Aécio na TV: 'eu perdi a eleição para uma organização criminosa'

O Globo - 01/12/2014

Tucano relaciona escândalos de corrupção à ação do PT para reeleger Dilma.

Isabel Braga e Carolina Brígido 
opais@oglobo.com.br 

BRASÍLIA - O senador Aécio Neves (PSDB-MG), candidato à Presidência derrotado nas eleições de outubro, afirmou que não perdeu nas urnas para um partido político, mas para uma "organização criminosa" existente em empresas apoiadas pelo governo da presidente Dilma Rousseff (PT). A declaração foi dada em entrevista ao jornalista Roberto D'Ávila, da GloboNews, que foi ao ar na noite de sábado. 

- Na verdade, eu não perdi a eleição para um partido político. Eu perdi a eleição para uma organização criminosa que se instalou no seio de algumas empresas brasileiras patrocinadas por esse grupo político que aí está - disse o tucano. 

Na entrevista, Aécio fez várias outras críticas a Dilma, sua adversária nas eleições de outubro. Ele afirmou que Dilma se mantém no poder às custas do que classificou como "sordidez" investida contra os oponentes, em especial durante a campanha eleitoral. 

- Essa campanha passará para a História. A sordidez, as calúnias, as ofensas, o aparelhamento da máquina pública, a chantagem com os mais pobres, dizendo que nós terminaríamos com todos os programas sociais. Não só eu fui vítima disso. O Eduardo (Campos) foi vítima disso, a Marina (Silva) foi vítima disso e eu também. Essa sordidez para se manter no poder é uma marca perversa que essa eleição deixará - disse Aécio a Roberto D'Ávila. 

Embates duros com Dilma 

Para o tucano, um ataque em campanha eleitoral, com respeito a determinados limites, "faz parte do jogo". Ele ressaltou que a disputa entre candidatos deve ser de ideias, não de caráter pessoal. O senador lembrou que os embates com a presidente durante a campanha foram duros: 

- Eu tinha que ser firme, mas sempre busquei ser respeitoso. Mas, nesses embates, eu representava o sentimento que eu colhia no dia anterior, ou no mesmo dia de manhã, de uma viagem que eu tinha feito por alguma região do Brasil. Eu passei a ser porta-voz de um sentimento de mudança e também de indignação com tudo isso que aconteceu no Brasil. 

A comparação do PT com uma organização criminosa feita por Aécio não caiu bem no partido da presidente. O secretário nacional de Comunicação do partido, José Américo, considerou a declaração irresponsável e típica de quem não sabe se conformar com a derrota na eleição. José Américo disse que não viu a entrevista toda, mas vai pedir ao departamento jurídico do PT para analisar se é o caso de buscar alguma ação na Justiça contra o tucano. 

- É desagradável. Aécio mostra que não sabe perder. Não é só um problema político, ele está abalado psicologicamente. A derrota em Minas abalou Aécio porque, ao perder no seu estado, perdeu também a corrida dentro do próprio PSDB. Está em desvantagem na sociedade e no PSDB. E aí faz uma acusação irresponsável desse tipo. 

Na mesma entrevista, Aécio alertou para o risco de o Judiciário brasileiro ser politizado pelas indicações que a presidente Dilma fará para tribunais superiores. Ao longo do novo mandato, a petista indicará pelo menos seis dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Isso porque, até 2018, cinco dos atuais ocupantes das cadeiras completarão 70 anos, limite para a aposentadoria compulsória. A outra vaga foi aberta em julho, quando o ministro Joaquim Barbosa pediu aposentadoria. 

Atenção às indicações para tribunais 

A presidente Dilma também fará seis nomeações para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) nos próximos quatro anos. O STJ é composto de 33 ministros. Antes de tomar posse, o ministro escolhido precisa passar por sabatina no Senado. Aécio pediu atenção aos parlamentares. 

- É preciso que o Congresso esteja muito atento às novas indicações, seja para o STJ, seja para o STF. Não podemos permitir que haja qualquer tipo de alinhamento político do Judiciário brasileiro. A sociedade está mais atenta do que nunca para que as nossas instituições sejam preservadas - disse.

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Distribuição de ministérios opõe partidos da base

O Globo - 01/12/2014

PSD e PP travam disputa por secretaria da micro e pequena empresa; PMDB quer cidades

Simone Iglesias e Júnia Gama 
opais@oglobo.com.br 

BRASÍLIA - Não bastassem as críticas do PT e do PMDB às primeiras escolhas feitas para seu Ministério, a presidente Dilma Rousseff tem pela frente rodadas de conversas com os partidos que a apoiaram na campanha à reeleição para definir o espaço de cada um no segundo mandato. Há, no entanto, um congestionamento de pedidos e disputas que vem colocando uns contra os outros entre os partidos aliados. Há até ameaças de abandono da base governista. 

A principal batalha travada entre aliados hoje é pelo Ministério das Cidades. O PSD, de Gilberto Kassab, além de querer manter Afif Domingos na Secretaria da Micro e Pequena Empresa, tem certeza de que o ex-prefeito de São Paulo será escolhido por Dilma para a pasta ocupada hoje pelo PP, que por sua vez reage com fúria à certeza dos kassabistas: 

- Se ela tirar a gente de lá, saímos do governo - disse um dirigente do PP, no auge da irritação com os movimentos no tabuleiro ministerial. 

O partido parece ter desistido da ideia de transformar em ministro o senador Ciro Nogueira (PI). O PP cogita levar a Dilma dois nomes: o do atual ministro, Gilberto Occhi, e o do anterior, deputado Aguinaldo Ribeiro (PB), que saiu do cargo em abril para disputar nova vaga na Câmara. A maioria do partido acha que Dilma optará por Ribeiro e, com isso, quer que Occhi retome o cargo de vice-presidente da Caixa Econômica Federal. 

Além da guerra entre PSD e PP, o PMDB também sonha com as Cidades, especialmente se Dilma tirar dos peemedebistas a pasta de Minas e Energia. Dilma e o vice-presidente, Michel Temer, acertaram que o PMDB terá, a princípio, seis ministérios. Agricultura, com Kátia Abreu, e Aviação Civil, com Moreira Franco, são apontados como certos. As demais pastas, por enquanto, são apostas. Dilma gostaria de indicar Henrique Eduardo Alves para Previdência, mas os deputados o querem na Integração Nacional. Outro que pode ficar com a cadeira é Eliseu Padilha, num acerto entre a bancada e Temer. O vice trabalha para que Padilha seja ministro. 

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Processo de transição provoca reclamações de Governadores eleitos

O Globo - 01/12/2014

Equipes se queixam da falta de informações e das medidas de última hora

Juliana Castro 
juliana.azevedo@oglobo.com.br 

 

A eleição acabou há mais de um mês, mas a queda de braço entre os diferentes grupos políticos que disputaram o pleito continua em muitos estados. As equipes de transição, nomeadas pelos governadores eleitos em outubro, em unidades da federação como Minas Gerais, Maranhão e Amapá, se queixam que os atuais mandatários estão dificultando o acesso a informações, o que eles negam. No caso do Amapá, a disputa foi parar na Justiça. O atual governador, Camilo Capiberibe (PSB), perdeu no segundo turno para Waldez Góes (PDT). 

O coordenador da equipe de transição do governador eleito, Papaleo Paes, entrou com um pedido de liminar no Tribunal de Justiça do estado contra Capiberibe relatando as dificuldades nos trabalhos. Paes alega que, mesmo depois de Góes enviar a lista completa com os nomes de quem trabalharia na transição, Capiberibe só nomeou os coordenadores. O grupo do governador eleito reclama ainda que as informações sobre a gestão do estado requeridas no dia 31 de outubro não foram prestadas. 

Na decisão publicada dia 24, o desembargador Carlos Tork determina que o governo do Amapá forneça ao coordenador, até a próxima segunda-feira, uma senha do Sistema de Inteligência em Planejamento e Gestão, para acessar a movimentação financeira do estado. O desembargador manda Capiberibe nomear todos os membros da equipe de transição e não só os coordenadores. O governo do Amapá não deu retorno ao GLOBO. 

Aumento causa polêmica 

No Maranhão, as asperezas no processo de mudança de governo não chegaram à Justiça, mas os aliados do governador eleito, Flávio Dino (PCdoB), dizem que a governadora Roseana Sarney (PMDB) deixará o cargo antes, no dia 15 de dezembro, para não cruzar com Dino no dia da posse. A assessoria da peemedebista diz que não há informação oficial de que isso vá acontecer. 

- A gente só tem recebido as informações mais óbvias. Aquelas que não estão nos diários oficiais e na internet a gente não consegue receber. Roseana nunca sentou com Flávio Dino. Ela só fala em renunciar para não passar o governo - afirmou Marcelo Tavares, coordenador da equipe de transição do governador eleito e futuro secretário da Casa Civil. 

A assessoria do governo afirma que Flávio Dino não solicitou em nenhum momento audiência com Roseana, e que tem repassado as informações necessárias à equipe do governador eleito. Tavares reclamou que a equipe quer, por exemplo, a cópia dos contratos das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips) que atuam na área da Saúde e não consegue. O governo alega que "a equipe de transição do governador eleito não fez qualquer solicitação específica à Casa Civil", e que "é provável que tais contratos sejam com secretarias cujas informações ainda estamos levantando". 

- Causa estranheza esse tipo de comportamento (da equipe de Dino). Antes mesmo de formado o grupo de transição, a governadora teve o cuidado de chamar os secretários e pedir transparência - afirmou a Secretária da Casa Civil e coordenadora do governo no grupo de transição, Anna Graziella Neiva. 

Em Minas Gerais, o futuro líder do governo de Fernando Pimentel (PT) na Assembleia, o deputado estadual Durval Ângelo (PT), reclama de projetos enviados pelo atual governo, de Alberto Pinto (PP), à Casa. Um deles daria aumento geral para 400 mil servidores, retroativo a outubro. 

- Se aprovássemos todos os projetos, o Pimentel precisaria de um orçamento e meio - afirmou o petista. 

Uma lei de 2011 estabelece as diretrizes para a política remuneratória dos servidores determina a data-base em 1º outubro, mas, em 2014, por se tratar de um ano eleitoral, optou-se por conceder reajuste apenas no valor da inflação. A assessoria diz que o impacto geral da proposta é menor desde o início da vigência da lei. 

De acordo com Durval, o governo mineiro tem dificultado o acesso da equipe de transição a informações importantes, como as relativas às finanças das secretarias. Eles dizem que tudo o que está sendo fornecido consta nos sites. O governo de Minas respondeu que não há qualquer dificuldade de acesso a informações e que a última reunião temática ocorreu na quinta-feira, não sendo exposta por parte da equipe de transição qualquer reclamação. 

No Distrito Federal, as queixas são menos intensas, mas não inexistentes. 

- Não é nenhum processo totalmente fluente, transparente, mas também não é estagnado - afirmou Hélio Doyle, coordenador da equipe de transição do governador eleito, Rodrigo Rollemberg (PSB). 

O coordenador reclamou ainda que o governador Agnelo Queiroz (PT) indicou agora no fim do mandato o secretário de Transportes, José Walter Vazquez Filho, para a Agência de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa). Como o mandato é de cinco anos, ele ficaria ao longo de todo o mandato de Rollemberg. 

O governo do Distrito Federal informou ao GLOBO que "está atendendo com agilidade e transparência os pedidos de informação realizados pela equipe de transição do governador eleito". Sobre a Adasa, o governo respondeu que a indicação é uma prerrogativa de Agnelo, que tem mandato até 31 de dezembro.