Os brasileiros nunca deveram tanto quanto em 2015. Apenas aos bancos, a fatura a pagar já chega a R$ 1,425 trilhão. A situação foi agravada pelos pesados juros cobrados em empréstimos. Quem, por exemplo, precisou recorrer a empréstimo bancário em janeiro, teve que enfrentar taxas que, em média, chegaram a 52,6% ao ano - um recorde para a série histórica iniciada em março de 2011, pelo Banco Central (BC).

Esses números, porém, devem ser revisados em breve, já que, ontem, a autoridade monetária anunciou ter incluído duas modalidades de financiamento na pesquisa. Exatamente as que mais pesam no bolso do consumidor: o parcelado com juros e o rotativo do cartão de crédito.

Na modalidade com juros parcelados, os encargos médios chegaram a 106,7% ao ano; já no rotativo, o aperto foi três vezes maior: 334% ao ano. A divulgação desses números alterou o ranking de linhas mais caras ao consumidor. Antes apontado como o maior vilão do bolso, o cheque especial agora ocupa a segunda posição. Em janeiro, as taxas cobradas nessa modalidade alcançaram 208,7% ao ano, a maior desde abril de 1996. Mas, ainda pior do que a taxa em si é a rapidez com que ela avança. Em um ano, o crescimento foi de 52 pontos percentuais.

Para analistas, os números sugerem que os bancos aproveitaram para lucrar ainda mais nas linhas com as maiores taxas de juros. Já o governo tem uma explicação diferente. "É comum as taxas de juros do cheque especial subirem em janeiro", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel. No mês, as concessões de empréstimos nessa linha aumentaram 7,9%. É mais que o dobro do que a procura pelo cartão de crédito, de 3,8%.

Com taxas tão elevadas, as pessoas passaram a evitar tomar dinheiro nos bancos. Em janeiro, o volume de recursos na mão dos clientes, sejam famílias ou empresas, encolheu 0,7%, quando se levados em conta apenas as operações com recursos livres - que não consideram os empréstimos com juros subsidiados, como os créditos rural e habitacional. Ao considerar a variação da inflação, esses resultados são ainda mais desanimadores: queda de 1,9%.

Para o diretor de Pesquisas Econômicas para a América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos, a situação só não é pior porque os bancos públicos têm compensado, em parte, o menor apetite das instituições privadas em conceder crédito. Mas não por muito tempo. "A equipe econômica parece inclinada a conter o ativismo na concessão de empréstimos de bancos estatais e tende a reduzir o subsídio em várias linhas de crédito", assinalou.

Spreads mais altos

Dados do Banco Central mostram que, em janeiro, os bancos elevaram os juros em 15 das 16 modalidades de empréstimos aos clientes, nas operações com recursos livres voltadas para pessoas físicas. Apenas no arrendamento mercantil de veículos as taxas encolheram. Mesmo assim, somente 0,8 ponto percentual. Não por acaso, os spreads bancários - diferença entre o custo de captação do dinheiro e a taxa cobrada dos clientes - aumentaram em todas as comparações.

Cenário preocupa

Não fosse o protagonismo dos bancos públicos, o tombo do crédito neste início de ano seria ainda maior. Cálculos da consultoria Rosenberg Associados mostram que, ao considerar a variação da inflação, o volume de recursos emprestados pelos bancos privados nacionais é o menor desde abril de 2011. "Apenas o saldo de crédito dos bancos públicos cresceu nos últimos anos", escreveu a economista-chefe Thaís Marzola Zara, em análise a clientes.