Aécio de volta à tribuna: "oposição incansável, inquebrantável e intransigente" Com "ânimo redobrado" para fazer oposição ao governo Dilma Rousseff e um tom bem menos conciliador do que o adotado nos seus quatro anos de senador, Aécio Neves (PMDB-MG) avisou à presidente, no primeiro discurso de volta ao Senado, que qualquer diálogo tem de estar condicionado ao "aprofundamento das investigações e a exemplares punições" aos envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras, o "petrolão". Aécio acusou o PT de fazer uma "campanha baseada no ódio, medo e ameaças" e prometeu fazer uma "oposição incansável, inquebrantável e intransigente" e "combater sem tréguas a corrupção que se instalou no governo". Reforçou que os adversários, "nesse vale tudo eleitoral, legitimaram a calúnia e a infâmia como instrumento da luta política e usaram a mentira para tentar assassinar reputações". O ex-presidenciável apontou três compromissos fundamentais que, segundo ele, vão orientar a luta da oposição: "o compromisso com a liberdade, com a transparência e com a democracia. A defesa intransigente das liberdades, em especial a liberdade de imprensa. Segundo, a exigência da transparência em todas as áreas da administração pública. Terceiro, a defesa da autonomia e fortalecimento dos poderes como base de uma sociedade democrática". Aécio desceu da tribuna após duas horas de discurso e apartes. Nem parecia um candidato derrotado. Recebeu elogios - entre eles do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que classificou sua campanha de "brilhante, marcante, histórica e patriótica"-, abraços - inclusive do ex-adversário da campanha Levy Fidelix (PRTB), que o chamou de "meu presidente" - e posou para fotos com simpatizantes. Muitas delas "selfies". "Quer sorrir um pouco por mim?", perguntou, bem humorado, a uma jornalista. Alguém comentou que ele já começava ali a campanha para a eleição de 2018 e reagiu. "Que 2018! Afasta de mim este cálice!" O assédio no plenário só foi interrompido para responder a uma declaração da presidente, que, em ato do PSD, falou em "ressentimentos de quem perdeu a eleição" e que era hora de desmontar palanques. "E está na hora de a presidente começar a governar o Brasil, que ficou três meses sem governo [durante a campanha]. Ninguém está questionando a derrota. Estamos apontando a contradição de suas medidas com tudo o que disse na campanha. Tudo o que disse que não ia acontecer está acontecendo, como o aumento do preço da gasolina e da energia", afirmou, logo puxado para nova foto. Ontem, foi mais um dia de clima de campanha para Aécio. Começou presidindo a reunião da Executiva Nacional do PSDB, para a qual convidou deputados, senadores, prefeitos, governadores e líderes de partidos que o apoiaram na disputa presidencial. No evento, conclamou apoiadores a fazerem a "oposição mais vigorosa que esse país já teve". Foi chamado de "líder das oposições" pelo presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP). E de "líder e estadista" pela senadora Ana Amélia (PP-RS). O contraponto coube ao líder do PT, Humberto Costa (PE). Disse que a presidente também foi vítima de "agressões violentíssimas" e não apenas na campanha, mas nos quatro anos de governo. Citou, entre outros fatos, a publicação de "matéria caluniosa", dias antes da eleição, dizendo que Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabiam da corrupção na Petrobras. "Mesmo assim essa mulher, que é uma guerreira, que tem um coração valente, ganhou essa eleição. E aí nós temos que dizer: não existem dois resultados. Existe um resultado. (...) Vossa Excelência foi guerreiro, foi forte, teve uma grande votação, mas a vencedora é a presidenta Dilma Rousseff", afirmou Costa, interrompido por vaias da galeria. Ao retomar a palavra, Costa afirmou que era hora de "desmontarmos os palanques". Elogiou a rapidez com que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) condenou atos a favor do impeachment de Dilma e de novo golpe militar. Disse que Aécio também teve a mesma postura, mas que "gostaria que fosse mais veemente". O discurso de Aécio trouxe poucas novidades. "A repetição é pedagógica", afirmou o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), reconhecendo que Aécio pouco acrescentou ao que já vinha declarando. Mas destacou que a cobrança da ética e o termo "corrupção" fogem do estilo do mineiro. "O Aécio que ocupou hoje a tribuna é muito diferente do que discursava aqui há seis meses." O encontro de Aécio com os governadores será em São Paulo, na próxima semana. Foi o que acertou com Alckmin. A ideia é reunir também as lideranças paulistas que o apoiaram. Alckmin defendeu um encontro separado, já que a relação deles com Dilma é institucional. No evento de ontem, em Brasília, compareceram os governadores tucanos Teotônio Vilela (AL), que não concorreu, o reeleito Simão Jatene (PA), e Reinaldo Azambuja, eleito governador do Mato Grosso do Sul, além do pemedebista Confúcio Moura, reeleito em Rondônia. Também estavam os presidentes do PPS e do Solidariedade, deputados Roberto Freire (SP) e Paulinho da Força (SP). A direção do DEM estava representada pelo líder na Câmara, Mendonça Filho (PE). Entre representantes de outras legendas, Ana Amélia e o deputado Raul Henry (PMDB-PE), eleito vice-governador de Pernambuco.