A grande maioria dos brasileiros tem uma visão muito negativa sobre a economia em 2015, mostra uma pesquisa do Instituto Ideia Inteligência. Segundo o levantamento realizado com mais de 78 mil pessoas por telefone entre o fim de janeiro e o começo de fevereiro, 75% dos entrevistados acreditam que o nível de emprego neste ano ficará pior do que no ano passado, enquanto quase 90% avaliam que os salários ou não vão aumentar ou subirão menos que a inflação. Além disso, 86% dizem que os preços vão seguir em alta neste ano. Os números foram apresentados em evento promovido ontem pelo Brazil Institute, do centro de estudos Wilson Center.

Segundo o diretor do Ideia Inteligência, Mauricio Moura, a principal base eleitoral da presidente Dilma Rousseff começou a notar os aumentos das tarifas de energia elétrica e dos combustíveis, algo com que não contavam quando votaram na petista nas eleições de 2014. Isso se reflete no forte aumento na parcela dos brasileiros que desaprovam o governo da presidente, como apontado pela pesquisa do Datafolha divulgada no fim de semana, notou Moura.

Na enquete do Datafolha, 44% dos entrevistados disseram avaliar como ruim ou péssima a administração Dilma, um salto em relação aos 24% de dezembro. Além disso, 60% afirmaram que Dilma mentiu na campanha. “Isso é algo novo”, afirmou ele, também pesquisador da Universidade George Washington.

Para reverter esse quadro, o PT vai tentar reconectar-se com a sua principal base eleitoral, disse Moura, relatando o que ouviu de integrantes do partido. Foi o que o PT fez em outros momentos de crise mais aguda, como em 2005, na época do surgimento das denúncias do mensalão, e em 2013, depois dos protestos que tomaram conta das ruas, lembrou ele, que participou do evento do Brasil, por teleconferência.

A prioridade será focar a agenda social na comunicação e na relação com os eleitores mais tradicionais do partido, falando mais à classe D, por exemplo. Nesse quadro, Dilma deverá ter uma agenda mais pesada no Norte e no Nordeste, visitando cidades pequenas e médias. Segundo Moura, é um eleitorado que dá menos crédito às denúncias de corrupção da Petrobras do que a classe média. “Mas não vai ser nada fácil”, disse ele, ressaltando que a situação da economia não está favorável como em 2005 e está ainda pior do que em 2013.

Moura também tratou do cenário político, marcado por várias derrotas do governo no Congresso. “Quem está liderando a agenda é o PMDB.” Segundo ele, o partido do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ), tem destacado medidas claramente contrárias às que o governo gostaria de ver nos primeiros 100 dias do segundo mandato da presidente. Um exemplo é a aprovação pelos deputados do orçamento impositivo, que determina a execução obrigatória das emendas individuais dos parlamentares. “Foi uma promessa da campanha de Cunha e vai contra a agenda fiscal.”

Outro caso é a intenção de Cunha de colocar em votação a proposta que eleva de 70 para 75 anos a idade compulsória para a aposentadoria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). “Com isso, Dilma perderia quatro indicações para o tribunal.”

Para o diretor do Ideia Inteligência, não haveria um ganho político para o PMDB em trabalhar pelo impeachment da presidente, um assunto que passou a ser discutido nas últimas semanas. No momento, o partido estaria numa posição perfeita, liderando a agenda, enquanto todos os custos ficam com Dilma. Seria melhor para o PMDB ter o governo sangrando do que operar pelo impedimento da presidente, disse Moura, que não acredita que essa questão seja levada à Câmara em 2015. Ele ressaltou, porém, que o humor da opinião pública sobre o assunto vai contar muito.

“É um cenário muito complicado para a presidente”, resumiu ele, apontando o descontentamento da população e a situação política delicada. Segundo Moura, esse ambiente torna difícil para a equipe econômica avançar propostas de ajuste fiscal no Congresso, num momento em que há resistências a essa agenda na própria base do PT.