Título: Casamento gay chegará ao STF
Autor: Abreu, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 30/06/2011, Cidades, p. 34

O debate sobre a legalidade do casamento civil entre homossexuais deve chegar em breve ao Supremo Tribunal Federal (STF). A avaliação é dos próprios ministros da Corte. O Correio ouviu ontem quatro magistrados do órgão e nenhum deles fez críticas às recentes decisões de dois juízes brasileiros que oficializaram o casamento civil entre gays, em São Paulo e em Brasília. A posição dos ministros mostra uma tendência do STF de também autorizar oficialmente o casamento homoafetivo.

Em maio, ao julgar uma ação protocolada pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), o STF definiu por unanimidade que o relacionamento entre casais homossexuais configura uma "entidade familiar". Relator do processo, o ministro Carlos Ayres Britto detalhou ontem que a decisão reconhece "o direito à união estável entre pessoas do mesmo sexo, com todas as consequências e os efeitos próprios da união entre os heteroafetivos". Britto, no entanto, alertou que o STF não listou os efeitos da decisão. "Se alguém tem dúvidas quanto a essa ou aquela consequência, como, por exemplo, o compartilhamento do sobrenome ou a divisão do patrimônio automaticamente, que venha (questionar o Supremo) pelas vias adequadas", afirmou.

O ministro Marco Aurélio Mello foi enfático ao opinar que não há dúvidas de que o casamento civil está englobado pela decisão tomada em maio pela Suprema Corte. "Se a união estável entre homem e mulher alcança o casamento, creio que, por via de consequência, temos a placitação (aprovação) desse instituto", destacou. Questionado sobre as recentes decisões quanto aos casamentos gays, ele defendeu a liberdade dos juízes estaduais. "De forma linear, sem estabelecer exceção, o Supremo bateu o martelo no sentido de que se aplica a união homoafetiva ao Código Civil no que disciplina a união estável entre homem e mulher."

Análises O ministro Gilmar Mendes se mostrou mais cauteloso. "No julgamento (de maio), houve uma consideração sobre a eventual possibilidade de conversão da união estável em casamento, mas isso não foi objeto de decisão", alertou. Mendes não criticou os magistrados que autorizaram o casamento entre homossexuais, mas ponderou que é preciso analisar as decisões com "calma e cautela".

Luiz Fux avaliou que a decisão do STF sobre a união estável homoafetiva resulta em pelo menos 100 consequências, que, em algum momento, terão de ser analisadas nos casos concretos. "Entendo que as dúvidas devam vir caso a caso para o Supremo", disse o ministro. Segundo a Associação de Notários e Registradores do DF (Anoreg), não foi registrado nenhum outro casamento ontem.

SEMINÁRIO HOJE O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto, relator da proposta que autorizou a união estável entre pessoas do mesmo sexo, e o deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ) participam hoje do seminário O combate à homofobia: em busca do direito colorido, última palestra da Semana Direito e Gênero, promovida pela Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB). O tema entrou na pauta do evento tanto por causa da decisão do STF, que reconheceu o direito da união estável homoafetiva, quanto da iminente votação do projeto de lei nº 122, que criminaliza a homofobia. A palestra está prevista para as 9h30 no Auditório Joaquim Nabuco, na Faculdade de Estudos Sociais Aplicados. É aberta ao público.