O avanço da inadimplência afetou o resultado do Banco do Brasil (BB). Segundo o balanço do terceiro trimestre, o lucro no período, de R$ 2,78 bilhões, foi 1,7% menor que o período de abril a junho. Comparado ao terceiro trimestre de 2013, houve alta de 2,8%. Se forem excluídos efeitos não recorrentes, o saldo de julho a setembro é de R$ 2,88 bilhões. O índice das operações vencidas há mais de 90 dias subiu de 1,97% no terceiro trimestre do ano passado para 2,09% em igual período de 2014. A provisão para perdas com crédito subiu 16,9% na comparação anual.

Os bancos privados brasileiros não tiveram esse problema. O Safra, que publica hoje o balanço, viu a inadimplência superior a 90 dias recuar. Ela atingiu 0,99% no terceiro trimestre, ante 1,7% do mesmo período de 2013. O lucro, de R$ 1,16 bilhão, foi 29,4% superior ao do mesmo período no ano passado. No caso do Bradesco, que divulgou resultados semana passada, o lucro do terceiro trimestre foi de R$ 3,87 bilhões, alta de 28,2% na mesma base de comparação.

Ao comentar o resultado, o vice-presidente de finanças do BB, Ivan Monteiro, afirmou que a piora nos índices de calote “não configura tendência” e a situação deve melhorar nos próximos meses. O mercado, porém, recebeu mal os números. A expectativa média para o lucro não recorrente era R$ 130 milhões superior ao registrado. Mas a grande decepção foi mesmo a inadimplência. A ação ordinária (ON) do banco, com direito a voto, despencou 7,44% ontem.

Segundo o especialista em sistema financeiro José Luiz Rodrigues, as carteiras de crédito não têm ajudado os bancos. “Está ganhando muito quem conta com resultados de tesouraria, emprestando ao governo”, explicou. O analista Carlos Coradi chamou a atenção para o fato de que o BB “vem sendo usado pelo governo como instituição de fomento ao crédito”.

Fomento
Segundo o economista Tiago Souza, analistas da XP Investimentos, a intenção do controlador de reduzir o custo do crédito para clientes tem sido vista com restrições pelo mercado desde 2012, quando começaram programas do BB nessa direção. “Apesar das críticas, não se observava avanço da inadimplência. Mas parece que estamos observando agora a maturação do problema”, alertou.

A carteira de crédito ampliada do banco estava em R$ 732,72 bilhões no fim de setembro, um aumento de 12,3% em 12 meses. “Esse avanço está abaixo das expectativas, que indicava alta de 14% a 18%”. Para Souza, o BB enfrenta cenário difícil “no ambiente desafiador de baixo crescimento econômico”. A rentabilidade sobre o patrimônio líquido médio do banco foi de 15,5% no terceiro trimestre, queda tanto em relação ao período anterior, quando o índice foi de 16,1%, quanto em comparação com os 16,3% de mesmo período de 2013.