Acordo amplia prazo e evita perdas extras

Correio Braziliense - 13/12/2014

SIMONE KAFRUNI

Se não publicasse as informações contábeis até o fim deste mês, a Petrobras abriria precedente para credores exigirem o pagamento antecipado de dívidas da empresa
Graças ao acordo firmado com credores, a Petrobras ganhou mais tempo para divulgar o balanço financeiro relativo ao terceiro trimestre do ano, atrasado desde novembro. Contrariando a expectativa de uma publicação pró-forma ontem, sem a auditoria externa exigida pela lei das companhias de capital aberto, a estatal promete prestar os esclarecimentos faltantes até o fim de janeiro. Contudo, sem o endosso de auditores, o documento não tem validade para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula o setor. A petrolífera atrasou a divulgação do relatório devido às denúncias de corrupção, que apontam superfaturamento e pagamento de propinas.

Sem cumprir a regra da CVM, que exige a apresentação das informações contábeis trimestrais em até 45 dias após o encerramento de cada trimestre "acompanhado de relatório de revisão especial, emitido por auditor independente registrado na comissão", o balanço não auditado serviria apenas para evitar que credores pedissem antecipação do resgate dos títulos, que pesaria sobre o caixa da empresa. Desde que o governo decidiu segurar os preços dos combustíveis nas bombas, pagando mais caro por eles no mercado internacional, a estatal acumula prejuízos, agravados pelos ralos da corrupção.

"O documento sem auditoria não atende nem a CVM nem a SEC (Secutiries and Exchange Commission, órgão que regula as companhias no mercado norte-americano). Mas seria uma maneira de apresentar o resultado dentro de 90 dias, prazo estipulado em contrato com credores na emissão de títulos", explicou a analista da Concórdia Corretora Karina Freitas.

Ela destacou que, caso não emitisse nenhuma informação contábil até dezembro, a companhia abriria a chance de os credores exigirem pagamento antecipado dos seus títulos da dívida. "Isso não quebraria a empresa porque a parcela é pequena, mas elevaria o risco e o prêmio que teria de pagar", disse. A divulgação dos dados contábeis ocorre no momento em que o valor de mercado da petroleira recuou a um terço do patrimônio líquido.

"Baseado nas informações da própria estatal, o patrimônio está em R$ 388 bilhões, enquanto o valor de mercado estimado é inferior a R$ 134 bilhões", calculou o analista da DX Investimentos Felipe Chad. O desmanche da empresa, assolada pela política de preços administrados e pelos investimentos arriscados, levou à desvalorização de 87% em pouco mais de três anos, salientou.

A situação do caixa, hoje de R$ 62 bilhões, também é complicada diante de um plano de investimentos de R$ 20 bilhões por trimestre, sendo 70% voltados para o pré-sal. "A exploração do pré-sal não tem receita, é um investimento para o futuro. Gasolina e diesel dão prejuízo. Se aumentarem o preço do combustível para resolver a insolvência, vai bater na inflação. Qual a saída?", questionou Chad.

Na avaliação do economista-chefe Opus Investimento, José Márcio Camargo, alguma informação, ainda que sem validade na CVM, seria melhor do que nenhuma. "Sem auditoria, não se tem certeza se os dados estão corretos, mas vai permitir que o mercado avalie se o balanço trará ajustes", ponderou. Para o professor do Ibmec-DF Ricardo Stefani, estando assinado e público, o documento contábil ainda é válido. "O balanço dirá o que ocorre na empresa e é para isso que serve", observou.

_________________________________________________________________________________________________________________________________

Ações despencam 6,56%

Correio Braziliense - 13/12/2014

Puxada pelas ações da Petrobras, que continuam em queda livre, mas também seguindo uma tendência de baixa dos mercados internacionais, a Bolsa de Valores de São Paulo (BMF&Bovespa) recuou 3,73% ontem e chegou aos 48.001 pontos. É a terceira semana seguida de desvalorização do principal índice da bolsa, o Ibovespa, que acumulou perdas de 7,68% na semana, o pior período desde maio de 2012, quando desvalorizou 8,3% em cinco dias. 

Novas denúncias de que a diretoria da Petrobras sabia das irregularidades desde 2009 acentuaram o movimento de queda das ações da companhia. A expectativa com relação aos dados do balanço financeiro não auditado, que seria divulgado ontem após o fechamento do mercado, também contribuiu para a desvalorização. 

Os papéis ordinários (ON) da estatal recuaram 5,78%, cotados abaixo de R$ 10, a R$ 9,46, enquanto os preferenciais (PN) caíram 6,56%, a R$ 10,11. Na semana, as ações ON acumulam perdas de 17,38%. No mês, já caíram 22,14% e, em 2014, o recuo é de 38,73%. As PN têm queda de 17,54% na semana, de 21,02% no mês e de 37% no ano. Com o barril de petróleo despencando para US$ 57, as ações de petrolíferas do mundo inteiro sofreram quedas. Na Bolsa de Nova York, o índice Dow Jones fechou ontem em queda de 1,18%. 

Para o economista do portal de informações financeiras Moneyou, Jason Vieira, o desempenho dos ativos da Petrobras pesaram muito na queda da Bovespa. "Deu tudo errado para a petroleira. Mais denúncias de corrupção, um balanço não auditado que não tem validade e, para piorar, a queda do barril de petróleo, que derrubou o mercado lá fora", explicou o especialista. 

Na avaliação de Karina Freitas, analista da Concórdia Corretora, o pregão trágico de ontem é o reflexo de um conjunto de fatores: "incerteza do mercado sobre o balanço da Petrobras (se vai ou não trazer ajustes), mais denúncias e a conjuntura interna do país, que não está favorável". 

Ela acrescentou que a possibilidade de aumento de juros nos Estados Unidos também está provocando uma mudança de fluxo. "A queda no preço do petróleo também afetou as ações da Petrobras. No curto prazo, ela é beneficiada porque importa combustível, mas, no longo prazo, como produtora e exportadora, isso prejudica retorno dos seus projetos", destacou.

__________________________________________________________________________________________________________________________________

Socorro via Eletrobras

Correio Braziliense - 13/12/2014

A Eletrobras deu mais detalhes ontem sobre o socorro federal para permitir a companhia quitar um pesado débito com a Petrobras. A maior empresa do setor elétrico espera ter que desembolsar só R$ 2 bilhões de um total de R$ 8,5 bilhões da dívida com a petroleira. Isso porque o encargo Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) cobrirá a maior parte do passivo referente à compra de combustíveis para funcionamento de termelétricas no Norte.

O reconhecimento de outros créditos referentes ao reembolso de custos de combustíveis também são buscados pela Eletrobras com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A operação para quitar a dívida prevê também a emissão de dívida pela Petrobras, com garantia do Tesouro. A Eletrobras informou em nota ontem que tem garantia da União para pagamento de R$ 4,2 bilhões, valor que foi reconhecido como dívida que a CDE tem com a Eletrobras.

O Conselho de Administração da Eletrobras aprovou os novos termos das dívidas de suas distribuidoras com Petrobras, com pagamento em 120 parcelas a ser iniciado a partir de fevereiro do ano que vem. "Acredito que esses R$ 4,5 bilhões que vamos receber vão chegar facilmente a 6,5 bilhões, e a nossa dívida fica em R$ 2 bilhões. Isso ainda está ainda em conversa", disse o presidente da maior empresa do setor elétrico, José da Costa Neto.

O secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, negou que a operação montada pelo governo para pagar a Petrobras tenha como objetivo socorrer a empresa por dificuldades de captar recursos no mercado em razão das denúncias de corrupção. "Não tem a ver com a crise da Petrobras. A negociação da dívida já vinha há tempo e ficou madura agora", explicou o secretário.