Em seu primeiro discurso no Senado após a eleição, o candidato derrotado do PSDB, Aécio Neves, disse que três compromissos fundamentais vão orientar a luta da oposição: a proteção intransigente das liberdades, especialmente a de imprensa; o compromisso com a transparência na administração pública; e a defesa da democracia. No longo pronunciamento para um plenário e galerias repletos de lideranças políticas e simpatizantes, o tucano condicionou o diálogo com o governo da presidente Dilma a propostas claras, via Congresso, e à rigorosa apuração do escândalo de corrupção na Petrobras, que ele chamou de "o maior do país".

- Os que foram intolerantes por 12 anos agora falam de diálogo. Mas qualquer diálogo será condicionado especialmente ao aprofundamento das investigações e exemplares punições daqueles que protagonizaram o maior escândalo de corrupção do país, conhecido como petrolão - disse Aécio, que foi aplaudido pelos senadores que estavam no plenário.

O tucano aproveitou para criticar duramente a campanha do PT. Tanto à tarde, no plenário, quanto pela manhã, em um ato político que reuniu governadores e parlamentares eleitos e derrotados, além de presidentes dos partidos da oposição, Aécio disse que as mentiras, o uso irresponsável de empresas públicas como os Correios, e o terrorismo feito aos eleitores, cravaram uma "nódoa definitiva" na vitória da presidente Dilma.

- Disseram que iam fazer o diabo nessas eleições e pelo menos nisso cumpriram o que prometeram. Mas acho que o diabo se envergonharia de muitas coisas que fizeram nessas eleições. Foi uma campanha da infâmia, da mentira e do uso sem limites da máquina pública - disse Aécio pela manhã.

Críticas às medidas pós-eleição

No discurso do plenário, o tucano voltou a criticar o que considerou uma campanha de "mentiras e infâmias" por parte de seus adversários. Destacou que, logo após as eleições, não demorou muito para que a máscara da presidente caísse e ela começasse a tomar as medidas que dizia que ele tomaria se fosse eleito.

- Na campanha, eles diziam que elevar os juros era tirar comida do prato dos pobres. Pois bem, foi o que ela fez logo que se elegeu. O governo escondeu o rombo das contas públicas o quanto pode, escondeu reiteradamente que havia necessidade de ajustes e agora antecipa que eles serão duríssimos no ano que vem, em um país que já não cresce. A candidata oficial também negou reajuste de tarifas públicas, e ela já está fazendo aquilo que disse que não faria. Na próxima semana já teremos aumento da gasolina e também de energia. E os jornais já estampam hoje o risco real de apagão elétrico. Quem falou a verdade foi tachado de pessimista, de ser contra o Brasil. Mas a história rapidamente mostrou o contrário - disse Aécio.

O senador também criticou o documento publicado pela Executiva do PT esta semana que, segundo ele, propõe um "projeto de poder hegemônico", contrariando preceitos democráticos.

- Dizem que a minha candidatura representou o machismo, o racismo, o preconceito, a intolerância, a nostalgia da ditadura militar. Esses atributos que jogam sobre mim eles jogam sobre 51 milhões de homens e mulheres que são atacados pelo PT nesse instante. Nossa campanha respeitou os limites da ética e defendeu a democracia em todos os instantes. Nós não somos isso que querem fazer crer - completou.

Ele ainda disse que não irá questionar o resultado das eleições:

- Reconhecemos o resultado das eleições. Sou um democrata. E aqui não se trata mais de contar votos, de fazer comparações ou de medir desempenhos apenas do ponto de vista eleitoral. Mais importante que tudo isso é saudar um novo Brasil que surgiu das urnas, e é esse o fato mais marcante, extraordinário e maravilhoso dessas eleições, que a história haverá de registrar

No ato da manhã, lideranças dos partidos oposicionistas reforçaram o discurso de Aécio de rejeitar tentativa do PT de vincular à oposição iniciativas em defesa do impeachment da presidente Dilma ou de intervenção militar. Apesar da ausência das estrelas paulistas do partido - como o governador Geraldo Alckmin, o senador Aloysio Nunes e o senador eleito José Serra -, o evento contou com a presença de dezenas de parlamentares da oposição e de governadores tucanos eleitos.

No mesmo tom dos que o antecederam ao microfone, Aécio disse que, como líder dessa nova oposição, não permitirá que tome corpo a "ação draconiana e macabra" de dividir o Brasil entre "nós e eles". E conclamou a todos para "manter acesa" a chama dos 51 milhões de brasileiros que rejeitaram o governo petista. O tucano disse ainda que fará "a mais vigorosa oposição" nos próximos anos.

- Vou recorrer a uma frase de Tancredo: "voto você nunca tem, voto você teve". Temos que trabalhar muito para manter a mesma chama que motivou os brasileiros a se levantarem naquele domingo para ir as urnas tentar mudar o Brasil - disse Aécio.

Indagado sobre declaração de Dilma de que era hora de "desmontar os palanques", Aécio respondeu com uma provocação:

- Já reconheci a vitória dela quando liguei. Agora, está na hora de ela voltar a governar o Brasil.

A Aécio e aliados, senador do PT lembra que foi Dilma quem venceu as eleições

​BRASÍLIA — Em duas horas na tribuna do Senado, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) ouviu apartes de senadores da oposição e da base governista com elogios a sua conduta na campanha e como novo líder da oposição que emergiu do voto de 51 milhões de brasileiros. Presidente do Senado e um dos mais fiéis aliados do governo, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) disse que o tucano fizera uma campanha “brilhante, marcante, histórica e patriótica”.

Coube ao líder do PT, Humberto Costa (PE), a tarefa de contraditar o tucano. Foi o único a ocupar o microfone em tom crítico. Repetindo discurso da presidente Dilma Rousseff, disse que é preciso “desmontar os palanques” e que Dilma também foi vítima de “agressões violentíssimas” não apenas na campanha, mas durante os quatro anos de governo.

— No Brasil, talvez apenas Getúlio Vargas e João Goulart tenham sido submetidos ao cerco a que essa mulher foi submetida ao longo desses quatro anos. Pela oposição, que é seu papel; pela mídia, a quem não caberia fazer, e também por muitos outros — afirmou.

Ao ressaltar a vitória de Dilma, o líder do PT acabou sendo vaiado pelos aliados de Aécio que tomavam conta do plenário e das galerias:


— Essa mulher, que é uma guerreira, que tem um coração valente, ganhou essa eleição. E aí nós temos que dizer: não existem dois resultados. Existe um resultado. Vossa excelência foi guerreiro, foi forte, teve uma grande votação, mas a vencedora é a presidenta Dilma Rousseff. Ela precisa... — dizia o líder, sendo interrompido por uma pesada vaia:

— É fácil discursar quando a galera está ao lado, mas eu estou aqui para trazer a verdade, a minha verdade, e não temo ser vaiado — desafiou Costa.

Acalmando a plateia, Aécio disse que ouvia o líder petista com atenção, como sempre.

— Vossa excelência é um gentleman, nós reconhecemos, e é por isso que estou aparteando —agradeceu Costa.

Outro petista, o senador Eduardo Suplicy (SP) também aparteou Aécio, mas para se colocar como um interlocutor num possível diálogo com a presidente Dilma e o governo. E elogiou o tucano.

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— Podemos discordar, em alguns momentos, da sua fala, mas muitos dos seus objetivos são comuns a nós: a defesa da transparência, da liberdade, da democracia, o combate à corrupção — disse Suplicy.

JUCÁ APOIOU AÉCIO

Ex-líder do governo Dilma no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) admitiu ter trabalhado para dar a Aécio vitória nos dois turnos em seu estado.

— Vossa excelência não ganhou a eleição, mas está ajudando a mudar o Brasil — elogiou Jucá.