BRASÍLIA - Em seu primeiro discurso depois do pronunciamento da vitória na eleição presidencial, Dilma Rousseff disse ontem que é preciso "saber ganhar e saber perder". Em meio a questionamentos do resultados das eleições e manifestações pedindo impeachment, a presidente disse que é hora de "desmontar palanques" e, a exemplo do que falou na noite da reeleição, pregou o diálogo. Dilma disse que embora o Congresso seja o espaço "privilegiado" de diálogo, também haverá conversas com outros setores da sociedade.

- Desmontar os palanques significa perceber que na democracia, no processo eleitoral, se disputam visões e propostas as mais diferentes. E essas visões e propostas são levadas ao escrutínio popular. O povo vai decidir o que ele considera que seja a proposta que vai ganhar majoritariamente apoio e aquela que não ganhará. Isso significa ter consciência do que a democracia é. Há que se saber ganhar, como há que se saber perder. As duas exigem uma atitude. A atitude do ganhador não pode ser nem de soberba, nem de pretensão de ser o último grito em matéria de visão política - discursou.

A declaração foi feita em cerimônia no Palácio do Planalto, na qual Dilma recebeu a cúpula do PSD, de Gilberto Kassab, que foi cumprimentá-la pela vitória. Em seu discurso, Dilma voltou a se comprometer a realizar a reforma política, a reforma tributária, uma nova política de segurança pública e combater à corrupção.

PSD terá protagonismo

Ao lado da cúpula do PSD, Dilma elogiou a lealdade do partido, que foi o primeiro a anunciar apoio à reeleição da petista no ano passado, antes mesmo de o PT declarar oficialmente sua candidatura.

- Conto com o PSD para efetivar de fato uma reforma política. Nós estaremos aquém da sociedade, de toda a representação que cada um de nós consegue materializar. Falharíamos se não fizéssemos uma reforma política. É óbvio que ela passa pelo Congresso, mas não podemos descuidar dos interesses populares expressos durante toda a campanha - afirmou a presidente.

Embora ainda não tenha anunciado os integrantes de sua equipe para o segundo mandato, Dilma sinalizou que, por conta da fidelidade do PSD, o partido terá uma participação importante em seu governo.

- O PSD é um integrante do meu governo, faz parte da minha base e, portanto, protagonista. Significa não só apoio passivo. Protagonista significa agente ativo - disse.

Antes de seguir para seu gabinete, a presidente disse que fará a reforma ministerial "por partes". A intenção de Dilma é tomar posse no dia 1º de janeiro, para seu segundo mandato, com a equipe nova.

Após a reunião com Dilma, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, deixou claro que o partido quer ampliar sua participação na Esplanada dos Ministérios. Atualmente, o PSD comanda a Secretaria da Micro e Pequena Empresa, mas diz que o ministro Guilherme Afif Domingos é da cota pessoal da presidente. Segundo Kassab, o partido não indicará nomes, nem mesmo o de Henrique Meirelles, cogitado para o Ministério da Fazenda.

- Quem comanda o governo é a presidente, portanto, cabe a ela definir quem será sua equipe e de quais partidos. O PSD deixou claro, desde o primeiro momento, que não iria participar de seu primeiro mandato, até porque não participamos da sua eleição. Cumprimos o nosso compromisso com a nação brasileira, para mostrar que o PSD nascia não para ser governo, mas para ser partido. Encerrado o seu primeiro governo, participamos da sua campanha de reeleição e daí vamos governar juntos, sob o comando da presidente. Portanto, vamos aguardar que ela defina a composição do seu governo - afirmou.

Cenário difícil no Senado

Apesar de vários diretórios estaduais do partido não terem apoiado a reeleição da presidente, Kassab garantiu que a bancada federal do PSD fará parte da base do governo:

- Estará junto com o governo participando da discussão dos projetos e do seu encaminhamento, sabendo convergir, sabendo divergir, mas sabendo antes de mais nada estar ao lado do governo da presidente Dilma.

No encontro que teve com Dilma na terça-feira, o ex-presidente Lula mostrou preocupação com a relação do governo com sua base no Congresso e com o fortalecimento da oposição no Senado. Apesar de a correlação de forças não ter se alterado, Lula prevê um cenário mais difícil no Senado com a eleição de nomes como José Serra (PSDB-SP) e Tasso Jereissati (PSDB-CE).

- A oposição vai estar mais qualificada no Senado. O lado ruim é que o debate político será mais difícil, mas, por outro lado, as negociações serão de mais alto nível - disse uma liderança do PT.