definido quanto será gasto com cada despesa. Também são ensinados conceitos como poupança e pesquisa de preço. “Se tem uma coisa muito cara, a gente vai na outra loja e vê se tá mais barato”, explica Isabelle Rodrigues, de 10 anos.

A educadora financeira Teresinha Rocha destaca a importância do tema. “Boa parte dos alunos não tem essa educação e fica como se fosse faltando uma perna porque ela é a base para muita coisa”, afirma. As lições ainda no momento da infância e juventude são determinantes para que os indivíduos elaborem seus projetos de vida, como cursar uma faculdade ou abrir o próprio negócio, além de promoverem uma conscietização mais ampla do uso de recursos financeiros, de acordo com os especialistas.