Volto ao tema do desequilíbrio externo (todo colunista tem os seus temas obrigatórios e recorrentes). Os dados mais recentes mostram que o problema continua se agravando. Nos 12 meses até outubro de 2014, o balanço de pagamentos acusa déficit em conta-corrente de US$ 84,4 bilhões, equivalente a 3,7 % do PIB. Já é um nível preocupante.

O balanço de pagamentos em conta-corrente compreende o comércio exterior de bens, serviços (inclusive fretes, seguros, viagens), rendas (notadamente juros da dívida externa e remessa de lucros) e transferências unilaterais. O déficit corrente tem como contrapartida um aumento do passivo externo líquido do país, acarretando maiores pagamentos de juros e remessas de lucros no futuro. Indica também o montante líquido de capitais externos que o país precisa atrair para equilibrar o balanço de pagamentos como um todo e preservar as suas reservas internacionais. Em suma, é um indicador importante de vulnerabilidade externa.

Há não muito tempo, o Brasil era superavitário em conta-corrente. Isso aconteceu entre 2003 e 2007. Desde então, o país passou a registrar déficits gradualmente crescentes até superar a marca dos 3,5% do PIB em 2013. Aspecto a ser destacado: o déficit está aumentando num período em que a economia brasileira cresce a taxas muito modestas. Um déficit crescente em conta-corrente costuma aparecer em períodos de aumento do nível de atividade e de investimentos numa economia, o que tende a aquecer a demanda por importações. Não é o que se verifica no nosso caso.

Parte do problema vem de fora. Parceiros comerciais importantes enfrentam dificuldades e estão importando menos do Brasil. É o caso da Argentina e da União Europeia, por exemplo. Em 2014, as exportações brasileiras para esses destinos sofreram quedas acentuadas, reflexo da contração ou desaceleração da atividade econômica nesses parceiros comerciais. Além disso, com a queda dos preços de muitas commodities exportadas pelo Brasil, os nossos termos de troca vêm caindo continuamente desde 2012.

Mas a raiz do desequilíbrio externo é a taxa de câmbio. A desvalorização recente do real está longe de corrigir um problema que se acumula desde a década de 1990. Um governo atrás do outro vem se valendo da apreciação da moeda para ajudar no controle da inflação.

O preço que se paga é a erosão da competitividade internacional da economia. O Brasil fica muito caro em moeda estrangeira. As exportações perdem condições de penetrar mercados externos. E a produção nacional não consegue competir com importações baratas. Resultado: a economia cresce pouco, investe pouco e acumula desequilíbrio crescente nas suas contas internacionais.

Estamos colhendo os frutos de um longo período de sobrevalorização cambial.

Paulo Nogueira Batista Jr. é economista e diretor executivo pelo Brasil e mais dez países no Fundo Monetário Internacional, mas expressa os seus pontos de vista em caráter pessoal