Para se firmar como o principal nome da oposição ao governo Dilma Rousseff, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) fez nesta quarta-feira, 5, o seu primeiro discurso na tribuna do Senado com duras críticas à presidente.

Derrotado nas eleições de outubro, o tucano condicionou o estabelecimento de um diálogo com a petista à investigação das denúncias de corrupção que atingem a Petrobrás.

“Qualquer diálogo tem que estar condicionado ao aprofundamento das investigações e exemplares punições daqueles que protagonizaram o maior escândalo de corrupção do País conhecido como ‘petrolão’”, afirmou.

O escândalo de desvio de recursos na estatal investigado pela Polícia Federal teria envolvido, segundo relatos dos delatores do esquema, além do PT, partidos da base aliada do governo, como o PP e PMDB. Partidos que estão na oposição também foram citados, entre eles o próprio PSDB.

Em pronunciamento que durou cerca de meia hora, Aécio afirmou que os governos do PT foram “intolerantes” durante os últimos 12 anos e que cabe à presidente estabelecer canais de conversa com a oposição. “Os gestos hoje estão nas mãos da presidente Dilma, mas a prática deste governo até aqui nunca foi a mão estendida.”

O senador argumentou também que o diálogo terá de ser feito com base em propostas para “fazer o enfrentamento das desigualdades que ainda nos envergonham”. Entre as medidas, defendeu que o Bolsa Família seja transformado em política de Estado e não seja mais usado como uma bandeira do PT.

Ele defendeu também uma melhor relação do governo com os Estados e municípios na divisão de impostos e tributos recebidos pela União. “O Brasil exige, e nós cobraremos, respeito à lógica federativa”, disse.

Aécio afirmou ainda que o governo precisa expor qual é o seu projeto de reforma política para que o Congresso possa debater o assunto. Ao contrário da presidente que defende um plebiscito sobre a questão, Aécio apontou como caminho realizar um referendo. “É hora de conhecer as bases da reforma política que o governo defende, até agora omitida, porque deverá ser debatida e aprovada por este Congresso, legitimamente eleito, e depois sim, ser submetido através do referendo ao crivo da sociedade brasileira.”

Aparte. Coube ao líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), rebater as críticas do tucano. Ao pedir um aparte, afirmou em plenário que estava na hora “desmontar os palanques” e que o governo quer o “bom combate, o combate das ideias” e está aberto ao diálogo com a oposição. Ao Estado, Costa rebateu que o tucano parece estar com “dificuldade de aceitar a derrota”. O petista também argumentou que a condição imposta pelo tucano para que haja diálogo entre a oposição e o governo já está em andamento, uma vez que as denúncias de desvios na Petrobrás estão sendo investigadas.

Costa recordou que o PSDB também foi apontado como beneficiado do esquema de desvio de recursos da estatal, coordenado pelo doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa. Em depoimento à Polícia Federal, o ex-diretor afirmou ter pagado R$ 10 milhões ao ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, morto no início deste ano. “É importante que se apurem todas a denúncias, inclusive as que envolvem a oposição”, disse.

Costa ainda comparou a oposição manifesta nas redes sociais contra Dilma como a pressão sofrida pelos ex-presidentes Getúlio Vargas, que se suicidou para evitar um golpe militar, e João Goulart, deposto em 1964. 

 

Tucano faz críticas à resolução divulgada pelo PT

 

O senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), rebateu nessa quarta-feira, 5, na tribuna do Senado a resolução política aprovada na segunda-feira pela cúpula do PT. O texto, uma espécie de guia para a militância, defende a regulação dos meios de comunicação, a política de ampliação dos conselhos populares e o plebiscito para promover a reforma política, além de pregar a "construção da hegemonia na sociedade".

"Nós estamos atentos aos nossos adversários que, poucos dias depois das eleições, divulgam um documento oficial ao País que mostra a sua verdadeira face: a da intolerância, a da supressão das liberdades, a dos ataques às instituições. Mais que isso, nossos adversários de novo não se constrangem em propor um projeto que se pretende hegemônico, o oposto daquilo que a democracia pressupõe: liberdade de escolha, alternância de poder", disse Aécio.

A resolução do PT reafirma o compromisso de criar uma "Lei da Mídia Democrática", tradicional bandeira do partido. Sem entrar em detalhes, o texto defende que é preciso acabar com o "oligopólio da mídia".

O tucano afirmou que, como fez a Câmara dois dias após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, o Senado vai derrubar o decreto que amplia os conselhos populares. A resolução petista defende a continuidade da "participação social na definição das políticas públicas" e medidas por parte do governo para reverter a "derrubada da Política Nacional de Participação Social".

Antes de subir na tribuna, Aécio classificou o decreto como "bolivariano". Questionado pelo Estado se concordava com esse termo, desconversou e disse que o havia empregado somente porque ouvira de seus correligionários, em ato pela manhã em um auditório da Câmara com outros partidos de oposição ao governo.

Referendo. Ao falar da proposta de plebiscito para convocação de uma Constituinte exclusiva para a reforma política, defendida pela resolução do PT, Aécio afirmou que o governo precisa expor qual é o seu projeto para que o Congresso possa debater o assunto. Mas o tucano já adiantou preferir a realização de um referendo. Por esse modelo, os parlamentares votam propostas para depois submeterem suas decisões aos eleitores.

"É hora de conhecer as bases da reforma política que o governo defende, até agora omitida, porque deverá ser debatida e aprovada por este Congresso, legitimamente eleito, e depois sim, ser submetido através do referendo ao crivo da sociedade brasileira", afirmou.

Citado pela resolução do PT, Aécio contra-atacou: "Dizem no documento que a minha candidatura representou o machismo, o racismo, o preconceito, o ódio, a intolerância, a nostalgia da ditadura militar. Não, senhoras e senhores! Esses atributos que jogam sobre mim, na verdade, eles os jogam sobre 51 milhões de homens e mulheres; eles é que são verdadeiramente atacados pelo PT nesse instante em um documento oficial".