Na primeira vez em que apareceu no Senado após ser derrotado nas eleições presidenciais, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi recepcionado por aproximadamente 300 servidores e militantes que gritaram “Aécio presidente”, “Fora PT” e cantaram parte do Hino Nacional ao lado do tucano. Sentindo-se revigorado após a expressiva votação que recebeu em 26 de outubro, Aécio afirmou que o governo, a partir de agora, quando olhar para a oposição, não deve ver apenas as cadeiras ocupadas por deputados e senadores. “Ele precisa ver mais de 51 milhões de brasileiros que desejam mudanças. Somos hoje um grande exército a favor do Brasil”, completou.

Embora empolgado com a recepção — ele diz não se lembrar de um candidato derrotado ao Planalto que tenha sido recebido com tanto carinho —, Aécio repudiou pedidos feitos por alguns manifestantes no último fim de semana pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff e, acima de tudo, a defesa da volta dos militares ao poder. “Aqueles que agem de forma autoritária e truculenta estão no outro campo político, não no nosso. Fui o candidato das liberdades, da democracia, do respeito, o primeiro candidato viável da geração pós-64”, reforçou.

O tucano foi enfático, contudo, nas críticas ao governo. “Farei oposição sem adjetivos, de forma dura, questionando o governo que está aí.” Aécio — que fará hoje no Auditório Nereu Ramos um grande ato conclamando as demais legendas de oposição a exercer o papel de fiscais do governo — queixou-se uma vez mais de ter sido vítima da mais sórdida campanha eleitoral da história brasileira. “Esse governo utilizou como pôde e como não pôde a máquina pública, como os Correios, e ajudou a espalhar o terrorismo eleitoral junto aos beneficiários dos programas sociais. Agiu assim primeiro com Eduardo (Campos), depois com Marina e, por fim, comigo.”

O tucano mineiro parafraseou a companheira de segundo turno, Marina Silva (PSB), que sempre afirmou existir aqueles que “vencem perdendo e aqueles que perdem ganhando”. “O gigante acordou. O Brasil não concorda mais com os malfeitos. Seremos um exército vigilante para cobrar o atual governo. Foram 51 milhões de eleitores. Esse número vai aumentar. As pessoas achavam que o fim das eleições iriam desmobilizar o eleitorado. Não é o que vimos ao longo dos últimos dias”, reforçou.

Questionamento
O senador do PSDB disse considerar natural a representação do partido junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo informações sobre a remessa de dados dos resultados das eleições. Mas declarou que isso não significa qualquer questionamento quanto ao resultado da disputa. “Eu fui o primeiro a ligar para a presidente para parabenizá-la pela vitória e desejar êxito no trabalho de unir novamente o país”, completou.

Aécio disse que, se o governo está de fato disposto ao diálogo, terá de apresentar propostas. “Não sabemos qual é a proposta deles para a reforma política. Precisamos melhorar nossos indicadores econômicos e sociais. Mas sem maquiagens contábeis ou escondendo a divulgação de dados oficiais”, criticou.

“Ê, Aécio, o povo não te elegeu”, lamentou uma assistente parlamentar enquanto esperava a chegada do tucano. “A maior desilusão da minha vida foi a reeleição da Dilma”, comenta a mulher, de 53 anos, que atua com um senador governista. Maria de Jesus, copeira no gabinete do mineiro, também fez questão de receber o parlamentar. “Não vim obrigada, vim para prestigiá-lo”, ressalta. “A campanha foi acirrada, e ele fez benfeito, fez bonito. Espero que ele tente de novo daqui a quatro anos”, torce a funcionária.

Líder
Interlocutores do senador mineiro afirmaram que o movimento de ontem e o de hoje, no qual discursará para uma plateia formada por legendas de oposição que o apoiaram, são importantes para que Aécio marque posição como principal nome da oposição no país. “É o grande líder. Ele saiu consagrado dessa eleição, maior do que entrou. Não obteve a vitória por um pequeno detalhe, mas boa parte da votação, além do apoio da oposição e da vontade de mudança do povo, se pode creditar ao seu desempenho pessoal, à forma como ele endereçou a sua mensagem”, comenta o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE). O deputado federal ressalta ainda que Aécio precisa cuidar do legado eleitoral. “Ele tem de cultivar esse patrimônio com muita atenção, porque isso vai ser extremamente importante para o futuro.”

Integrantes da campanha ouvidos pelo Correio lembram que, há dois meses, as chances de um evento com as proporções verificadas ontem eram impensadas. E que essa gangorra oscilou durante toda a campanha — em um momento, a derrota era certa, em outro, a vitória iminente. No fim das contas, a derrota apertada, por apenas 3,2 milhões de votos, deixou nos apoiadores de Aécio a sensação de que campanha “deu liga”. “O PSDB está unido em torno do Aécio”, resumiu um oposicionista que trabalhou nos bastidores das eleições presidenciais de 2002 e 2010