Título: Imagens revelam falhas em barco
Autor: Alves, Renato ; Trindade, Naira
Fonte: Correio Braziliense, 27/05/2011, Cidades, p. 19

O Imagination carregava 20% a mais da sua capacidade na noite de domingo, quando naufragou. O barco tinha autorização da Marinha para transportar no máximo 92 pessoas. Mas pelo menos 110 estavam a bordo durante a fatídica festa realizada por um bufê, segundo o delegado Adval Cardoso, responsável pelas investigações. Contrariando a legislação náutica, havia também um deficit de coletes salva-vidas. Nove vítimas perderam a vida no acidente.

Para piorar, a maior parte do equipamento de segurança estava amarrada à estrutura da embarcação, conforme vídeo realizado por peritos mergulhadores no fundo do Lago Paranoá, onde está o Imagination. Ele seria içado ontem, mas os bombeiros suspenderam a operação por falha em um dos balões que fariam o barco flutuar. Cardoso, chefe da 10ª Delegacia de Polícia, no Paranoá, diz ser fundamental a retirada da embarcação para a conclusão da perícia e do inquérito.

Para levantar a prova da superlotação do veículo, os investigadores do caso fizeram uma lista de passageiros e de tripulantes a partir dos depoimentos dos 59 sobreviventes ouvidos na unidade policial até a noite de ontem. Os investigadores perguntaram a todos com quem foram ao passeio. Cruzando os nomes, chegaram a 110. Muitos confirmaram haver pessoas que pagaram para participar do evento após o fechamento do grupo que consta da lista oficial. Ela teria caído no lago. Assim, aumenta a quantidade prevista de sobreviventes, que era de 93. A partir do novo cálculo, o número chega a 101.

Cardoso acredita que parte dos presentes no naufrágio não constava na lista de convidados e, por isso, têm medo de ir à delegacia. Ele considera fundamental os depoimentos dessas pessoas. ¿Ninguém melhor que os sobreviventes para relatar e oficializar o que aconteceu, como o barco pendeu. As provas testemunhais serão somadas às provas técnicas (da perícia)¿, explicou.

O comandante da embarcação, Airton Carvalho da Silva Maciel, 28 anos, afirmou, em depoimento na 10ª DP, que havia 110 coletes no Imagination na noite da tragédia. No entanto, mesmo que ele tenha dito a verdade, o número era insuficiente, de acordo com as normas de navegação. Pela lei, são obrigatórios 10% de coletes a mais. Portanto, se havia 110 pessoas, deveriam ter 121 equipamentos.

Apesar da certeza de superlotação e dos indícios da falta de manutenção, falhas dos operadores da embarcação e negligência no esquema de segurança, o chefe da 10ª DP afirmou que não indiciará ninguém de imediato, porque prefere esperar os laudos da perícia. Mas Cardoso adiantou que vai prorrogar o inquérito por mais 30 dias, pois as perícias não terão resultado até o prazo inicial ¿ 30 dias após a abertura do processo criminal ¿, que termina em 23 de junho.

Provas Vídeo feito por peritos da Polícia Civil e divulgado ontem mostra o Imagination no fundo do Lago Paranoá. As informações mais importantes nessas imagens dizem respeito à capacidade da embarcação naufragada e à grande quantidade de coletes salva-vidas presos à estrutura dele. Apesar da escuridão no fundo do lago ¿ o barco está a 18m de profundidade e a visibilidade não chega a 1m ¿, é possível ver documentos e uma placa de identificação que detalha a capacidade de passageiros: 60 no convés principal e 30 no superior, além de dois tripulantes. Na imagens, gravadas e editadas pelos peritos, aparecem ainda uma agenda e uma garrafa de vodca.

A festa entre amigos de trabalho não durou uma hora e meia na noite fria de domingo. Programada para começar às 19h30 e terminar às 23h30, foi interrompida por volta das 20h50, a 500m da margem do Lago Paranoá, em frente à Associação dos Servidores da Câmara dos Deputados (Ascade), onde o Imagination começou a afundar. A água tomou conta da embarcação em três minutos, segundo os sobreviventes. Em 30 minutos, ela estava no fundo do lago.

O barco partiu do píer do Edifício Ícone, ao lado do Clube Cota Mil, no Setor de Clubes Sul. Segundo o delegado Rogério Leite, da Polícia Fluvial de Brasília, mergulhadores encontraram uma rachadura em uma estrutura na parte de baixo do barco que auxilia na flutuação. Na segunda-feira, em depoimento à polícia, o piloto disse que a embarcação estava inclinada para a esquerda quando deixou o cais. Ele afirmou que pediu aos passageiros para irem para o outro lado, ¿para compensar¿ a inclinação.